quarta-feira, setembro 28, 2022

58% não querem continuar a trabalhar no turismo

 

Tem sido um dos sectores a puxar pela recuperação económica do país no pós-pandemia, mas as bases do turismo são frágeis no que toca à capacidade de atrair e reter profissionais. Nos últimos meses, enquanto aumentava a procura de Portugal como destino turístico de eleição, cresciam também as queixas dos empresários sobre a incapacidade de contratar trabalhadores para o sector, mesmo com aumentos salariais. Mas a dimensão do problema é mais ampla. Um estudo da empresa de trabalho temporário Eurofirms, a que o Expresso teve acesso, destaca que não só é difícil contratar para o ramo da hotelaria e restauração como a maioria dos ­atuais trabalhadores (58%) quer abandonar a área dentro de cinco anos.

O retrato do sector ajuda a explicar as dificuldades que tem atravessado no que à contratação e retenção de profissionais diz respeito. O turismo é conhecido pelos seus horários difíceis, salá­rios baixos e vínculos precários, mas o panorama ganha perspetiva quando se quantificam estes universos. O mesmo estudo da Eurofirms, feito em maio deste ano junto de mais de 500 profissionais colocados no sector, mostra que, embora a qualificação tenha vindo a aumentar, 61% mantêm vínculos precários, 41,8% incapacidade de conciliar a atividade com a vida familiar devido aos horários praticados e mais de metade (54%) leva para casa um salário até €800 brutos mensais.

São estes números que fazem com que 58% dos profissionais admitam que “não se imaginam a trabalhar no sector daqui a cinco anos”, sinaliza o estudo, que acrescenta ainda um outro dado relevante: 54% dos trabalhadores chegam ao sector por necessidade e 28% por casualidade. Os que escolhem a profissão por vocação representam apenas 11%.

FUGA DE PROFISSIONAIS

Este cenário, reconhece a Eurofirms, coloca desafios de fundo, que não passam apenas pela valorização sala­rial e pelo combate à precariedade. A pandemia acentuou a degradação das condições de trabalho no sector.

“A mobilidade de profissionais de hotelaria rumo a outros sectores é uma realidade, bem como a crescente dificuldade em atrair novos talentos”, lê-se no relatório. Inverter esta tendência, defende a Eurofirms, exige que as empresas ponham em prática estratégias para atrair e reter os trabalhadores. Um desafio que se torna ainda mais determinante quando 79% dos profissionais ouvidos neste inquérito afirmam que as condições de trabalho “são claramente piores em Portugal” do que noutros países e 78,6% consideram que a pandemia deteriorou ainda mais as condições laborais na área.

“As condiçes que mais pesam de forma negativa so os horários, o salário e a precariedade laboral, por esta ordem. No entanto, com perspetivas de melhoria, o salário destaca-se como principal prioridade”, destaca o estudo. Mas para inverter a fuga de profissionais da hotelaria e restauração para outros ramos é preciso mais do que aumentar salários.

Uma aposta sólida na formação dos jovens, adequada às necessidades das empresas, permitirá “melhorar a formaço dos jovens e irá aumentar a quantidade de candidatos”, defende a Eurofirms. Depois, acrescenta, é preciso explicar aos profissionais “as vantagens do sector e como podem evoluir”, melhorar os turnos e a flexibilidade laboral, gerando “postos de trabalho com horários mais compatíveis com a conciliaço familiar”, e “incluir planos formativos na remuneraço dos trabalhadores”, para que possam atualizar competências e evoluir. Sem isto, segundo o estudo, será difícil inverter a fuga dos profissionais do turismo.

NÚMEROS

61% dos profissionais do sector da hotelaria têm vínculos temporários

54% dos trabalhadores ganham até €800 brutos mensais

79% dos profissionais defendem que as condições de trabalho neste sector são “claramente piores em Portugal” face a outros países (Expresso, texto da jornalista Cátia Mateus)

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