Tanto a Lufthansa como a Air France/KLM têm prós e contras. O grupo liderado pelos franco-holandeses tem ganho adeptos dentro do Governo e da TAP, porque, além de os respetivos Estados manterem uma participação no capital, a sua lógica de concentração tem sido manter as empresas autónomas — havendo quem acredite que na tensão que por vezes existe entre a gestão da Air France e da KLM a companhia portuguesa pudesse funcionar como árbitro. Também é verdade que a TAP seria o elo mais frágil desta aliança, que tem como acionista minoritário a norte-americana Delta, que no último verão fez uma grande aposta no mercado português. Já a Lufthansa, que o Expresso sabe que não faz questão de ter alguém na gestão executiva se vier a tornar-se acionista da TAP, tem como política transformar as suas parceiras em subsidiárias, que usa para alimentar os seus dois hubs, em Berlim e Frankfurt. A única que escapou a esta lógica foi a Swiss. A companhia alemã é olhada com alguma reserva pelos sindicatos mais ligados à manutenção, uma vez que o grupo Lufthansa é muito forte nesta área e tende a desinvestir no segmento, concentrando a atividade na Alemanha. A seu favor, a Lufthansa tem o facto de o investimento histórico germânico em Portugal ser considerado gerador de riqueza para o país.
AIR FRANCE E LUFTHANSA ALTERNAM FAVORITISMO
O favoritismo dentro do Governo vai saltitando entre a Lufthansa e a Air France/KLM, mas não será apenas o Executivo de Costa a escolher — as circunstâncias e a vontade dos candidatos pesam bastante. E há um dado novo na equação: a privatização da ITA, a antiga Alitalia. Se até há algumas semanas era a Lufthansa que parecia estar à frente nas negociações, as últimas notícias dão conta de que é a Air France quem irá ser o novo acionista da companhia italiana. E, se assim for, será mais difícil à companhia francesa lançar-se sobre a TAP.
As conversas entre o Governo, os seus assessores financeiros e as companhias candidatas têm decorrido nos últimos meses com alguma regularidade e muita discrição. A decisão está longe de estar tomada, mas o Expresso sabe que todos os cenários, virtudes e ameaças das potenciais parcerias estão a ser estudados e equacionados pelo gabinete do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos. Inegociável é a manutenção do hub da TAP em Lisboa.
Muita água vai correr ainda por baixo da ponte, mas parece ser evidente que a concentração e a racionalização da rede são um foco dominante na estratégia das companhias aéreas neste período pós-covid. E a concorrência será feroz, inclusive para a TAP: em agosto a IAG comprou 20% da espanhola Air Europa, que estava a fazer mossa à Iberia, e muitos acreditam que vai tentar atacar o mercado do Brasil. Certo é que qualquer um dos candidatos é gigante ao pé da TAP, tanto em frota como em número de passageiros transportados, em receitas e em músculo financeiro. São cinco a sete vezes maiores que a transportadora portuguesa, têm mercados internos mais fortes e maior capilaridade. Cobiçam a TAP pelo seu posicionamento geográfico e as ligações ao Brasil, a África e aos EUA, e ninguém quer perder para a concorrência. O jogo já começou.
SATA TAMBÉM É PARA VENDER
A curto prazo, Portugal poderá vir a ter duas companhias aéreas em privatização. É que a venda da açoriana SATA Azores Airlines poderá arrancar também nos próximos meses. No quadro do plano de reestruturação do grupo SATA foi assumido o compromisso de privatização da maioria da Azores Airlines. E Luís Rodrigues, presidente da empresa, já recomendou ao Governo Regional dos Açores que o processo avance o mais depressa possível. Ainda não houve desenvolvimentos, só conversas preliminares. “Penso que depois do verão as coisas vão começar a mexer”, afirmou Luís Rodrigues em entrevista ao Expresso, na semana passada. O gestor está convencido que a privatização será bem sucedida e admite que a islandesa Iceland Air, candidata em 2018, poderá voltar a estar na corrida (Expresso, texto da jornalista Anabela Campos)
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