Está instalada a confusão e a dúvida sobre
a data das eleições europeias em Portugal, na medida em que Bruxelas quer
obrigar todos os estados-membros a realizá-las a 9 de Junho de 2024. No caso
português a existência de vários feriados nessa altura do ano antecipa uma
abstenção recorde que questiona, cada vez mais, a legitimidade da União
Europeia e dos eleitos em condições tão patéticas como tem acontecido.
A realidade demonstra a idiotice costumeira
de Bruxelas e a sua deliberada recusa em perceber que, depois da guerra na
Ucrânia e do impacto dela na vida dos europeus, as próximas eleições europeias
serão as mais importantes e as mais decisivas para o futuro da Europa e da
União Europeia. Pessoalmente acho que depois de 2024 nada será como antes na
Europa e que antes das eleições europeias a União Europeia será confrontada com
o desafio de lutar pela sua existência.
Vejamos a realidade que começa a incomodar
alguns políticos nacionais, e com razão:
- 13 de Junho de 2004 - A abstenção em
Portugal ascendeu a 61,2%, tendo o PS sido o mais votado com 44,5%, cerca de
1,5 milhões de votos e 12 mandatos. No caso da Madeira a abstenção situou-se
nos 54,1%, tendo a coligação PSD-CDS sido a mais votada com 50,3%, cerca de
52,3 mil votos;
- 7 de Junho de 2009 - A abstenção na
Madeira foi de 59,83% contra 63,2% em todo o país. Na RAM o PSD foi o mais
votado com 54,9 mil votos e 52,5%. No país o PSD foi também o mais votado com
31,7% e 1,12 milhões de votos, elegendo 8 mandatos;
- 25 de Maio de 2014 - A abstenção nas
europeias em Portugal situou-se nos 66,2%, tendo o PS sido o mais votado com 8
deputados, 31,5% e pouco mais de 1 milhão de votos. Já na Madeira a coligação
PSD-CDS voltou a ser a mais votada com 27 mil votos e 31%, num acto eleitoral que
ficou marcado por uma abstenção de 66,14%;
- 26 de Maio de 2019 - abstenção nacional
de 69,2%; abstenção regional de 61,46%. Vitória do PS com 33,4% e cerca de 1,1
milhões de votos (9 deputados). Na RAM, vitória da coligação PSD-CDS com 37,2%
e cerca de 36,9 mil votos.
Constata-se que alguns políticos
portugueses não querem eleições europeias a 9 de Junho de 2024, porque temem
que o feriado do Dia de Portugal, 10 de Junho, mais o feriado de Santo António,
sobretudo no caso de Lisboa, a 12 de Junho, provoquem, conjugados numa
"ponte", uma abstenção ainda maior do que aquela que tem sido
registada nas europeias, na medida em que os eleitores portugueses, tal como
muitos outros eleitores europeus, acham que as eleições europeias e o modelo de
funcionamento das instituições europeias, não resolvem os seus problemas, não
dão as respostas esperadas, numa expressão, não servem para nada,
Depois há os efeitos dessa teoria absurda -
vendida pelos fundamentalistas que dominam as instituições europeias, algumas
delas manchadas por casos de uma corrupção vergonhosa que ninguém sabe até onde
vai parar - de querer conjugar, numa Europa estilhaçada pelo impacto da
guerra, uma inflação galopante e mafiosa, com a acelerada subida das taxas de
juros e com o fim de programas de apoio social para que Bruxelas tenha milhares
de milhões para brincar com uma guerra que ninguém sabe quanto vai custar, em
que pé se encontra na actualidade e quando vai terminar. O que vemos é mais,
cada vez mais, a vontade belicista europeia a ser questionada por muitos países
que dificilmente resistirão em 2023 e 2024 à pressão da instabilidade europeia
nos respectivos calendários e agendas eleitorais nacionais. Portugal não escapa
a essa tendência como a seu tempo constataremos. Salvo se conseguirem estancar
este agravamento acelerado da situação económica, social, financeira e
orçamental no Velho Continente ameaçado pelo fenómeno do crescimento de
radicalismos, de esquerda e de direita que são reflexo do descontentamento e da
desilusão da opinião pública europeia (LFM, publicado no Tribuna da Madeira)