O estudo permite assim medir a temperatura do eleitorado, que penaliza — e muito — os últimos meses de governação. É no PS que se vê a maior e mais significativa mudança nas intenções de voto face à última análise, em dezembro do ano passado.
PS NÃO AGUENTA EMBATE
Se no fim de 2022, a maioria absoluta já recebia avaliação negativa, a diferença era que o PS conseguia aguentar o choque e mantinha-se estável nas intenções de voto (então com 37%), bem como a popularidade de António Costa. Naquela altura, porém, a sucessão de casos e demissões no Governo ainda mal tinha começado.
Já havia o desgaste do verão, causado pelas dificuldades nas urgências, que acabaram com a demissão da ministra da Saúde, Marta Temido, tal como já havia o caso Miguel Alves. Mas o país ainda não conhecia o caso TAP, a indemnização paga a Alexandra Reis, nem adivinhava a quantidade de demissões que se seguiriam. Pedro Nuno Santos ainda era um dos pesos pesados do Governo e Fernando Medina não tinha sido beliscado pelos ‘casos e casinhos’. A avaliação da situação económica também era ligeiramente menos grave. As circunstâncias entretanto alteraram-se e começaram a ter reflexo na rua. E agora nas sondagens.
QUEM FICA COM O ÓNUS DO CHEGA?
Pouco menos de um ano depois de ter sido eleito líder do PSD, Luís Montenegro insiste em manter o tabu. Afinal, o PSD aceita ou não coligar-se com o Chega? O resultado da sondagem ICS-ISCTE dá força ao debate. Por um lado, porque, como o próprio André Ventura tem dito, não há maioria de direita sem o Chega. Por outro, porque o PSD alcança, pela primeira vez, o PS. O que significa que o ónus de afastar o Chega do arco da governação pode ser também colocado nos socialistas.
Não só o PS, mas a esquerda, como um todo, perde força. Uma leitura crua dos números mostra que não é nem para o BE nem para o PCP que vão os 7 pontos que voam das mãos do PS. Tão pouco para os pequenos partidos à esquerda, o PAN e o Livre. A percentagem encaixa exatamente no crescimento da direita, sobretudo no Chega (4 pp), mas também na Iniciativa Liberal (2 pp) e no PSD (1 pp). O que significa que, ao contrário do que tem sugerido, a esquerda não parece capaz de recuperar os potenciais “arrependidos” da maioria absoluta.
Ciente do desgaste que vai acumulando, o PS polariza com o Chega e tenta colocar-se como a única garantia de que não há extrema-direita num futuro Governo. Enquanto do lado do PSD, Montenegro vai repetindo: “Nunca nos associaremos a qualquer política xenófoba ou racista.” O que não é exatamente o mesmo que dizer que “nunca” se associará “a qualquer partido xenófobo ou racista”.
Com o vento a soprar à direita, as dúvidas não acabam na questão Ventura. Se é certo que o partido parece cristalizar a posição de terceira força política em Portugal, falta perceber até onde vai a margem de crescimento da Iniciativa Liberal (IL).
A sondagem mostra os liberais ainda ligeiramente abaixo de PCP e Bloco, mas acontece no meio de uma troca de liderança da IL e de alguma convulsão interna no partido. Rui Rocha, o novo líder, é ainda um desconhecido de boa parte dos portugueses (ver pág. 7) e tem uma avaliação abaixo da de João Cotrim Figueiredo. Com mais tempo de antena, será Rocha capaz de manter o élan do antecessor? (Expresso, texto do jornalista JOÃO DIOGO CORREIA e infografia de SOFIA MIGUEL ROSA)
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