Inquiridos acham que Portugal tem
três vezes mais imigrantes do que a realidade. Eleitores de direita mais
favoráveis à obrigatoriedade de ter contrato de trabalho. A maioria dos
portugueses revela abertura à entrada e permanência de imigrantes vindos de
países pobres de fora da Europa, mas com algumas condições, mostra a sondagem
do ICS/ISCTE para o Expresso e SIC. Mais de 70% dos inquiridos identificam-se
com a ideia de que, à exceção dos refugiados, as pessoas só deveriam entrar em
Portugal já com contrato de trabalho e 60% veem sentido em procurar comunidades
que se integrem melhor na cultura e identidade nacionais: duas ideias
defendidas pelo PSD e discutidas na sequência da morte de dois imigrantes num
incêndio numa casa na Mouraria onde viviam 22 pessoas.
O caso da Mouraria, tal como já tinha acontecido com as situações de trabalhadores ilegais no Alentejo, relançou a polémica sobre as políticas migratórias, com Luís Montenegro e Carlos Moedas a defenderem que só devia ser permitida a entrada em Portugal de migrantes com contrato de trabalho. O líder do PSD defendeu também que deveriam ser privilegiadas as entradas de migrantes de países com relações de proximidade cultural com Portugal. Na altura, em fevereiro, o caso levou o Presidente da República a dar um “puxão de orelhas” aos seus colegas de partido e a aconselhar ao PSD que não faça da imigração um cavalo de batalha.
A sondagem mostra, contudo, que a maioria dos inquiridos concorda com as condições propostas pelo PSD. Mais de 70% veem com bons olhos a obrigatoriedade de ter um contrato de trabalho para entrar no país, excetuando os refugiados dessa imposição. A ideia é mais comum entre os mais velhos — defendida por 82% dos portugueses acima dos 65 anos — e entre quem tem menos habilitações literárias. Há sinais de uma tendência para que esta política seja mais popular entre quem é de direita do que de esquerda. Atualmente, o trabalhador migrante não precisa de contrato para entrar no país. Em novembro de 2022 entrou em vigor um visto que permite aos migrantes permanecerem em Portugal por 120 dias (prorrogáveis por mais 60) com a finalidade de arranjarem emprego.
Quanto às origens dos imigrantes,
59% acham que se “deveria procurar pelo mundo comunidades que se possam
integrar melhor” na cultura e na identidade portuguesas, como foi defendido por
Luís Montenegro. Hoje em dia, os estrangeiros residentes são em maior número do
Brasil, Angola, Cabo Verde, Reino Unido e Ucrânia. Mas entre os que mais
aumentaram nos últimos dez anos estão cidadãos do Nepal, Índia, Itália e
Bangladesh.
Apesar das opiniões favoráveis às
condições propostas pelo PSD, também são mais os que concordam com a posição
manifestada pela ministra Ana Catarina Mendes na mesma polémica de fevereiro.
“A construção de uma sociedade decente não é compatível com um regime de quotas
para migrantes”, disse a ministra. Quase 30% optaram por não responder. Entre
os que o fizeram, são mais os que concordam (46%) do que os que discordam
(33%).
PERCEÇÃO ERRADA
No entanto, a sondagem mostra que
os portugueses têm uma perceção errada quanto ao número de imigrantes. Ainda
que uma parte dos inquiridos admita não saber quantas pessoas vivem em Portugal
tendo nascido noutro país, os restantes apontam, em média, para cerca de 33%.
Isso é o triplo da realidade: segundo os Censos, são apenas 10,5%, ou seja,
pouco mais de um milhão. E nesse número estão já muitos que, apesar de não
terem nascido cá, são já cidadãos portugueses.
Apesar da perceção errada quanto à dimensão da imigração, a maioria dos inquiridos (62%) mostra-se aberta à entrada de pessoas vindas de países mais pobres, mesmo não europeus. A opinião é mais consensual entre os jovens e menos entre quem tem dificuldades económicas, mas nem a posição ideológica nem a simpatia partidária parecem influenciar as respostas (Expresso)
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