domingo, abril 02, 2023

Sondagem: greves não atrapalham e maioria acha que fazem falta

É um dos fatores que mais tem marcado o início do ano e que, a julgar pelos números, vai continuar a marcar. A contestação saiu à rua, com manifestações em massa e paralisações em vários sectores. Mas para os inquiridos na sondagem as greves não têm afetado particularmente o dia a dia (74% dizem-se “pouco” ou “nada” afetados). E um imenso consenso considera-as hoje tão ou ainda mais necessárias do que no passado — é o que responde a esmagadora maioria (87%). É quase um consenso. À esquerda, à direita, mais ou menos instruídos, mais jovens ou mais velhos, os portugueses convergem na importância das greves como forma de os trabalhadores defenderem os seus interesses. Agora como antigamente. A leitura é, na verdade, mais um sinal vermelho para o Governo. Se as greves aumentam e os portugueses não se dizem afetados e se, pelo contrário, afirmam que elas são tão ou mais necessárias do que antes, a tendência é que não parem. Também nessa categoria de análise a resposta é clara: mais de dois terços dos inquiridos acham que as greves vão aumentar. E apenas 3% veem caminho para que diminuam.

O cenário é ligeiramente diferente quando analisadas as perturbações no dia a dia dos diferentes subgrupos. Os jovens entre os 18 e os 24 anos, os que têm o ensino superior e os que vivem em localidades com mais de 100 mil habitantes têm ­maior propensão para responder que o quotidiano foi “muito” ou “algo” afetado: 42%, 37% e 39%, respetivamente.

GOVERNO RESPONDE DE FORMA “ERRADA”

Greves na educação, na justiça, no sector da ferrovia, na saúde. O estudo do ICS-ISCTE identificou cinco grupos profissionais que têm recorrido à greve e/ou manifestação para perceber a atitude dos portugueses em relação à contestação social. E, com destaque para o caso dos enfermeiros, as respostas permitem intuir que o país valida as formas de luta.

Bem mais de dois terços dos inquiridos consideram “justas” as reivindicações de enfermeiros, professores e médicos (75%, 73% e 72%, respetivamente). Abaixo fica a justeza das pretensões de maquinistas da CP (60%) e funcionários judiciais (55%), embora não tanto por ser mais comum a resposta “injustas”, mas porque é nesses grupos profissionais que mais inquiridos dizem não ter elementos sufi­cientes para responder.

Outra análise que serve de sinal de alerta para António Costa: “Considera que o Governo tem estado a responder às reivindicações destes grupos profissionais da maneira certa ou errada?”, pergunta o estudo. A maioria dos inquiridos responde que a reação tem sido “errada” na resposta à situação de enfermeiros, professores e médicos. O cenário é diferente nos outros dois grupos profissionais, mas também sobre estes, embora não seja acima dos 50%, há mais portugueses a afirmar que o Executivo está a dar uma resposta “errada” do que os que dizem que tem sido a “maneira certa”. As ruas estão a falar. E o país parece concordar com o que ouve, pelo menos enquanto não for mais afetado pelos protestos (Expresso, texto do jornalista JOÃO DIOGO CORREIA e infografia de SOFIA MIGUEL ROSA)

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