Quase ninguém evoluiu mais, entre 2016 e 2022, do que Norte e Madeira. No entanto, as sete regiões do país continuam mal posicionadas. E o fosso entre Lisboa e o resto é dos maiores na Europa. A Área Metropolitana de Lisboa (AML) é a única região NUT-2 do país que está acima da média europeia no Índice de Competitividade Regional divulgado na semana passada (relatório completo disponível aqui, em inglês). O fosso para as restantes é um dos maiores da Europa e no geral o retrato do país é pouco favorável. Mas olhando para a evolução nos últimos seis anos, também se encontram boas notícias. As regiões Norte e Madeira foram duas das que mais evoluíram, entre 2016 e 2022, de entre as 234 regiões de nível NUT-2 existentes na União Europeia (UE).
A região Norte apresenta mesmo a segunda melhor evolução naquele período. Melhor, só a região da Lituânia que inclui a capital desse país. A terceira região que mais progrediu na sua competitividade regional é a que inclui a capital da Polónia, que se vê, no entanto, igualada em termos de progressão pela região ultraperiférica da Madeira. O problema é que as regiões portuguesas estão, globalmente, mal posicionadas no Índice de Competitividade Regional (ICR). Com excepção da AML, que surge na posição 67, mais nenhuma atinge a média europeia. O Norte (lugar 133) é a que mais se aproxima, seguida pelas regiões Centro (146), Algarve (174), Madeira (181), Alentejo (empatada com a Madeira na posição 181) e Açores (208). Há outra conclusão negativa para Portugal: os Açores não só continuam na cauda desta lista de 234 regiões como estão a divergir, isto é, perderam competitividade entre 2016 e 2022.
O ICR tem estado a medir os principais factores de competitividade em todas as regiões NUT-2 da União Europeia desde 2010. Mede, em resumo, “a capacidade de uma região oferecer um ambiente atractivo para empresas e habitantes que ali queiram viver e trabalhar”, explicam os autores.
Nas regiões mais competitivas, o PIB per capita é mais alto. As mulheres têm melhor desempenho, com mais sucesso e menor taxa de jovens que nem estudam nem trabalham. E porque essas regiões são particularmente atractivas para os recém-formados, porque é mais fácil encontrar emprego. Porque é que isto é relevante? Porque as regiões mais competitivas “têm vantagens económicas significativas no seu desenvolvimento e noutros domínios”. “Por exemplo, nas regiões mais competitivas, o PIB per capita é mais alto. As mulheres têm melhor desempenho, com mais sucesso e menor taxa de jovens que nem estudam nem trabalham. E porque essas regiões são particularmente atractivas para os recém-formados, porque é mais fácil encontrar emprego.”
As
capitais mandam, mas nem sempre
O mapa europeu (a Comissão Europeia disponibilizou uma página online com a versão interactiva dos resultados) mostra grandes diferenças regionais. “A competitividade regional fica acima da média em todas as regiões da Áustria, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Alemanha e os Estados-membros nórdicos. Pelo contrário, todas as regiões a leste ficam abaixo da média, com excepção daquelas que incluem a capital do país. Nos países do Sul da Europa, há uma tendência para ficarem abaixo da média europeia, com apenas cinco excepções: Área Metropolitana de Lisboa, em Portugal; Madrid, País Basco e Catalunha, em Espanha; e Lombardia, em Itália.”
Irlanda
e França têm um mapa diverso de regiões, com algumas que ficam acima e outras
abaixo da média da UE.
A
lista das 234 regiões volta a ser liderada por Utreque, nos Países Baixos.
Aliás, este Estado-membro coloca cinco das suas 11 regiões de nível NUT-2 entre
os dez primeiros lugares do ICR.
Nas
três edições mais recentes deste índice, Utreque ficou sempre em primeiro ou
segundo. É também uma das três excepções à regra, bem patente no mapa europeu, de
que as regiões com a capital são as mais competitivas. Além de Utreque, que
leva a melhor sobre Amesterdão, também a Lombardia (onde se inclui Milão) é
mais competitiva do que a região de Itália em que fica Roma (o Lácio); e na
Alemanha, a mais competitiva é a Alta Baviera (onde fica Munique) e não Berlim.
Ainda
assim, “em linha com edições anteriores, o mapa de 2022 expõe um padrão
policêntrico em que as regiões que têm grandes áreas urbanas apresentam um
forte desempenho”, constatam os autores. “A diferença entre as regiões que têm
a capital e o resto varia, no entanto, de país para país. Nos países mais
competitivos, essa diferença tende a ser menor, e a variação interna entre
regiões também.”
No
caso português, surge à frente a NUT-2 da capital e o fosso intra-regiões é
“especialmente grande”. Tal como acontece, aliás, em Espanha, em França e em
muitos países do Leste. “Isto pode ser motivo de preocupação, porque coloca
pressão sobre as regiões da capital, deixando possivelmente recursos por usar
nas restantes”, alertam os autores.
O que
é medido?
Nos
últimos seis anos, a competitividade regional melhorou nas NUT-2 menos
desenvolvidas, mas nas chamadas regiões de transição, a evolução foi mais
díspar. As mais desenvolvidas, por seu lado, continuam a ter os melhores
resultados, ainda que tenham convergido para a média da UE.
A
produtividade tem estado em queda nas economias ocidentais. Há diversos
relatórios internacionais e estudos científicos que chegam a essa conclusão e
apontam razões. Neste caso, o que se mede é a competitividade das regiões, a
partir não de um indicador como a produtividade, mas com base num índice
calculado a partir de 68 indicadores.
Esta
leitura permite esmiuçar o desempenho em factores cruciais para empresas (como
a justiça, os mercados potenciais, a qualificação da força de trabalho, a capacidade
tecnológica ou o esforço de inovação) e para as pessoas (como a saúde, a
percepção de corrupção, o ensino, a riqueza medida pelo PIB per capita).
Depois, permite comparar o resultado de cada território com a realidade
nacional e também com os seus congéneres europeus.
Alguns
dos indicadores são efectivamente regionais (os das infra-estruturas e os da
saúde, por exemplo), mas outros são nacionais (como os da estabilidade
macroeconómica, os da qualidade das instituições ou os do ensino básico).
Resumidamente,
o índice final expressa a posição relativa de uma região face à média europeia,
e pode ser decomposto em três subíndices: o básico; o de eficiência; e o de
inovação.
O
subíndice básico avalia indicadores ligados às instituições (14), à estabilidade
macroeconómica (cinco indicadores), às infra-estruturas (3), à saúde (6) e ao
ensino básico (3), num total de 31.
No
subíndice da eficiência, medem-se indicadores relativos à formação superior/formação
e aprendizagem ao longo da vida (cinco indicadores), eficiência do mercado
laboral (9) e dimensão do mercado (3). Neste subíndice todos os 17 indicadores
são regionais.
Finalmente,
no subíndice da inovação, mede-se a preparação tecnológica (6), a sofisticação
dos negócios (4) e a inovação (10). Neste conjunto de 20 indicadores, apenas
dois são de abrangência nacional, ambos ligados à preparação tecnológica, e os
restantes são todos regionais.
Quando
se olha para o índice decomposto, percebe-se que a AML ultrapassa a média
europeia tanto no básico, na eficiência como na inovação. É caso único no país.
A região Norte só consegue esse feito no subíndice de inovação.
Quando
se olha para os 68 indicadores, nota-se que, entre os que compõem o subíndice básico,
o Norte tem os melhores resultados nacionais nos indicadores de saúde, ao passo
que a AML tem as melhores infra-estruturas. O país pontua mal na estabilidade
macroeconómica e nas instituições, fazendo melhor em termos de ensino básico —
melhor do que Espanha, por exemplo.
O
Norte tem os melhores resultados nacionais nos indicadores de saúde, ao passo
que a AML tem as melhores infra-estruturas. O país pontua mal na estabilidade
macroeconómica e nas instituições, fazendo melhor em termos de ensino básico —
melhor do que Espanha, por exemplo
Relatório
do Índice de Competitividade Regional 2022
Contudo,
à medida que se avança para os indicadores mais avançados, as regiões
portuguesas perdem, em geral, brilho. No que diz respeito a formação superior e
formação/aprendizagem ao longo da vida, apenas a AML fica acima da média e as
restantes regiões perdem para muitas regiões do vizinho ibérico e para
concorrentes do Leste. No mercado laboral, a AML é a única região ibérica acima
da média, e no mercado potencial (medido por número de consumidores e por PIB
per capita) essa excepção chama-se Madrid.
Nos
indicadores de preparação tecnológica, todas as regiões espanholas e a AML
estão acima da média e as restantes NUT-2 portuguesas imitam toda a Itália e
toda a Grécia, ficando abaixo desse limiar (embora melhor do que esses
concorrentes).
Já em
sofisticação de negócios, o Alentejo é a única região continental que não está
acima da média europeia, o que é um retrato francamente melhor do que o de
Espanha, onde só Madrid fica acima. Neste particular, muitas regiões italianas também
pontuam muito bem. Esta categoria de indicadores mede, por exemplo, a
colaboração entre pequenas e médias empresas inovadoras, o nível de inovação em
marketing e organizacional, ou a percentagem de empresas e o valor acrescentado
bruto em sectores específicos (financeiro, imobiliário, científico, técnico e
administrativo).
O
Norte deu um salto do quarto para o segundo lugar em seis anos, tendo
ultrapassado o Algarve e o Centro
O
salto do Norte
Comparar
a evolução do ICR ao longo do tempo é sempre um exercício arriscado porque em
cada edição há pequenas modificações, seja por novos indicadores disponíveis,
outros que deixam estar disponíveis ou quebras de série devido a alterações de
fronteiras nas próprias regiões.
Mas
desta vez a comparação é menos arriscada porque os autores recalcularam os
valores das edições passadas com base na metodologia de 2022. Assim, “é
possível perceber que entre 2016 e 2019 se viu um processo de aproximação e
convergência entre os estados a leste, aliado a uma melhoria dos resultados nos
países do Sul, à medida que estes recuperaram da crise económica e financeira”.
No caso português, os dados mostram como, entre as regiões portuguesas, o Norte deu um salto do quarto para o segundo lugar em seis anos, tendo ultrapassado o Algarve e o Centro. Já na lista internacional, Lisboa é quem avança mais posições, mais do que qualquer outra região, mas o relatório refere que a variação do índice em valor foi muito superior no Norte e na Madeira do que nas restantes regiões portuguesas e europeias. A variação do Norte foi de mais 14 e de mais 12 na Madeira (Publico, texto do jornalista Victor Ferreira)
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