"Ontem sentia-se nos meandros da política regional algum frenesim devido ao anúncio, alegadamente feito por Miguel Albuquerque (mas sem que nenhuma declaração nesse sentido seja imputável ao autarca do Funchal a confirmá-lo), da sua candidatura à liderança do PSD da Madeira no próximo congresso. Bem vistas as coisas, tal desfecho, a confirmar-se, não me surpreende. Manda a precaução que não tome por adquirida a notícia mesmo que a política se envolva, e muito, em especulações. Tudo depende das fontes e da intencionalidade subjacente a qualquer notícia.
Por um lado há que dizer que é legítimo que um militante, seja ele quem for, no PSD ou noutro partido qualquer, desde que ache que tem o perfil e as condições políticas para o fazer, se candidate aos órgãos partidários. Não vejo qual o problema disso. Em segundo lugar, quem mais atentamente segue o fenómeno da política regional – sem ignorar a polémica registada nas últimas eleições regionais, em torno da justificação para uma factual hostilização de Lisboa (e de Passos Coelho) à recandidatura de Alberto João Jardim – poderá ser levado a concluir que afinal estamos perante uma não notícia.
Duas notas prévias na contextualização de tudo isto: a partir do momento em que Alberto João Jardim dá como adquirido que este é o seu último mandato, é natural e legítimo que as alternativas de posicionem. Não vejo mal nenhum nisso, independentemente de podermos questionar a oportunidade de certas alegadas decisões que, repito, face ao corpo da notícia ontem divulgada, resultam de uma conclusão obtida pelo jornal e não de uma declaração perentória do protagonista da notícia. Aliás, notícias recentes relacionadas com a Câmara Municipal do Funchal e com as opções do PSD da Madeira foram veiculadas como decisões fechadas, quando o assunto nunca foi debatido nos órgãos próprios do partido, nem por estes foi tomada qualquer decisão. Presumo que a política ainda se faz com base em factos consumados e não especulação. A seu tempo ficaremos a conhecer todos os contornos de certas “verdades” insustentadamente apresentadas como tal.
A segunda nota preliminar, prende-se com o facto de que o PSD da Madeira não é uma monarquia nem os líderes são escolhidos a dedo com base no que se poderá considerar, monarquicamente, uma sucessão natural. Nada disso ocorre. Cabe aos militantes a decisão, quando forem chamados a votar. E devem decidir em função da conjugação dos interesses do partido, é certo, mas sobretudo considerando os interesses da Região e da sua população. Não há imposição nenhuma. Os estatutos são públicos, as regras de eleição estão definidas - sobre isso não volto a opinar, até porque já manifestei a minha opinião – pelo que as candidaturas são livres e dependem apenas da disponibilidade dos interessados.
Reconheço que sempre achei inevitável esta alegada candidatura (na altura em que escrevo este texto não ouvi nenhuma confirmação ou desmentido de Miguel Albuquerque), tal como outros no passado recente, assumiram as suas candidaturas depois não consumadas. Até porque o autarca do Funchal - que em 2013 fecha o seu ciclo na Câmara Municipal - integrou sempre o lote dos convencionados "delfins".
Dois itens justificam a minha atenção, enquanto comentador político. Em primeiro lugar a questão temporal associada à formalização do anúncio desta intenção de candidatura (supostamente é disso que se trata), na medida em que o Congresso Regional do PSD madeirense provavelmente apenas deverá realizar-se no final de 2014, depois das autárquicas de 2013. E não vale a pena andarem a falar dos estatutos porque os órgãos partidários têm competência para alterarem calendários internos. Em situações normais, estaremos a dois anos e meio dessa reunião magna do PSD regional, que ficará marcada pela não recandidatura definitiva de Alberto João Jardim. Logo após esse Congresso, eleito um novo líder partidário, o Presidente do Governo Regional passará o testemunho a quem lhe suceder na liderança do partido, dado que será este o candidato natural nas regionais de 2015. Pergunto por isso não será tempo demasiado para que esta intenção agora aventada se mantenha e não possa sofrer recuos? Em segundo lugar, questão associada à primeira, não acredito que esta alegada decisão de Albuquerque tenha alguma coisa a ver com as notícias publicadas recentemente em torno da candidatura social-democrata à Câmara funchalense (2013) e que carecem de confirmação, já que, repito, nenhuma decisão foi tomada pelos órgãos próprios do partido.
Independentemente disso, espero que não nos confrontemos nem com a confirmação de uma potencial rutura política e pessoal, nem como a constatação de que, afinal, há um projeto político, no que à Câmara do Funchal diz respeito, que poderá originar um primeiro sinal de "rebeldia" interna no partido maioritário, envolvendo como protagonistas, fazendo fé nas notícias divulgadas, membros da própria Comissão Política Regional laranja, o que não deixaria de constituir um paradoxo. Dir-me-ão que daí não advém qualquer problema. Concordo, desde que, a confirmar-se este cenário puramente especulativo, as pessoas se definam, de uma vez por todas, e tomem no tempo próprio as decisões (pessoais e políticas) adequadas, antes de darem qualquer passo.
Postas estas duas ideias, nada mais tenho a comentar. A decisão, nos termos noticiados, terá sido amadurecida podendo revestir-se por isso de uma certa irreversibilidade. O destaque informativo dado ao assunto, mais do que visar o PSD da Madeira e fomentar divisões internas, pode suscitar outras dúvidas, nomeadamente sobre a eventual existência de articulações mais extensíveis e exógenas, apostadas em gerar até ao próximo Congresso social-democrata, um ambiente de tensão que não interessaria a ninguém, incluindo Albuquerque. Acho natural e compreensível que as pessoas se interroguem sobre a possibilidade de, a reboque desta alegada decisão (ou intenção) pessoal de candidatura política - que, repito, é legítima, natural e, neste caso concreto, expectável - não estaremos também perante a conjugação desta notícia (?) com outros interesses externos ao PSD da Madeira, particularmente os sempre falados ajustes de contas com Alberto João Jardim e a expectativa da concretização de um sonho antigo, o de o derrotarem por outra via que não a eleitoral. No fundo, indo mais além, a consumação tardia da cabala política denunciada por ocasião das regionais de Outubro do ano passado e que representou para os social-democratas madeirenses uma ameaça substancialmente maior do que a pressão então exercida pela oposição ou feita na comunicação social por causa da situação financeira regional" (texto publicado no Jornal da Madeira, 30 de Maeço de 2012)