quinta-feira, março 22, 2012

PSD

"O PSD reúne este fim-de-semana em Lisboa em Congresso. Um Congresso que se limitará a cumprir calendário e que pouco, muito pouco, ou mesmo nada, trará de positivo para o país e os portugueses. Porquê? Porque o PSD está cegamente refém da liderança de Passos Coelho, aliás já reeleito. O PSD sabe que os tempos atuais não se compadecem com hipocrisias ou encenações, com o culto da personalidade ou com aquela irritante ideia de que elegemos, não políticos normais, vulgares e vulneráveis, que prometiam ser diferentes dos que lhes antecederam e fazer o que pelos vistos não podem cumprir, mas antes uma espécie de clones desse passado, auto-promovidos a “deuses” menores de coisa nenhuma, apostados em serem rigorosamente mais do mesmo, nada mudando no essencial face ao passado, até na vil propaganda ou na manipulação da informação.
Da parte que me toca, há uma questão de fundo que justifica a minha ausência neste Congresso. Considero que o PSD de Passos Coelho protagonizou, no último processo eleitoral regional, procedimentos absolutamente intoleráveis que ameaçaram a campanha e os objetivos dos social-democratas madeirenses, a que se juntou a forma lamentável e abjeta como reagiu à vitória de uma sua estrutura regional, com o secretário-geral (!) protagonista desse momento absolutamente idiota, a ler o que parecia ser mais um penoso discurso de funeral, do que a realçar uma vitória eleitoral arrancada a ferros e naquela que foi a conjuntura política regional mais difícil de todas. Mais. Recuso associar-me a esta perda de tempo porque sei que o comportamento de Passos Coelho, já como governante, no que ao processo negocial com a Madeira diz respeito, não revelou uma atitude de solidariedade (que nada tem a ver com o pagamento da dívida) ou de compreensão para a nossa realidade insular, impondo-nos, repito, impondo à região um modelo assente no próprio modelo de recuperação das contas públicas nacionais, que todos dizem estar condenado ao fracasso e que apenas tem gerado mais miséria, desemprego, falências, pobreza e endividamento. O que se fez com o IVA ou as hesitações com o CINM, a par da tentativa de humilhação da região (um dia espero que a história deste processo negocial seja conhecida para que as pessoas percebam tudo o que se passou...), a forma como deliberadamente é mantida a Madeira, durante estes dois meses, sem dinheiro para pagar seja o que for, contrastando com a pouca-vergonha que se passa com o BPN e a suspeição permanente em torno dos 8 mil milhões ali espatifados, são alguns itens, entre outros, reveladores de um ajuste de contas que não pode ser branqueado e que nunca poderia tolerar o meu envolvimento nesta farsa. E por muito que tentem lavar as mãos, quais Pilatos, eles sabem que a carta de intenções bem como todas as medidas constantes do acordo financeiro, assinado pela Madeira (o desespero financeiro não deixou alternativas), foram impostas por Lisboa e pelo Ministério das Finanças e não iniciativa proposta pelo Governo Regional da Madeira como mentirosamente tentam fazer crer. No fundo tal como as medidas constantes do “memorando de entendimento” negociado pelos socialistas e que foram impostas pela “troika” não tendo nada a ver com aquilo que Sócrates queria, sobretudo em vésperas de eleições legislativas. Acabem com essa mentira.
Não sou – e preliminarmente faço essa declaração de interesses – um adepto das chamadas “diretas”, pelo menos nos moldes em que elas se processam hoje em dia, instituídas pelos partidos em nome da alegada democratização interna e de uma reforçada legitimação dos eleitos, a par também de uma disfarçada neutralizar as pequenas (ou grandes) “quintas” que se instalavam nas estruturas dirigentes locais e que adquiriam uma influência preponderante nestas alturas. O problema é que, mesmo com as “diretas”, que massificam a eleição do líder, mas não lhe propiciam uma reforçada legitimidade (dado o reduzido universo eleitoral), tudo isso se mantem. Basta ver o que esta semana voltou a ser publicado numa revista sobre o primeiro processo eleitoral de Passos Coelho, com recurso a falsos militantes e com jovens da JSD a reconhecerem ter votado duas vezes nas “diretas” anteriores às deste ano! Quando me afirmo opositor deste modelo de “diretas” faço-o por defender a dignidade da militância partidária e a liberdade de candidatura de quem o entender. Porquê? Porque hoje as “diretas” são um instrumento interno de condicionamento de qualquer candidatura já que na realidade trata-se de um processo que em nada difere do anterior, o da eleição da liderança partidária nos Congressos (com a decisão a caber a delegados eleitos pelas bases), entretanto esvaziados de importância e até de mediatismo.
Se nos tempos da Figueira da Foz – será que este PSD se lembra disso?! – as “diretas” existissem, o PSD nunca teria sido dirigido por Cavaco Silva, que, goste-se ou não, personificou o período mais áureo dos social-democratas com cerca de 10 anos de poder e duas maiorias absolutas consecutivas. Tal como Sá Carneiro, nos primórdios do partido, depois da doença que o levou a Londres para tratamento médico e ao afastamento do então PPD, teria conseguido reassumir no Congresso essas funções.
Obviamente que não tenho nada contra quem acha que as “diretas” são um exemplo acabado da democratização interna dos partido e do próprio processo eleitoral. Cada um tem direito à sua opinião. E não digam que se trata de um processo partidário genuíno só porque neutralizou a influência e a capacidade de manipulação das estruturas políticas nas freguesias, concelhos ou distritos porque se há coisa que as “diretas” não fazem é isso mesmo.
E por falar em representatividade política dos eleitos, recordo que Passos Coelho foi reeleito em “diretas”, com 20.266 votos (94,7%!) dos 21.412 votantes que representaram, apenas 40,2% dos 53.270 militantes em condições de votar num partido que supostamente terá mais de 200 mil filiados inscritos. Oposição? Nada. Debate interno? Nada. Ninguém nas estruturas de base do partido tem alguma coisa a dizer sobre a austeridade, sobre as medidas penalizadoras que têm sido tomadas, sobre a sensação de que nos andam a mentir, sobre as dúvidas quanto à eficácia de todas estas medidas penosas?! Não se passa nada com a saúde, com, o desemprego, com os jovens que estão a emigrar, com a pobreza que aumenta, com a escalada das falências, com a falência de famílias por causa do incumprimento bancário, com a redução de salários, com o ataque a direitos laborais conquistados, etc?! Nada. É uma paz podre, provavelmente à espera que tudo caía por si, tal como aconteceu com o PS depois das eleições legislativas de Junho de 2011. Tudo um mero cumprir forçado de calendário. Passos Coelho foi reeleito para líder do PSD com 0,96% dos votos (2,1 milhões) obtidos pelos social-democratas em Junho de 2011!
Saúdo a coragem e a lucidez do presidente da distrital de Lisboa do PSD, Miguel Luz, ao propor o fim das eleições “diretas” do presidente do partido e por inerência presidente da comissão política nacional. Na proposta de revisão estatutária que vai defender neste XXXIV Congresso, Luz defende que o presidente volte a ser eleito em congresso. "Queremos voltar a um sistema de democracia representativa em congresso", advoga. Mas não lhe gabo a sorte, porque não acredito que tenha sucesso nesta cruzada, dado que interesses (e corporações) “mais altos se alevantam”…
Temo que o PSD acabe por se comportar como a mulher marcada pelos anos que recusa aceitar o peso da idade e o desgaste, que sabe, mas não aceita, que nunca irradiou qualquer beleza, mas que todos os dias se convence do contrário. Porquê? Porque se olha ao espelho e não percebe que, em vez de se ver a si própria, se confronta com uma imagem prévia e repetidamente ali projetada, de uma qualquer outra mulher, mais jovem, atraente e de inegável beleza, mas retocada com recurso ao “Photoshop” (LFM, Jornal da Madeira 23 de Março de 2012)

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