domingo, abril 02, 2023

Bancos falidos, trancas à porta

Depois de um mês de loucos, as autoridades americanas têm trabalhado para reforçar a supervisão e limitar danos. O mês de março foi pleno de acontecimentos relevantes na banca norte-americana e europeia. Primeiro foram as resoluções do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature; depois foi a compra forçada e apressada do Credit Suisse pelo concorrente UBS. Agora é o rescaldo, e fazem-se contas. Na semana iniciada a 8 de março (dia do anúncio do aumento de capital do SVB) e com fim a 15, fugiram 108 mil milhões de dólares em depósitos no grupo de bancos norte-americanos, sem contar com as 25 maiores instituições; e entraram nos 25 maiores bancos 120 mil milhões de dólares em depósitos, segundo dados da Fed citados pelo Axios. Apesar de o nervosismo dos depositantes ter-se, de certa forma, dissipado em todo o sistema bancário, subsiste ainda a crise no First Republic Bank, periclitante depois de levantamentos massivos de depósitos. Em Bolsa, perdeu desde o início do mês cerca de 90% do seu valor de mercado. A Reserva Federal dos EUA estaria a estudar a possibilidade de alargar a mais instituições a linha de liquidez de emergência, com o objetivo de dar tempo para que o First Republic encontrasse soluções para a sua reestruturação e para limitar a possibilidade de mais contágios, avançou a Bloomberg no fim de semana.

A Fed, entretanto, desencadeou uma investigação interna sobre a sua própria ação durante a crise bancária, cujas conclusões deverão ser divulgadas em maio. Na terça-feira, prestando declarações à comissão do Senado dos EUA, o vice-presidente da Fed para a área de supervisão, Michael S. Barr, citado pelo “New York Times”, disse que a Fed deverá proceder a uma revisão da sua própria supervisão, até aqui feita de forma diferente consoante a dimensão dos bancos, com um maior escrutínio às grandes instituições.

Os despojos do SVB — os depósitos e créditos que foram transferidos para uma nova entidade aquando da resolução — foram adquiridos à FDIC, o fundo norte-americano de garantia de depósitos, pelo banco First Citizens. Apesar de o SVB não ter colapsado pela má qualidade do crédito, mas sim por má gestão de risco de liquidez, o First Citizens irá partilhar com a entidade que protege os depósitos (FDIC) — isto é, com o erário público norte-americano — eventuais perdas em empréstimos anteriormente concedidos pelo SVB.

As repercussões europeias desta crise bancária norte-americana foram além do defunto Credit Suisse, sugerindo-se até um contágio ao Deutsche Bank. Mas, depois do pânico da semana passada em Bolsa devido a um encarecimento súbito do preço do seguro contra incumprimento da sua dívida (CDS), o maior banco alemão deu sinais de recuperação esta semana nos mercados.

As águas parecem estar mais calmas; pelo que é uma boa altura para arrumar a casa. Comprado o Credit Suisse, vem aí um longo trabalho de incorporação da estrutura do banco na do proprietário, o UBS. O megabanco tem um novo presidente executivo, o suíço Sergio Ermotti, desde quarta-feira, que regressa assim ao banco que ajudou a reestruturar em 2011 e que deixou em 2020. E a cúpula do UBS já avisou: a cultura do malogrado banco Credit Suisse não vai ter free pass como dantes.

Os fantasmas desta cultura continuam a emergir, num aparente poço sem fundo de irregularidades. Esta semana, o Comité de Finanças do Senado norte-americano publicou um relatório no qual acusou o Credit Suisse de voltar a ajudar milionários norte-americanos a fugir ao Fisco. Não era a primeira vez que o fazia a esta escala. A responsabilidade destas milionárias infrações recairá agora sobre os seus novos proprietários (Expresso, texto do jornalista PEDRO CARREIRA GARCIA)

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