sábado, abril 08, 2023

Expresso: Com choque, mas sem surpresa

As conclusões do relatório da comissão independente para os abusos na Igreja são chocantes para a maioria dos portugueses. Numa das perguntas de “sim” ou “não” da sondagem ICS-ISCTE, 77% disseram-se chocados com o que ficaram a saber. O que não é exatamente o mesmo que ficar surpreendido. A ideia de choque, que se repete, aliás, entre os vários subgrupos analisados, está mais relacionada com a dimensão, os números e a violência física e psicológica que a revelação dos casos provoca nos inquiridos. Porém, o facto de os mesmos inquiridos não se mostrarem surpreendidos sugere que a Igreja Católica atravessa, de facto, uma crise de credibilidade. Em resumo, o que a comissão independente mostrou ao país são casos chocantes que não surpreendem. O relatório da comissão baseou-se em 512 testemunhos validados, que reportam a vários episódios entre 1950 e 2022. O número de vítimas, porém, chegará a “um mínimo” de 4815 pessoas. Os termos de Pedro Strecht, coordenador da equipa que estudou os abusos na Igreja, dão uma imagem da dimensão do problema. “Os dados apurados nos arquivos eclesiásticos relativamente à incidência dos abusos sexuais devem ser entendidos como a ‘ponta do icebergue’”.

SURPRESA? NEM POR ISSO

Além de credibilidade, sobre a Igreja paira a ameaça de uma crise de futuro, que se subentende nesta sondagem, em que a maioria dos portugueses não se diz surpreendida com as revelações. É certo que é uma maioria curta (52%), mas que engrossa e fica especialmente notória em subgrupos fundamentais, como o dos jovens — só entre os maiores de 65 anos há uma maioria de surpreendidos (61%) — e o dos mais instruídos: só 29% de quem tem o ensino superior é que ficaram surpreendidos. Ao contrário do choque, sem diferenças substanciais entre géneros, as mulheres aparecem como mais surpreendidas do que os homens. A grande clivagem, no entanto, é, e mais uma vez, entre católicos e não católicos. Entre os últimos, apenas 29% mostraram surpresa (Expresso, texto do jornalista JOÃO DIOGO CORREIA)

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