domingo, abril 02, 2023

Sondagem: Quase dois terços dão nota negativa ao Governo


Mau em toda a linha: com a maio­ria absoluta, o Governo tinha há um ano o pico da avaliação positiva, mas agora, que ainda só cumpriu um dos quatro anos de mandato, atinge o pico da avaliação negativa. Depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter carregado nos adjetivos — “uma maioria requentada, cansada, que demorou a formar-se” —, o cartão amarelo ao Governo é confirmado pela sondagem ICS-ISCTE para o Expresso e a SIC em diversas variáveis. Na avalia­ção do desempenho do Governo, na contestação social, nas intenções de voto (ler texto aqui) e até na popularidade do principal rosto da maioria: António Costa recebe a pior avaliação média dos últimos quatro anos, quando ainda liderava a ‘geringonça’. A queda tem sido consistente, sobretudo depois do verão, marcado por dificuldades nas urgências dos hospitais. Na última sondagem publicada pelo Expresso, em dezembro de 2022, a maior parte dos inquiridos já avaliava o trabalho do Governo como “mau” ou “muito mau”. Mas era, ainda assim, uma curta maioria (53%). Três meses volvidos, a percentagem sobe 11 pontos e fixa-se nos 64%. Ou seja, quase dois terços dos portugueses entendem como “mau” ou “muito mau” o desempenho do Governo. É também a percentagem mais alta alguma vez identificada pelas sondagens ICS-ISCTE, iniciadas em fevereiro de 2019.

Opinião sobre situação económica está quase ao nível do primeiro ano de pandemia

Nos últimos quatro anos houve vários momentos de sinal verde para o Governo, incluin­do os períodos mais duros da pandemia. Mas, com exceção de setembro de 2020 e novembro de 2021, depois da crise política que levou o país às urnas, a avaliação foi sempre maioritariamente positiva. O que significa, claro, que as avaliações negativas nunca se aproximaram dos 50%. No segundo semestre de 2022, porém, as linhas cruzaram-se. E de lá para cá foi sempre a piorar (ver gráfico).

A apreciação negativa atravessa diferentes géneros, idades e níveis de ensino, mas é maior em determinados segmentos da população. As pessoas que consideram que é “difícil” ou “muito difícil” viver com o rendimento que auferem têm mais tendência a avaliar negativamente o trabalho do Governo — 71%, face aos 57% de avaliações negativas entre quem se sente mais confortável financeiramente. Mas a grande diferença é mesmo partidária e ideológica.

Entre os simpatizantes do PS, 39% consideram o trabalho do Governo “mau” ou “muito mau”. É uma percentagem muito inferior à da média do total de inquiridos, muito inferior aos que não têm preferência partidária (72%) ou face aos simpatizantes do PSD (70%). Mas mostra que nem os eleitores socialistas estão satisfeitos. Aliás, comparando novamente com o último estudo, há um aumento de 12 pontos dos socia­listas insatisfeitos com o trabalho do Executivo.

No binómio esquerda-direita a leitura é semelhante. Há mais insatisfeitos entre os eleitores do centro (66%) e, sobretudo, de direita (73%), mas mesmo à esquerda a maioria (51%) avalia o desempenho do Governo como “mau” ou “muito mau”.

ECONOMIA ASSUSTA

Depois dos recados presiden­ciais e do aumento da contestação nas ruas, o Governo tenta agora dara volta, abrindo os cordões à bolsa com o pacote de combate à inflação (€2,5 mil milhões em apoios, incluindo atualizações salariais na Função Pública) e tentando estancar a crise da habitação. A recolha dos dados da sondagem foi feita entre 11 e 20 de março, ou seja, antes das últimas medidas anunciadas pelo Executivo.

A avaliação dos portugueses sobre a situação económica é outra das linhas que não pararam de subir no último ano. Mais de três em cada quatro inquiridos respondem que a economia “piorou” (49%) ou “piorou muito” (29%). E apenas 5% consideram que “melhorou” (0% na categoria “melhorou muito”). Para 15% não se registaram alterações.

A perceção sobre a economia disparou desde março do ano passado e só tem paralelo com o primeiro confinamento imposto pela covid-19. Por essa altura, entre setembro de 2020 e abril de 2021, os valores eram da ordem dos 80% (entre 79% e 82%). Agora voltam a estar perto. A grande diferença para Costa é que nessa altura os portugueses avaliavam negativamente a economia mas davam nota positiva ao Governo, talvez por entenderem que na pandemia a responsabilidade não era do Executivo. Desta vez, embora a atual crise económica também possa ter razões externas, a avaliação do Governo está nos mesmos níveis negativos da avaliação da economia (Expresso, texto do jornalista JOÃO DIOGO CORREIA e infografia de SOFIA MIGUEL ROSA)

Sem comentários: