Os potenciais candidatos a comprar a TAP, dossiê em que se têm posicionado os grupos Lufthansa, Air France/KLM e IAG, são verdadeiros gigantes ao lado da companhia aérea portuguesa, uma das poucas que se mantêm fora dos grandes grupos europeus. A diferença é grande desde logo ao nível da frota, mas também das receitas e do número de passageiros transportados. Com conversas exploratórias com os potenciais interessados na privatização da TAP a decorrer, e, como noticiou o Expresso, havendo vontade por parte do Governo de acelerar a venda — também porque a companhia, a partir de 2023, não poderá receber dinheiro do Estado durante 10 anos e há uma emissão de obrigações a vencer no próximo ano —, certo é que a procissão ainda vai no adro. Não obstante, o Chega e o PCP querem ouvir no Parlamento o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, sobre a possibilidade de, no curto prazo, privatizar mais de 50% da TAP.
As candidatas favoritas à privatização, a Lufthansa e a Air France/KLM, são entre sete e cinco vezes maiores do que a TAP ao nível da frota — o grupo liderado pela companhia alemã tem 713 aviões, mais 176 aeronaves que a sua rival franco-holandesa. A IAG, grupo que junta a Iberia, a British Airways e a Aer Lingus, tem uma frota mais pequena do que os dois grupos concorrentes, mas a curta distância da Air France/KLM — estes têm 537 aviões e os primeiros 531 (ver foco de pontos). Já a nível de receitas a diferença é bastante significativa, pois a TAP é 10 vezes mais pequena do que o grupo Lufthansa e a Air France/KLM e seis vezes menor do que a IAG. Valores que se espelham no número de passageiros transportados, também 10 vezes a desfavor da TAP. Os números são de 2021, ainda distantes dos números pré-covid, em que o maior grupo europeu, a Lufthansa, por exemplo, transportava 145 milhões de passageiros e tinha vendas de 36,4 mil milhões, enquanto a TAP transportava 17 milhões de passageiros e tinha receitas de €3,3 mil milhões.
DE OLHOS NA CONCORRÊNCIA
Ainda a lamber as feridas da pandemia, e
com um inverno muito cinzento pela frente, com a pressão inflacionista e os
custos dos combustíveis em máximos, as companhias aéreas estão focadas em
resolver os seus problemas e as suas dívidas, mas também muito atentas aos
movimentos de consolidação. E a TAP, dada a localização privilegiada do hub de
Lisboa e a forte presença no mercado brasileiro, é um ativo que os grandes
grupos não querem perder para a concorrência. Candidatos à parte, a questão
mais relevante é saber que parceria serviria melhor a TAP. Os que defendem as
virtudes da Lufthansa sublinham que a companhia alemã iria manter o hub e
lembram que as duas transportadoras fazem muitos voos partilhados. Quem prefere
a Air France/KLM defende que a TAP não perderia a manutenção. Num ponto todos
convergem: com a IAG implodiria o hub.
GRUPO LUFTHANSA
Composição
O grupo é composto pela Lufthansa, a
Swiss, a Austrian Airlines e a Brussels Airlines. Inclui também as companhias
regionais Lufthansa CityLine, Air Dolomiti e Eurowings Discover (focada no
segmento do turismo e criada em 2021). Tem ainda a low cost Eurowings e a
empresa de manutenção MRO. Conta com 300 empresas subsidiárias
Frota
Tem 713 aviões, dos quais 389 são da
Lufthansa. Transportou 46,9 milhões de passageiros em 2021. Tem hubs em
Frankfurt e Munique. Tem também como aeroportos principais Zurique, Viena e
Bruxelas. Pertence à Star Alliance
Números
Tinha 105 mil empregados, gerava receitas
de €16,8 mil milhões e teve de prejuízos €2,1 mil milhões em 2021
Acionistas
Tem como principais acionistas a Kühne
Aviation GmbH (15,1%) e o fundo de pensões Wirtschaftsstabilisierungs-fonds
(9,92%). Quase 82% dos acionistas são alemães
GRUPO AIR FRANCE/KLM
Composição
O grupo é composto por três companhias
aéreas: Air France, KLM (juntaram-se em 2005) e Transavia. Tem uma empresa de
manutenção, a AF/KLM E&M, e a AF/KLM Martinair Cargo
Frota
Tem 537 aviões e transportou 45 milhões
passageiros em 2021. Voa para 300 destinos em 117 países. Tem hub em
Paris-Charles de Gaulle e Amesterdão-Schiphol. Pertence à aliança Sky Team
Números
Tem 71 mil empregados. Tinha €14,3 mil
milhões de receitas em 2021 e €3,2 mil milhões de prejuízos
Acionistas
Tem como acionistas o Estado francês
(28,6%), o Estado holandês (9,3%), a CMA GSM (9%), a China Eastern Airlines
(4,7%) e a Delta Airlines (2,9%). Os trabalhadores
controlam 12%
GRUPO TAP
Composição
O grupo é composto pelas transportadoras
TAP, S.A., e Portugália (que opera também como White). Detém, através da TAP
SGPS, uma participação na Groundforce (49,9%), Cateringpor (51%) e TAP
Manutenção e Engenharia Brasil (em fase de encerramento)
Frota
Tem 94 aviões, dos quais 21 são da
Portugália/White, e transportou 5,8 milhões de passageiros em 2021. O hub é em
Lisboa. Faz parte da Star Alliance
Números
Está sob um plano de reestruturação,
aprovado pela Comissão Europeia, no valor de €2,55 mil milhões — este ano irá
receber €990 milhões, o último valor a injetar. Já recebeu €640 milhões de
compensação covid. Em 2021, a TAP, S.A., tinha 6803 trabalhadores. As receitas
foram de €1,388 mil milhões em 2021, o EBITDA foi negativo em €999 milhões e os
prejuízos ascenderam a €1,599 mil milhões. A dívida financeira era de €1,480
mil milhões em 2021 (€937,2 milhões de empréstimos bancários e obrigações)
Acionistas
100% do capital da TAP, S.A., é do Estado (Expresso, texto da jornalista Anabela Campos)
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