segunda-feira, setembro 19, 2022

Portugal já sente as ‘dores’ da subida dos juros pelo BCE

 

Os dois impactos mais diretos do aumento desde julho das taxas diretoras do Banco Central Europeu (BCE) sobre as finanças do país sentem-se já no encarecimento do crédito à economia e na subida do custo de financiamento da dívida pública. Esta semana, a taxa Euribor a 6 meses (a mais usada como referência para o crédito à habitação) já atingiu mais de 1,5%, tendo aberto o ano em terreno bem negativo. No leilão de dívida pública, na quarta-feira, na colocação de obrigações do Tesouro português no prazo a 10 anos, o Estado já teve de pagar aos investidores um juro de 2,754%. Foi mais de um ponto percentual acima da taxa de 1,694% que pagou em abril aquando da operação sindicada de lançamento daquela linha que vence em julho de 2032. As projeções do algoritmo do portal financeiro World Government Bonds (WGB) apontam para um juro nos títulos portugueses a 10 anos em 3,4% no final deste ano, 100 pontos-base acima do custo de financiamento da dívida alemã. O que equivale a um spread de um ponto percentual, sensivelmente igual ao atual. Em termos globais das emissões de dívida portuguesa já realizadas em 2022, a taxa média de colocação já subiu de 0,6% no ano passado para 1,3% no final de julho. Mais do que duplicou.

A depreciação do euro face ao dólar também não tem ajudado, alimentando a inflação importada na zona euro. A trajetória de desvalorização iniciou-se no verão do ano passado e, mesmo depois de duas subidas significativas das taxas do BCE em julho e setembro, o euro continua a flutuar em torno da paridade, não conseguindo arrebitar (ver gráfico).

A vaga mais dolorosa vai chegar, no entanto, no próximo ano. Nos próprios pressupostos que basearam as novas projeções macroeconómicas apresentadas pelos economistas do BCE, a taxa Euribor a 3 meses que usam como referência multiplica por dez em termos médios no próximo ano (ver gráfico). As projeções do algoritmo do WGB apontam para um juro de 4,3% nas obrigações a 10 anos em março do próximo ano. Sensivelmente mais um ponto percentual do que o juro em dezembro e mantendo praticamente o mesmo spread em relação à dívida alemã.

PREMATURO REDUZIR REINVESTIMENTOS

Provavelmente a situação seria bem pior para os periféricos do euro se o BCE não mantivesse a política de reinvestimentos dos títulos que tem em carteira e a flexibilização que tem usado na gestão dos valores que vão chegando à amortização. O que está a beneficiar fortemente Itália, Grécia e Espanha. A carteira de títulos soma quase €5 biliões (dos quais €91 mil milhões em dívida portuguesa) e já se sentem pressões para que comece a emagrecer rapidamente. O jornal “Financial Times” avançava que o tema pode ser discutido a 5 de outubro numa reunião do BCE em Chipre que não se destina a tomar decisões de política monetária. O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, já veio dizer, esta semana, que acha a discussão “prematura” (Expresso, texto do jornalista Jorge Nascimento Rodrigues)

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