Vídeos com teor antissemita, racista e de exaltação a figuras nazis multiplicam-se no Instagram, alcançando milhões de visualizações e surgindo lado a lado com anúncios de grandes empresas. De acordo com a ‘Fortune’, conteúdos que violam claramente as normas da Meta continuam a ser promovidos pelo algoritmo da plataforma, apesar de denúncias e de políticas que formalmente proíbem este tipo de material. Entre as publicações analisadas destaca-se o vídeo de uma marca de moda, @forbiddenclothes, que recorre à imagem de um oficial nazi de “Sacanas Sem Lei” para ilustrar uma legenda irónica sobre política. A publicação foi vista por mais de 31 milhões de pessoas e acumulou mais de 1,6 milhões de gostos.
Anúncios de marcas surgem junto a conteúdo extremista
Um dos pontos mais críticos é a proximidade entre este material e publicidade de grandes marcas como JPMorgan Chase, Porsche ou o Exército dos EUA. Em vários casos observou-se que anúncios eram exibidos imediatamente acima ou abaixo de vídeos antissemitas. A Meta afirmou em comunicado que “não quer este tipo de conteúdo nas suas plataformas” e que as marcas não desejam ver os seus anúncios associados a ele. A empresa garantiu ainda ter adicionado os vídeos denunciados à sua base de dados de conteúdos violadores para impedir republicações.
A reportagem da ‘Fortune’ destaca um ponto estrutural: em janeiro, Mark Zuckerberg encerrou a verificação externa de factos nos EUA e flexibilizou regras sobre conteúdos políticos. Especialistas afirmam que o limiar para remover discurso de ódio aumentou, reduzindo a sensibilidade dos sistemas de deteção automática. Criadores de conteúdos extremistas confirmaram à publicação que a mudança teve impacto imediato. Muitos relatam que vídeos antes penalizados passaram a alcançar milhões de pessoas e que continuam a gerar receitas através de merchandising, patrocínios, programas de monetização e plataformas paralelas.
Memes que recorrem a códigos, ironias e símbolos associados à extrema-direita — das referências a Agartha até ao uso de emojis codificados — tornaram-se parte de uma estética viral entre públicos jovens. Especialistas em desinformação descrevem estas peças como conteúdos “transgressivos”, concebidos para parecerem proibidos, capazes de criar identidade grupal e sensação de pertença. Muitos criadores admitem não ter convicções ideológicas profundas e explicam que produzem este material porque gera mais alcance e, consequentemente, mais rendimento. A facilidade conferida pela IA, que permite criar vídeos com baixo custo, multiplica o volume de publicações extremistas.
Impacto no mundo real já é visível
A normalização deste discurso não permanece confinada ao digital. A publicação americana destaca o caso de um atentado na Indonésia, em que um estudante de 17 anos deixou inscrições relacionadas com símbolos e expressões populares em memes extremistas. Nos EUA, multiplicam-se episódios de violência antissemita, desde ataques a comícios até ameaças documentadas por organizações judaicas. A ADL registou um aumento de 21% nos incidentes antissemitas em 2024.
Uma audiência vasta e diversificada, incluindo figuras públicas
Algumas contas com conteúdo extremista acumulam centenas de milhares de seguidores, incluindo perfis notórios. Entre os seguidores da controversa página @forbiddenclothes encontra-se, por exemplo, Donald Trump Jr. A Meta afirma continuar empenhada em combater o antissemitismo e que removeu milhões de conteúdos relacionados com Organizações e Indivíduos Perigosos no primeiro semestre de 2025. No entanto, continua sem explicar como vídeos denunciados à ‘Fortune’ conseguiram permanecer ativos e gerar milhões de visualizações (Executive Digest, texto do jornalista Francisco Laranjeira)

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