domingo, novembro 23, 2025

Democracia sob pressão: metade dos eleitores no Ocidente acredita que este sistema está falido



Metade dos eleitores nas principais democracias ocidentais mostra-se insatisfeita com o funcionamento dos seus sistemas políticos. A conclusão é de um estudo da Ipsos, que inquiriu quase dez mil pessoas em nove países e cujos resultados foram partilhados pelo jornal ‘POLITICO’, revelando uma preocupação generalizada com o rumo da democracia nos próximos cinco anos. A exceção é a Suécia, onde a maioria considera que o sistema democrático continua robusto. A perceção dominante é a de que a democracia está sob ameaça, alimentada pelo crescimento dos partidos extremistas, pela difusão de notícias falsas e por casos recorrentes de corrupção. Estas inquietações surgem num momento em que várias instituições europeias defendem o reforço das regras de proteção eleitoral e procuram travar eventuais interferências externas.

Eleitores sentem-se pouco representados

Entre 12 e 29 de setembro, a Ipsos entrevistou mais de 9.800 eleitores no Reino Unido, França, Estados Unidos, Espanha, Itália, Suécia, Croácia, Países Baixos e Polónia. Em média, 45% afirmaram estar insatisfeitos com o funcionamento da democracia nos seus países. Os eleitores situados nos extremos do espectro político — tanto à esquerda como à direita — foram os que mais declararam que o sistema democrático está a falhar. A perceção de representação política é igualmente baixa. Em nenhum dos países analisados a maioria dos inquiridos considerou que o Governo nacional defende eficazmente os seus interesses. O descontentamento é particularmente acentuado na Croácia e no Reino Unido, onde apenas 23% dos eleitores afirmam sentir-se representados.

Turbulência política alimenta o descontentamento

O estudo sublinha ainda que o sentimento de deterioração democrática aumentou na maior parte dos países. Com exceção da Polónia, onde a participação eleitoral subiu este ano, mais eleitores afirmam que a democracia piorou nos últimos cinco anos do que aqueles que acreditam que melhorou. Nos EUA, 61% consideram que o sistema democrático está mais frágil do que em 2020. Em França e na Países Baixos, a quebra de confiança coincide com crises políticas recentes. Em França, os impasses em torno do orçamento precipitaram sucessivos colapsos governamentais. Nos Países Baixos, a desagregação da coligação no início do ano conduziu a eleições antecipadas, refletindo um clima de instabilidade.

Desinformação e corrupção são os principais riscos

O nível de preocupação com o futuro é especialmente elevado em França e Espanha. No primeiro caso, 86% dos inquiridos manifestam apreensão com o que os próximos cinco anos podem representar para a democracia. No segundo, o valor chega aos 80%. Os riscos mais apontados incluem desinformação, corrupção, falta de responsabilização dos políticos e ascensão de movimentos extremistas. Apesar do pessimismo crescente, o estudo indica que a maioria dos eleitores continua a apoiar os princípios democráticos. No entanto, na Croácia mais de metade dos participantes afirma que a democracia só vale a pena se garantir uma boa qualidade de vida.

Eleitores querem medidas mais firmes para proteger a democracia

A Ipsos concluiu que existe um apoio substancial a medidas de reforço democrático. Entre as propostas com maior aceitação estão legislação e fiscalização mais rigorosas contra a corrupção, defesa da independência dos tribunais, melhoria da educação cívica e regulação da desinformação e do discurso de ódio nas redes sociais. Num contexto de crescente tensão política e mediática, os resultados expõem uma tendência comum no Ocidente: a exigência de sistemas democráticos mais sólidos, transparentes e capazes de responder às expectativas dos cidadãos (Executive Digest, texto do jornalista Francisco Laranjeira)

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