Cinco meses depois das últimas eleições, quase nada se alterou na relação de forças dos blocos de Direita e de Esquerda do Parlamento, com o primeiro a somar 60 pontos percentuais e o segundo 36 pontos, de acordo com uma sondagem da Pitagórica para o JN, TSF, TVI e CNN. Mas há alterações substanciais na relação de forças dos três principais partidos, com a coligação PSD/CDS de Luís Montenegro a crescer para os 38,5%, enquanto o Chega sofre uma queda drástica para os 16,7%. O que significa que o PS de José Luís Carneiro (26,4%) vale agora bem mais do que o partido de André Ventura. Mais para a Esquerda, o Livre (5,7%) ultrapassa a Iniciativa Liberal (5,3%), enquanto o Bloco de Esquerda corre o risco de se tornar irrelevante (0,7%). Mas também a CDU (2,4%) e o PAN (0,9%) perdem meio ponto relativamente às legislativas de 18 de maio.
A principal leitura destes resultados parece ser a de que a tática de Luís Montenegro, ao apropriar-se, nos seus próprios termos, de duas bandeiras do Chega, a segurança e a imigração, surtiu efeitos. Porque é a AD quem mais cresce (mais de sete pontos) relativamente às legislativas, enquanto o Chega é o partido que sofre maior desgaste (um pouco mais de seis pontos), não obstante a sobre-exposição mediática de André Ventura, enquanto candidato a presidente da República. Sendo certo que o trabalho de campo da sondagem decorreu entre 5 e 14 de novembro, e portanto não mede o impacto do anúncio de uma greve geral conjunta da UGT e da CGTP (o que já não acontecia há 12 anos), por causa do polémico pacote laboral.
Montenegro deixa Ventura a 22 pontos de distância
Avaliando de outra forma o que separa a coligação liderada pelo PSD do seu principal rival à Direita, se, em maio passado, a diferença era de pouco mais de oito pontos, agora seriam quase 22 pontos. E quando se analisam as oscilações do eleitorado relativamente a maio, percebe-se que Montenegro segura 86% dos que votaram na AD e ainda consegue ir buscar um pouco mais de um décimo dos eleitores do Chega e outro tanto aos liberais. Já o partido de Ventura, não só perde uma parte substancial dos seus votantes, como não conquista nenhum à coligação de centro-direita. A outra má notícia para o partido da direita radical populista (ou de extrema-direita, como defendem alguns cientistas políticos), é que, a haver agora eleições, já não poderia reivindicar a liderança da Oposição no Parlamento. Com José Luís Carneiro, o PS cresce quase quatro pontos percentuais e, de uma situação de empate à décima (tiveram ambos 22,8% nas legislativas), passa para uma vantagem de quase dez pontos. O que, no entanto, não o torna uma verdadeira alternativa de poder: na comparação com o PSD/CDS, a desvantagem dos socialistas alarga-se de oito para 12 pontos.
Livre ultrapassa IL e Bloco a desaparecer do mapa
Outra das novidades deste estudo de opinião é que o Livre cresce um ponto e meio para os 5,7%, ficando em quarto lugar, por troca com a Iniciativa Liberal (5,3%), que fica no mesmo patamar das últimas legislativas, o que significa que a troca de Rui Rocha por Mariana Leitão na liderança não produziu efeitos. Ao contrário, a manutenção de Mariana Mortágua na liderança do Bloco de Esquerda (já há uma espécie de sucessor designado, José Manuel Pureza, mas ainda por eleger), parece estar a ter efeitos catastróficos: nesta sondagem perde mais de um ponto relativamente às eleições e fica-se por 0,7%, ou seja, ao nível da irrelevância estatística e abaixo até de um agónico PAN (0,9%). As notícias não são tão demolidoras para os comunistas, mas são más ainda assim: perdem meio ponto, marcando agora 2,4%.
Fosso da AD e PS para o Chega com a mesma origem
Quando se analisam os diferentes segmentos da amostra percebem-se melhor onde mais se cavou o fosso entre os três principais partidos. Sendo que as maiores diferenças entre AD e Chega, ou entre PS e Chega, têm notáveis coincidências. Quando o ângulo é o género, são as mulheres a marcar a vantagem dos dois partidos centrais face aos radicais (mais 24 pontos na AD, mais 17 no PS). Nas faixas etárias, isso acontece entre os eleitores mais velhos (mais 27 pontos no PS, mais 25 na AD). Ao nível das classes sociais, é entre os que têm maiores rendimentos (mais 32 pontos na AD e mais 11 pontos no PS). Finalmente, na geografia, é entre os que vivem no Centro que AD e PS mais se distanciam do Chega (mais 24 pontos no caso da coligação de centro-direita, mais 20 pontos no caso dos socialistas).
Equilíbrio no eleitorado da AD, mais velhos com o PS
Avaliando a composição do eleitorado de cada partido, há outro tipo de evidências igualmente relevantes. No caso da AD há resultados equilibrados no género, nas faixas etárias (com uma base um pouco mais baixa nos 35/44 anos) e nas regiões, mas o apoio é maior, quanto maior o rendimento. No caso do PS, há uma relativa feminização do eleitorado, enquanto, nas faixas etárias, está claramente abaixo da média entre os 18 e os 34 anos e muito acima da média entre os mais velhos (lidera aliás as intenções de voto nesse segmento, ainda que por apenas um ponto e meio). Por outro lado, quantos menores os rendimentos, maior a percentagem de eleitores de socialistas (característica que partilha com o Chega). Ao nível regional, destaca-se o Norte pela positiva.
Chega claramente masculino e bastante fraco no Norte
Relativamente ao Chega, percebe-se que a quebra relativamente às legislativas se ficará a dever, em particular às mulheres (tem menos dez pontos entre elas do que entre eles). No que diz respeito às idades, está acima da média atual até aos 54 anos, e mais abaixo dos 55 em diante. O partido de Ventura fica em terceiro lugar em todas as regiões, mas o Norte destaca-se pela negativa. No que diz respeito ao Livre e à Iniciativa Liberal, as leituras são menos precisas (e nos restantes impossíveis, pela base diminuta). No entanto, os liberais de Esquerda são mais femininos (quase o triplo de mulheres), enquanto dos de Direita são mais masculinos. O partido de Rui Tavares consegue um inédito terceiro lugar entre os 25/34 anos e, ao nível regional, o melhor pecúlio chega da região de Lisboa. Quanto à formação liderada por Mariana Leitão, tem votações acima da média até aos 44 anos e abaixo a partir dos 45 anos em diante, enquanto na geografia o melhor resultado é a Norte. E uma característica final, tão precisa quanto um relógio suíço em qualquer sondagem, no que se refere aos liberais: quanto maior o rendimento, maior o apoio à Iniciativa Liberal.
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF e JN com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com as eleições presidenciais de 2026. O trabalho de campo decorreu entre os dias 5 e 14 de novembro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores recenseados em Portugal e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 1906 tentativas de contacto, para alcançarmos 1000 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 52,47%. As 1000 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 3,16% para um nível de confiança de 95,5%. A distribuição de indecisos é feita de forma proporcional. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online (Jornal de Notícias, análise de Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto)

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