domingo, novembro 23, 2025

Dupla cobertura em saúde

A dupla cobertura em saúde — ou seja, a coexistência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com um seguro ou subsistema de saúde privado — tem vindo a consolidar-se como uma característica estrutural do sistema de saúde português. Esta tendência reflete a crescente procura por alternativas ou complementos ao SNS, impulsionada por fatores como os tempos de espera, a personalização do atendimento e o acesso a determinadas especialidades. Os dados revelam que a percentagem de portugueses que recorrem simultaneamente, e de forma voluntária, ao SNS e a uma cobertura privada (seguro ou subsistema) tem vindo a aumentar de forma constante ao longo dos anos - de 26% em 2015, para 35% em 2023. Este crescimento atesta a insatisfação de uma parte da população com o serviço público.

A expansão da dupla cobertura levanta importantes questões sobre a equidade do acesso à saúde no país. Para os que têm dupla cobertura, esta dualidade representa uma garantia de resposta rápida e diversificada, mas, também, um duplo pagamento (através dos impostos para o SNS e do próprio bolso para os seguros ou subsistemas); para outros, sem capacidade financeira, o acesso aos cuidados de saúde é precário e permanece dependente exclusivamente do SNS, acentuando as disparidades.

Com esta evolução, não é de estranhar que Portugal seja o 3.º país europeu da OCDE onde maior percentagem da despesa total em saúde é despesa privada (38%), ou seja, através dos seguros voluntários ou dos pagamentos do próprio bolso (out-of-pocket). Em suma, a dupla cobertura é um indicador da complexidade e das tensões do sistema de saúde: um serviço público universal sob pressão e um setor privado em expansão, com a população a procurar soluções híbridas para garantir a sua proteção (Mais Liberdade, Mais Factos)

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