sexta-feira, julho 21, 2023

Sondagem: PS e PSD continuam em empate técnico, apesar da TAP e da crise com Marcelo

PSD cresce dois pontos, mas não chega para descolar do “empate técnico”. Tanto a IL como o Chega perdem um ponto percentual. Os outros partidos mantêm as intenções de voto de Fevereiro. O PSD aparece um ponto percentual à frente do PS na sondagem de Julho do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica (Cesop) da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1: 33% para os sociais-democratas, 32% para os socialistas. Na última sondagem, de Fevereiro, o PSD tinha menos um ponto do que o PS – 31% contra 32%. Ao fim de contas, continua a haver uma situação de “empate técnico”, que resulta da pergunta “se neste momento se realizassem eleições legislativas em que partido votaria?”. Talvez o dado mais curioso seja o facto de o PS não ter sido penalizado pelas audições da comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, considerada, há não muito tempo, vital para a sobrevivência do Governo. Se o caso da indemnização a Alexandra Reis se reflectiu na sondagem de Fevereiro, o “caso Galamba”, por exemplo, só acontece no fim de Abril, com a conferência de imprensa do ministro em que explicou os acontecimentos da noite de 26 de Abril no Ministério das Infra-Estruturas e confirmou a intervenção do SIS.

Aliás, a comissão de inquérito à TAP e as audições polémicas do ministro João Galamba, do ex-ministro Pedro Nuno Santos, das respectivas chefes de gabinete, do ex-secretário de Estado Hugo Mendes parecem não ter tido qualquer impacto negativo nas intenções de voto do PS, segundo as conclusões da sondagem – apesar de os trabalhos terem sido considerados pelo ministro da Cultura “degradantes da função política”.

Da mesma maneira, teve nula influência nas intenções de voto do PS o facto de o primeiro-ministro ter enfrentado o Presidente da República, quando se recusou a aceitar a demissão de João Galamba exigida pelo chefe de Estado.

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou publicamente que estava disposto “a assumir toda e qualquer responsabilidade” – incluindo a da dissolução da Assembleia da República – por recusar o conselho presidencial de demitir Galamba. A recusa foi uma atitude inédita entre primeiros-ministros e presidentes da República, mas a verdade é que isso não diminuiu os prognósticos eleitorais do PS nesta sondagem – ou seja, comprar uma guerra com o Presidente parece não estar a custar nada eleitoralmente aos socialistas.

Apesar de não ter caído relativamente à última sondagem, este tem sido um ano de enorme desgaste para o PS. Em Julho de 2022, passados apenas seis meses das eleições em que obteve maioria absoluta, o PS já só tinha 38% das intenções de voto. Um ano depois, são seis pontos percentuais a menos.

O Chega perde um ponto percentual relativamente à sondagem de Fevereiro – passa de 11% para 10%. O mesmo se passa com a Iniciativa Liberal, que desce dos 8% da sondagem de Fevereiro para 7%. Aparentemente, os dois pontos percentuais que o PSD ganhou podem ter vindo dos partidos à sua direita, IL e Chega. Só que efectivamente o PSD ainda não se assume como uma genuína alternativa de direita, ao não conseguir alterar, nas sondagens, o karma do empate técnico.

No entanto, a direita – sem Chega – pode chegar aos 41%, muito perto da maioria absoluta, juntando os 1% do CDS que a sondagem prevê.

A maioria absoluta é, segundo a sondagem, claríssima (51%), se a decisão do PSD for a de avançar para uma coligação com o Chega, defendida por muitos dentro do partido e nunca definitivamente posta de lado por Luís Montenegro, que persiste num discurso equívoco.

Mas a esquerda também tem, aritmeticamente, condições para repetir a “geringonça”, se fosse essa a vontade do PS e dos restantes partidos que em 2015 “derrubaram um muro”, nas palavras de António Costa.

Juntando o Livre ao PS, que continua a ter 2% como estimativa de resultado eleitoral, somando o Bloco de Esquerda (que regista 7%, o mesmo resultado que obteve na anterior sondagem, antes da convenção que elegeu Mariana Mortágua como líder), a CDU, que se mantém nos 4%, e o PAN (1%) – a esquerda, caso se voltasse a juntar, obtinha 46% dos votos, o suficiente para uma maioria parlamentar. A “geringonça” é repetível? Depois da crucificação eleitoral de que foram vítimas PCP e Bloco de Esquerda após aceitarem apoiar “o Governo minoritário do PS” – como o PCP costumava dizer –, a coisa torna-se hoje mais difícil do que em 2015.

O trabalho do Cesop analisa também a intenção de votar em legislativas. Uma grande maioria dos inquiridos pela sondagem, 77%, diz que “de certeza que iria votar”, apenas 13% afirmam que “em princípio iria votar”, uns escassos 5% assumem que “não sabe se iria votar”. Apenas 4% têm a “certeza que não iria votar” e 1% declara que “não tencionaria ir votar”. Os resultados da sondagem sugerem que a abstenção em próximas legislativas seria fraquíssima – mas não tem sido essa a tendência. Apenas 51,42% dos portugueses votaram nas legislativas de 2022, mas foi uma percentagem maior do que nas eleições de 2019, quando a taxa de abstenção atingiu o recorde de 51,4%.

Ficha Técnica

Este inquérito foi realizado pelo CESOP–Universidade Católica Portuguesa para a RTP, Antena 1 e Público entre os dias 6 e 15 de Julho de 2023. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram seleccionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efectuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objectivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1006 inquéritos válidos, sendo 45% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 32% da região Norte, 20% do Centro, 34% da A.M. de Lisboa, 7% do Alentejo, 4% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base no recenseamento eleitoral. A taxa de resposta foi de 29%. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1006 inquiridos é de 3,1%, com um nível de confiança de 95% (Algumas perguntas foram colocadas apenas a uma subamostra de 656 entrevistados. Nestes casos, a margem de erro máxima é de 3,8%) (Publico, texto da jornalista Ana Sá Lopes)

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