quarta-feira, julho 19, 2023

Sondagem: Governo, custo de vida e corrupção são os principais problemas do país

A maioria dos portugueses afirma que o país está pior do que há um ano, mas o número baixou face à sondagem de Fevereiro. A governação e o Governo surgem como o principal problema do país, seguidos pela inflação e o custo de vida e a corrupção, na mais recente sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica sobre o estado do país e os principais problemas. Ainda assim, somando as diferente preocupações dos portugueses, as que se relacionam com o rendimento disponível continuam à frente das preocupações com a governação e a confiança nos políticos. O inquérito, realizado nos dias 5 e 6 e Julho para o PÚBLICO, RTP e Antena 1​, mostra que 16% dos portugueses identificam a governação e o Governo como o principal problema do país, 15% apontam a inflação e o custo de vida e 12% a corrupção. Seguem-se a saúde (8%), a habitação ou as taxas de juro (7%) e a economia (5%). Só depois aparecem os baixos salários (4%) e a credibilidade ou capacidade dos políticos (3%). Mais residual é a preocupação com a educação, os impostos e a justiça, que foram identificados como o problema mais relevante do país por apenas 2% dos inquiridos. De notar que a resposta à pergunta "era aberta, não havendo uma lista de respostas predefinidas", e que o inquérito identifica apenas os problemas referidos por pelo menos 2% dos inquiridos.

Os resultados revelam uma alteração nas preocupações dos portugueses face à sondagem de há um ano, de Julho de 2022, em que a inflação e a quebra de rendimentos eram identificadas como o principal problema do país por 20% dos inquiridos, ao passo que o Governo e a governação apareciam apenas em terceiro lugar (8%) e a corrupção em sexto (4%). E também em relação à ultima destas sondagens, de Fevereiro de 2023. No estudo realizado há cinco meses, 20% dos entrevistados pelo Cesop colocavam a inflação e o custo de vida no topo dos problemas, acima da governação e do Governo, ainda que este tema aparecesse com uma percentagem semelhante à actual (15%), tal como a corrupção (11%). Ou seja, nos últimos meses a preocupação com a inflação recuou, ao passo que apreensão suscitada pela corrupção e pela governação registou ligeiras subidas.

João António, responsável técnico pelas sondagens da Católica, considera "normal" a maior atenção dada "aos problemas da governação", tendo em conta "que se tem falado tanto dos casos do Governo na comunicação social". "Não sei se algum outro Governo foi tão falado", diz.

Mas assume que a preocupação com os temas da governação e da corrupção são "sinais de que as pessoas estão a sentir que alguma coisa está a correr mal", já que numa "sociedade que esteja a funcionar bem" seria de esperar que dessem mais importância a temas como a saúde, por exemplo. Há um ano, esse foi precisamente o segundo problema apontado pelos inquiridos.

Rendimento disponível pesa mais

Ainda assim, somados os problemas relacionados com o rendimento disponível – a inflação, o custo de vida, os baixos salários, a habitação, a economia e os impostos –, estes temas, no seu conjunto, continuam a pesar mais para os portugueses do que as questões relacionadas com a governação e a confiança nos políticos – em que se engloba o Governo, a corrupção e a credibilidade ou capacidade dos políticos. Os temas que se prendem com o rendimento representam 34%, enquanto os temas da governação não passam dos 31%.

Estes valores subiram em relação a Julho de 2022, altura em que as preocupações com o rendimento não ultrapassaram os 24%, e os problemas relacionados com a governação os 14%. Outra mudança visível face há um ano é o facto de a habitação e as taxas de juro aparecerem agora como um dos principais problemas e de tanto a guerra como os incêndios terem desaparecido da lista.

A sondagem surge numa altura em que o primeiro-ministro tem sido criticado por desvalorizar a corrupção, após ter afirmado, quando foi questionado sobre a demissão do ex-secretário de Estado da Defesa (suspeito de corrupção), que os portugueses estão mais preocupados com temas como "o impacto da inflação". António Costa escreveu entretanto um artigo de opinião no Observador em que frisou que nem na pergunta que lhe fora feita nem na resposta dada foi referida a expressão corrupção, garantindo que não desvaloriza o fenómeno da corrupção.

Estado do país menos negativo face a Fevereiro

Quanto ao estado do país, a maioria dos inquiridos (65%) considera que o país está pior do que há um ano, 22% dizem que está igual e 12% acreditam que está melhor. A avaliação dos portugueses é menos negativa relativamente à última sondagem do Cesop, de Fevereiro, em que 72% das pessoas entrevistadas afirmavam que o país estava pior, 17% que estava igual e 9% que estava melhor. Já em relação ao inquérito de há um ano, a opinião dos portugueses mantém-se praticamente inalterada. Na sondagem de Julho de 2022, 63% dos inquiridos consideravam que o estado do país tinha piorado, 24% que estava igual e 11% que estava melhor.

Ficha técnica da sondagem

Este inquérito foi realizado pelo CESOP-Universidade Católica Portuguesa para a RTP, Antena 1 e Público entre os dias 6 e 15 de Julho de 2023. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram seleccionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efectuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objectivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1006 inquéritos válidos, sendo 45% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 32% da região Norte, 20% do Centro, 34% da Área Metropolitana de de Lisboa, 7% do Alentejo, 4% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base no recenseamento eleitoral. A taxa de resposta foi de 29%. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1006 inquiridos é de 3,1%, com um nível de confiança de 95%. Algumas perguntas foram colocadas apenas a uma subamostra de 656 entrevistados. Nestes casos, a margem de erro máxima é de 3,8% (Publico, texto da jornalista Ana Bacelar Begonha)

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