domingo, julho 30, 2023

Vergonhosa ladroagem: "Grandes bancos lucram 11 milhões de euros por dia na primeira metade do ano"

Resultado líquido dos cinco maiores bancos a operar no País ascendeu a quase dois mil milhões de euros até junho. Juros altos renderam 4,2 mil milhões na margem financeira, que catapultou mais de 70% em termos homólogos. Banco do Estado voltou a encabeçar os ganhos, depois de registar mais de metade dos lucros alcançados em 2022, mas foi o BCP o que mais cresceu, multiplicando o resultado por sete. Prosseguindo a trajetória ascendente iniciada já no ano passado, os cinco maiores bancos a operar no país alcançaram um resultado líquido consolidado de 1,9 mil milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, tendo lucrado cerca de 11 milhões por dia até junho, o que, comparando com o igual período de 2022, reflete uma melhoria de quase 60%, segundo os cálculos feitos pelo DN/Dinheiro Vivo. Mais uma vez, a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o banco do Estado, voltou a ser a protagonista na tabela dos ganhos, ao somar 607,8 milhões de euros, um valor que não só reflete uma subida de 25% face aos 485,6 milhões registados no semestre homólogo, como também representa mais de metade dos lucros obtidos em todo o exercício anterior (843 milhões).

Mas, o maior crescimento deu-se do lado do BCP. O banco liderado por Miguel Maya fez o milagre da multiplicação por quase sete e o resultado líquido passou de 62,2 milhões de euros em junho do ano passado, para 423 milhões nesse mesmo mês, em 2023. A evolução foi de 580% - ou 361 milhões de euros, em termos absolutos -, apesar dos encargos de 399 milhões gerados pelo polaco Bank Millennium, detido em 50% pelo grupo.

O Novo Banco, que em fevereiro viu dar por concluído o seu processo de reestruturação, ganhou fôlego e conquistou o terceiro lugar do pódio, alcançando lucros consolidados de 373,2 milhões de euros, resultantes de uma subida de praticamente 40% em relação ao final do sexto mês de 2022.

Restam as instituições presididas por Pedro Castro e Almeida e João Pedro Oliveira e Costa. No caso do Santander Totta, o crescimento do resultado líquido fixou-se nos 38%, o que permitiu encaixar mais 96,4 milhões de euros em relação ao período homólogo - no total, o banco lucrou 333,7 milhões. Já o BPI foi o que, ao nível absoluto, menos cresceu, somando, ainda assim, 53 milhões de euros, que perfizeram 256,2 milhões de euros, mais 26% face a junho do ano anterior.

Altos juros rendem para cima de 4,2 mil milhões de euros

BPI, Caixa, Millennium BCP, Novo Banco e Santander viram, sem exceção, o produto bancário crescer nos primeiros seis meses do ano. E o dedo aponta para uma só culpada: Christine Lagarde. Ou, no caso, o próprio Banco Central Europeu (BCE), que se mantém firme na sua estratégia de arrefecer a economia e conter a inflação, através de subidas consecutivas na taxa de juro.

Esta escalada, que tem vindo a agravar as prestações pagas aos bancos, sobretudo no crédito à habitação, conjugada com o facto de os depósitos a prazo em Portugal continuarem a remunerar abaixo do que seria expectável - em maio, a taxa de juro média dos novos depósitos até um ano fixou-se nos 1,18% -, fez com que a margem financeira conjunta das cinco instituições catapultasse.

Feitas as contas, a diferença obtida entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos rendeu aos bancos mais de 4,2 mil milhões de euros até junho, disparando quase 74% face ao semestre homólogo, altura em que foram embolsados 2,4 mil milhões de euros provenientes desta rubrica.

Analisando individualmente, o banco presidido por Miguel Maya foi, à semelhança do sucedido no primeiro trimestre, o que mais beneficiou da subida das taxas de juro, ao encaixar 1,37 mil milhões de euros de margem financeira desde o início do ano, numa subida compreendida em 39,5%. Seguiu-se a CGD de Paulo Macedo, com 1,31 mil milhões e o maior crescimento dos cinco: 127,7%.

O Santander, apesar de não ter alcançado o terceiro lugar dos maiores ganhos, tomou essa posição na tabela da margem financeira, somando 586,5 milhões de euros - um acréscimo de 58,4% em relação ao igual período de 2022. Seguiram-se o banco da Lone Star, com um crescimento de 95,5%, para 524 milhões de euros, e o BPI, com um aumento de 81%, para 438,6 milhões.

Carteira de crédito cai e leva comissões atrás

Amortizações antecipadas e menor procura por financiamento, quer por parte das famílias, como das empresas, foram, segundo a maioria dos CEO, as principais explicações para que a carteira de crédito consolidada dos cinco bancos sofresse um decréscimo de 0,7% no primeiro semestre de 2023.

O abrandamento, especialmente no mercado de crédito hipotecário, já vinha a ser notado desde o início do ano, e levou a que, no final de junho, o stock de empréstimos concedidos pelo BPI, CGD, Millennium BCP, Novo Banco e Santander totalizasse 208,06 mil milhões de euros, um montante que compara com os 209,5 mil milhões homólogos.

Excetuando os bancos liderados por Mark Bourke e João Pedro Oliveira e Costa, que apresentaram evoluções positivas de 1% e 3,8%, respetivamente, todas as outras instituições sofreram perdas. O Totta assumiu a maior, de menos 3,8% para 41,9 mil milhões de euros, seguindo-se o Millennium (-1,3%) e a Caixa (-0,8%).

O decréscimo da atividade creditícia impactou também aquelas que são as receitas obtidas por meio de comissões cobradas aos clientes. Até junho, reduziram 1,7% para 1,19 mil milhões de euros, enquanto no primeiro semestre de 2022 o valor obtido por esta via foi de 1,22 mil milhões. O BCP foi o banco que mais ganhou ao nível do comissionamento (387 milhões), sucedendo-se a Caixa Geral de Depósitos (289,1 milhões) e o Santander (231,2).

Corte nos depósitos e nos trabalhadores

Desde que o ano arrancou, os cinco bancos viram sair quase sete mil milhões de euros dos seus cofres, provenientes da atividade doméstica e internacional. Os depósitos agregados do BPI, CGD, Millennium BCP, Novo Banco e Santander, somavam, até junho, cerca de 247,9 mil milhões de euros, o que, comparativamente com o igual período do ano passado, traduz uma queda superior a 2,7%.

A aposta nos Certificados de Aforro - que até ao mês seis, pela subscrição da série E, remuneravam a um máximo de 3,5% - e os reembolsos antecipados da dívida da casa terão sido as principais explicações. A instituição liderada por Pedro Castro e Almeida foi a mais penalizada, com as perdas a chegarem quase aos 9%, e o BCP foi o único do grupo a acumular mais poupanças (+2,9%).

Aqueles não foram os únicos recursos a conhecer um corte. Os cinco bancos fecharam os primeiros seis meses do ano com menos 439 trabalhadores e 75 balcões em Portugal, comparativamente com o igual período de 2022.

A Caixa liderou a saída de colaboradores (-293) e o fecho de dependências (-24), seguindo-se o BPI (-83/18 , o Novo Banco (-35/-12) e o Santander (-30/-8 agências). O Millennium, embora tenha encerrado 12 sucursais no país, foi o único banco que não registou perdas, somando até mais duas pessoas (DN-Lisboa, texto da jornalista Mariana Coelho Dias)

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