O aumento dos resultados líquidos de 1.151 milhões de euros em 2022 está sobretudo relacionado com a subida de 1.381 milhões de euros da margem financeira e com a diminuição de cerca de 600 milhões de euros dos custos com a constituição de imparidades e de provisões. O Banco de Portugal atualizou as suas “séries longas do setor bancário português” e nelas destaca que em 2022, os resultados líquidos dos bancos foram positivos pelo quinto ano consecutivo. Os lucros não eram tão elevados desde 2007.
Entre 2011 e 2017, a rentabilidade do setor (rentabilidade dos capitais próprios) tinha sido negativa, com exceção de 2015, ano em que foi virtualmente nula. Mas, os resultados de 2022, que corresponderam a 0,7% do ativo, foram os mais elevados desde 2007, ano anterior ao início da crise financeira internacional. O aumento dos resultados líquidos de 1.151 milhões de euros em 2022 está sobretudo relacionado com a subida de 1.381 milhões de euros da margem financeira e com a diminuição de cerca de 600 milhões de euros dos custos com a constituição de imparidades e de provisões. O aumento da margem financeira ocorreu num contexto em que as taxas de juro dos empréstimos tiveram uma resposta mais rápida à subida dos juros nos mercados interbancários do que as taxas de juro dos depósitos. No final de 2022, esse diferencial era de 3,30 pontos percentuais, o valor mais elevado desde 2003, ano inicial das séries de taxas de juro.
Recorde-se que o BCE começou a subir as suas taxas de juro em julho do ano passado. Sempre que o BCE revê das taxas de juro assistimos a um aumento da Euribor, isto porque a evolução das taxas de juro Euribor está intimamente ligada às subidas ou descidas das taxas de juro diretoras do BCE. As Euribor começaram a subir mais significativamente em fevereiro de 2022, depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter referido que poderia subir as taxas de juro diretoras devido ao aumento da inflação na zona euro, já sentido desde o final de 2021.
“O rácio de crédito vencido, isto é, a percentagem de crédito em situação de incumprimento ou atraso no pagamento relativamente ao total do crédito, voltou a diminuir”, revela o BdP que acrescenta que “no final de 2022, este rácio era de 1,4%, o valor mais baixo de toda a série disponibilizada”.
Número de balcões continua em rota descendente
Em 2022, o número de agências bancárias reduziu-se de 4.820 para 4.626. Os dados revelam que o número de balcões relacionados com a atividade doméstica tem vindo a diminuir, de forma ininterrupta, desde 2010, totalizando menos 3.090 balcões (48%). Já o decréscimo nas agências relacionadas com a atividade internacional foi de 450 balcões (26%) em relação ao valor máximo observado em 2012.
O Banco de Portugal constata que o número de agências e o número de trabalhadores “demonstram a continuidade do ajustamento iniciado por volta de 2010, quer na atividade doméstica quer na internacional”. A informação por grupo bancário, aponta para a manutenção do número de balcões ou para quedas muito ligeiras nos grupos de menor dimensão ou com menor atividade de retalho. Nos grupos bancários de maior dimensão as reduções são mais expressivas, em especial nas relacionadas com a atividade doméstica.
Número de bancários subiu em 2022
Já no que toca ao número de trabalhadores, em 2022, havia mais 119 quadros no setor bancário, número especialmente concentrado na atividade em Portugal. Esta subida, contrária à tendência de redução de trabalhadores observada nos últimos anos, sublinha o BdP que acrescenta que esta subida “é explicada pelo aumento de trabalhadores de um banco que, apesar de localizado em Portugal, tem a atividade orientada para a prestação de serviços a uma escala global”, sem identificar.
Meios de pagamento: alterações que vieram para ficar
Os dados sobre a utilização dos diferentes meios de pagamento mostram que os efeitos da pandemia de Covid-19 não foram revertidos e terão acelerado uma maior adesão aos meios eletrónicos, conclui o BdP.
As transferências a crédito e as operações baseadas em cartão voltaram a crescer em 2022, depois do expressivo aumento registado durante a pandemia, entre 2019 e 2021.
O supervisor bancário avança ainda que no ano passado, nas operações baseadas em cartão, para além das compras, destaca-se a componente “outros” que inclui, nomeadamente, os pagamentos de baixo valor associados a portagens e estacionamentos, e as transferências imediatas efetuadas com cartão, “cujo grande crescimento observado durante a pandemia foi reforçado em 2022”.
Pelo contrário, diz o BdP, “a acentuada diminuição da utilização de caixas automáticos (Automated Teller Machine — ATM) para efetuar pagamentos (por exemplo, pagamentos de telecomunicações, ao Estado e à Segurança Social) e levantamentos durante a pandemia ficou ainda mais expressiva em 2022”. As séries longas incluem informação histórica de indicadores financeiros, empréstimos a clientes, taxas de juro, recursos humanos, distribuição de agências e pagamentos desde 1990 (Jornal Económico, texto da jornalista Maria Teixeira Alves)
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