Esta foi uma
semana com demasiada "turbulência" informativa. Primeiro foi a
saltada de Biden a Kiev para adiantar nada ao que já se sabia antes dela. Ficou
o simbolismo da visita. Depois foram dois discursos de Putin para dizer a mesma
porcaria mentirosa de sempre, vendendo aos russos, sem acesso a uma comunicação
social livre, um país e um mundo que nada tem a ver com a realidade, negando o
que todos sabemos ser a verdade, mas demonstrando que a capacidade de
manipulação do regime totalitário de Moscovo, e a forte censura imposta, rende os
frutos desejados.
A isto junta-se o
discurso de Biden em Varsóvia, com poucas novidades, direccionado contra Putin
e a guerra que ele construiu na sua loucura sanguinária, mas
"esquecendo" habilmente a China, porque os EUA dificilmente conseguem
enfrentar duas potências ao mesmo tempo.
Daqueles dois
discursos de Putin ficou a decisão - perigosa mas que pode ser também uma
tentativa de pressão sobre as opiniões públicas ocidentais e de propagação do
medo - de suspender (diferente de abandonar) o último Tratado Start assinado
pelos EUA e pela Rússia e que ainda se mantinha em vigor. Embora de pouco ou
nada valendo, na medida em que o sucesso destes acordos sobre matéria nuclear, depende
da confiança entre os subscritores. Neste momento é fácil concluir que essa
confiança mútua entre EUA e Rússia é nula.
Confesso que me
interrogo, e cada vez mais, sobre os efeitos da manipulação informativa, promivida
pelos dois lados, sobre as opiniões públicas ocidentais e do discurso belicista
da NATO e daquele patético secretário-geral - dizem que vai abandonar o cargo
para ocupar um tacho na liderança de um banco na Noruega - e a qual a dimensão
da mentira que todos "cheiramos" em cada declaração proferida.
Acho que todos nos
lembramos do que os EUA e os seus aliados na coligação que invadiu o Iraque
disseram sobre as armas de destruição massiva alegadamente existentes no Iraque
de Saddam, que foram o pretexto para a invasão militar que depôs Saddam e
destruiu economicamente um pais rico e cujas sanções ocidentais nenhum efeito
tiveram. Factual é que essas tais armas nunca foram localizadas e todos
desconfiam que nunca existiram. Ou seja, foi montada uma enorme teia de mentira
e de manipulação para justificar uma invasão que já estava decidida muito
antes, enganando até organismos internacionais como a ONU. Os mentores sabiam
que as opiniões públicas ocidentais, depois da invasão do Kuwait pelo Iraque, nunca
mais perdoaram Saddam. Era fácil “vender” qualquer teoria. E nem falo na
fantochada da cimeira nos Açores que antecedeu a invasão... O
"ambiente" de hostilidade ajudou essa patifaria bem montada.
Desconfio que a
guerra na Ucrania esconde muitas histórias - a começar por pretensas tentativas
de contactos falhados ou recusados para evitar a guerra... - que estão por contar. Não me espantaria nada
que estivessemos em linha com mais uma situação semelhante à que aconteceu no Iraque
e no Afeganistão - de onde os EUA sairam de forma vergonhosa abandonando aquele
povo ao radicalismo talibã que reassumiu o poder. Espero que tudo o que
aconteceu na Ucrânia - onde depois desta guerra nojenta, destruidora e
sanguinária é fácil, demasiado fácil, reunir ódios contra Putin, porque na
realidade foi ele a invandir um pais independente e a matar pessoas e destruir
bens - não se compare a estes casos que referi.
E não vale a pena perguntar o que fizeram os
"indignados" de hoje quando em 2014 a Rússia de Putin invadiu o
Donbass, o mesmo Donbass que é hoje palco de combates violentos, ou quando a
Rússia tomou de assalto a Crimeira reclamando-a como território russo.
Sim o problema tem
a ver com a História, com o processo de desagregação da antiga URSS, com a
criação de uma vintena de novos países independentes, a partir do imenso
territorio da antiga URSS soviética e comunista. Sim, o problema reside no
facto de que Putin, antigo agente secreto do KGB e que há mais de 25 anos
deambula pelos corredores do poder em Moscovo, tomando mesmo de assalto os mais
altos cargos do país - primeiro-ministro e Presidente - nunca aceitou essa
decomposição territorial incentivada e apoiada pelos ocidentais, com os EUA e a
Europa à cabeça, que apostaram e conseguiram fragilizar a Russia e tornar
Moscovo insignificante no contexto da política mundial, Sim, o problema é que
tudo isso mudou agora, e muito, mudou demasiado, de forma violenta e sanguinária,
sem que ninguém saiba o que vai acontecer e muito menos garantir como é que
tudo isto acabará. Ou se vamos alegre e pateticamente caminhar para um confronto nuclear guiados por
idiotas como o secretário-geral da NATO e outros falcões que, dos dois lados do
conflito, condicionam e dominam os processos de decisão das estruturas
militares que, de uma forma ou de outra, estão presentes na guerra da Ucrânia.
Mas isso são
factos para os especialistas, e para aqueles que acham que só podemos falar da
guerra manipulando as opiniões públicas, incluindo a portuguesa, com
comentadores televisivos tendenciosos que não explicam todas as realidades
históricas essenciais a uma correcta percepção do que se passou na realidade na
Ucrânia e no seu processo de independência que Moscovo sempre verberou.
Histórias que contribuíram para uma guerra nojenta que todos diziam ser
inevitável mas que hipocritamente vieram chorar lágrimas de crocodilo e de
falsa surpresa quando os russos entraram há um ano pela Ucrânia e queria tomar Kiev de assalto e destruir
o poder ucraniano. Sem sucesso, felizmente.
Mas nada ficará
como antes, nada será igual à pré-invasão russa a começar pala Ucrânia apesar
de, paradoxo dos paradoxos, este país continuar envolto em escândalos de corrupção
em plena guerra, aproveitando-se essas redes de bandidos, com ligações sabe-se
lá a quem - já se esqueceram das denúncias do Panamá Papers sobre a Ucrânia e
alguns dos seus dirigentes?! Ou não interessa falar nisso agora?! (LFM, artigo de opinião publicado no Tribuna da Madeira de 24.2.2023)