“Em geral, tende a confiar nesta instituição ou tende a não confiar?” Cinco meses depois, a equipa do ICS-ISCTE que fez a sondagem para o Expresso e a SIC voltou a fazer esta pergunta para avaliar a confiança em seis instituições. E o que resulta das respostas é um quadro mais negro do que em junho passado, com o Governo a sair ainda pior da fotografia. Agora, depois do caso Influencer e da demissão de António Costa, apenas 28% dos inquiridos dizem confiar no Governo — uma queda de 6 pontos —, sendo que também o Presidente da República perde a confiança em 4 pontos percentuais dos inquiridos, acima da margem de erro da sondagem. Mesmo assim, e em plena polémica relacionada com as suspeitas de tratamento preferencial a duas gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria, a perda de Marcelo é menos pronunciada, permitindo ao chefe de Estado manter-se destacadamente como a única instituição que merece avaliação positiva dos portugueses: 65%. Ainda assim, vale a pena anotar que o trabalho de campo foi feito antes da comunicação do Presidente ao país acerca daquele tema, no dia 4 de dezembro.
Perceção sobre a evolução da corrupção mantém-se
alta: 72% dizem que “aumentou”
O facto é que todas as restantes instituições se
mantêm em terreno negativo: os tribunais merecem a confiança de apenas 46% dos
inquiridos (idêntico a junho), o Parlamento, 36% (menos 2 pontos), os partidos,
17% (menos 1). E até os meios de comunicação perdem, de 44% para 39% — mesmo
assim, só abaixo do Presidente da República e dos tribunais.
CORRUPÇÃO ASSUSTA, CHEGA CAPITALIZA
As perceções sobre a evolução da corrupção
continuam, também elas, muito altas: 72% dos portugueses consideram que a
corrupção “aumentou” ou “aumentou muito” no último ano, 25% que “ficou na
mesma” e só 2% que “diminuiu”. Como explica o relatório desta sondagem, “em
comparação com o primeiro estudo onde colocámos esta questão — em setembro de
2019 —, as perceções dos inquiridos degradaram-se”: eram ‘apenas’ 60% em 2019,
passando para cerca de três em cada quatro inquiridos em 2021 — um número que
agora se mantém estável.
Os tribunais só merecem a confiança de 46% dos
inquiridos, o Parlamento, 36%, os partidos, 17%
Já quando questionados sobre “qual o partido
político que dá atualmente a melhor resposta para o combate à corrupção”, há
uma diferença notória face ao questionário de 2019: se continuam a ser
maioritários os que não escolhem nenhum (55%), desta vez o Chega e o PS são os
dois partidos mais mencionados (14% e 13% dos inquiridos, respetivamente). Há
quatro anos, recorde-se, o partido de André Ventura estava pendente de
legalização e formava a coligação Basta! para as eleições europeias. Mas desde
então alavancou no tema da corrupção boa parte da sua agenda política.
Enquanto isso, as menções ao PSD mantêm-se estáveis em relação a 2019 (8%), diminuindo as referências ao PS (de 18% para 13%) e ao Bloco de Esquerda (de 7% para 3%). A Iniciativa Liberal, que surgiu no espetro político ao mesmo tempo que o Chega, obtém apenas 2% das respostas nesta pergunta, tantas quanto o PCP.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 18 e 27 de novembro de 2023. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (5 regiões NUTII) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 89 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 3163 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 803 entrevistas válidas (taxa de resposta de 25%, taxa de cooperação de 34%). O trabalho de campo foi realizado por 40 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 803 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto do jornalista DAVID DINIS e infografias d SOFIA MIGUEL ROSA)
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