Será que a
coligação PSD-CDS na Madeira, para as legislativas nacionais - nas eleições
regionais perdeu votos e mandatos - vai acabar por dar um deputado na
Assembleia da República ao Chega, pelo círculo da Madeira? Começo a desconfiar
que esse desfecho tem potencialidades para se tornar uma inevitabilidade,
devido ao "deserto" em que PSD e CDS transformaram, desnecessária e
erradamente, o campo eleitoral da direita na Região.
Qual foi a evolução
eleitoral do Chega e da Iniciativa Liberal, partidos recentes e com reduzido
historial eleitoral na RAM até ao momento e porque motivo o Chega alimenta a
esperança de eleição de um deputado a Lisboa (há dias um conhecido militante e
dirigente deste partido garantia-me que, cautelosamente, o Chega-Madeira até
não exclui a possibilidade de dois eleitos na Região...)
Chega
Regionais
2019 -
619 votos, 0,4%
2023 -
12.028 votos, 8,9%, 4 deputados
Legislativas
2019 -
911 votos, 0,7%
2023 -
7.727 votos, 6,1%
Iniciativa
Liberal
Regionais
2019 -
762 votos, 0,5%
2023 -
3.555 votos, 2,6%, 1 deputado
Legislativas
2019 -
922 votos, 0,7%
2023 -
4.241 votos,3,3%
Espero que este
quadro explique melhor a situação, usando os resultados mais recentes das
regionais e das legislativas nacionais.
É factual que
depois desta negociata das coligações na direita, um eleitor - e acreditem que
existem parcelas significativas de pessoas nessa situação - que recuse votar no PSD-Madeira ou no
CDS-Madeira, quando coligados, talvez porque nunca votou antes nesse modelo
eleitoral, alimentado por uma lógica construída ao longo de 40 anos de política
regional jardinista que transformou o CDS - que na Madeira até já fez coligação
com o PS em autárquicas - numa espécie de inimigo do PSD-Madeira, e vice-versa,
que alternativas tem ao seu dispor, que opções existem à direita susceptíveis
de obterem o seu voto de protesto? Apenas a abstenção ou, não a querendo,
apenas o Chega, que temo que vá vai continua a capitalizar os efeitos do
descontentamento popular e, no caso das legislativas nacionais de Março de
2024, acrescido pelos "contributos" mais directos e que nos levaram a
esta crise política que teve o PS e Costa no seu epicentro.
Já na esquerda,
com o PS-Madeira de novo liderado por Paulo Cafofo, a dúvida é apenas uma: vão
os partidos, todos, ser capazes de manter sem grandes variações, os eleitores
conseguidos nas regionais de Setembro deste ano ou, pelo contrário, Cafofo vai
repetir as "dentadas" dadas nas regionais de 2019 a todos eles, que
ou perderam votos e deputados ou foram mesmo afastados do parlamento regional
como foi o caso do Bloco? Essa é uma dúvida pertinente, que legitimamente pode
e deve ser colocada, embora pessoalmente considere que o Cafofo de 2024, para
legislativas nacionais, nada tem a ver com o Cafofo de 2019 para as eleições
regionais. São disputas diferentes, motivações diferentes, eleitorados que
decidem de formas diferentes, propósitos distintos, votações diferentes, enfim,
uma panóplia de factores que podem impedir que o PS-Madeira seja capaz de
"engolir" eleitorado à esquerda como fez em 2019.
E será basicamente
em função do que se vier a passar nestas duas distintas frentes de combate
eleitoral, que dependerá a configuração dos mandatos da Madeira em São Bento -
para uma Legislatura que duvido seja mantida tranquilamente durante os seus 4
anos de previsibilidade - e se PSD e PS vão ou não conseguir manter os actuais
3 mandatos que cada um deles tem ou se, como julgo inevitável, vão acontecer
mudanças neste domínio. Mais adiante, apoiado pelos quadros eleitorais que
elaborei, será mais facilmente perceptível porque motivo Chega e JPP sonham
alto com São Bento - algo que seria inédito, ao nível do deputado que o Bloco
elegeu na Madeira em 2015 com uma votação semelhante à obtida por aqueles dois
partidos mas nas regionais deste ano.
Com base nos resultados das regionais deste ano, elaborei este quadro - método de Hondt - que ajuda a perceber a esperança do Chega e do JPP em elegerem pelo menos um deputado a São Bento, precisando para tal de pelo menos manterem a base eleitoral conquistada nas regionais de Setembro passado:
Recordo a evolução
eleitoral do Bloco de Esquerda:
Regionais
2015 - 4.850
votos, 3,8%, 2 deputados
2019 - 2.489
votos, 1,7%, sem deputados
2023 - 3.036
votos, 2,2%, 1 deputado
Legislativas
2015 - 13,342
votos, 10,7%, 1 deputado
2019 - 6.806
votos, 5,2%
2022 - 4.109
votos, 3,2%
Quanto à JPP
temos:
Regionais
2015 - 13.114
votos, 10,3%, 5 deputados
2019 - 7.830
votos, 5,5%, 3 deputados
2023 - 14.933
votos, 11%, 5 deputados
Legislativas
2015 - 8.671
votos, 8,9%
2019 - 7.125
votos, 5,5%
2022 - 8.721
votos, 6,9%
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