domingo, dezembro 17, 2023

Eleições: especulando sobre a lista do PS-Madeira

 

Será que a coligação PSD-CDS na Madeira, para as legislativas nacionais - nas eleições regionais perdeu votos e mandatos - vai acabar por dar um deputado na Assembleia da República ao Chega, pelo círculo da Madeira? Começo a desconfiar que esse desfecho tem potencialidades para se tornar uma inevitabilidade, devido ao "deserto" em que PSD e CDS transformaram, desnecessária e erradamente, o campo eleitoral da direita na Região.

Qual foi a evolução eleitoral do Chega e da Iniciativa Liberal, partidos recentes e com reduzido historial eleitoral na RAM até ao momento e porque motivo o Chega alimenta a esperança de eleição de um deputado a Lisboa (há dias um conhecido militante e dirigente deste partido garantia-me que, cautelosamente, o Chega-Madeira até não exclui a possibilidade de dois eleitos na Região...)

Chega

Regionais

2019 - 619 votos, 0,4%

2023 - 12.028 votos, 8,9%, 4 deputados

Legislativas

2019 - 911 votos, 0,7%

2023 - 7.727 votos, 6,1%

Iniciativa Liberal

Regionais

2019 - 762 votos, 0,5%

2023 - 3.555 votos, 2,6%, 1 deputado

Legislativas

2019 - 922 votos, 0,7%

2023 - 4.241 votos,3,3%

Espero que este quadro explique melhor a situação, usando os resultados mais recentes das regionais e das legislativas nacionais.


É factual que depois desta negociata das coligações na direita, um eleitor - e acreditem que existem parcelas significativas de pessoas nessa situação -  que recuse votar no PSD-Madeira ou no CDS-Madeira, quando coligados, talvez porque nunca votou antes nesse modelo eleitoral, alimentado por uma lógica construída ao longo de 40 anos de política regional jardinista que transformou o CDS - que na Madeira até já fez coligação com o PS em autárquicas - numa espécie de inimigo do PSD-Madeira, e vice-versa, que alternativas tem ao seu dispor, que opções existem à direita susceptíveis de obterem o seu voto de protesto? Apenas a abstenção ou, não a querendo, apenas o Chega, que temo que vá vai continua a capitalizar os efeitos do descontentamento popular e, no caso das legislativas nacionais de Março de 2024, acrescido pelos "contributos" mais directos e que nos levaram a esta crise política que teve o PS e Costa no seu epicentro.

Já na esquerda, com o PS-Madeira de novo liderado por Paulo Cafofo, a dúvida é apenas uma: vão os partidos, todos, ser capazes de manter sem grandes variações, os eleitores conseguidos nas regionais de Setembro deste ano ou, pelo contrário, Cafofo vai repetir as "dentadas" dadas nas regionais de 2019 a todos eles, que ou perderam votos e deputados ou foram mesmo afastados do parlamento regional como foi o caso do Bloco? Essa é uma dúvida pertinente, que legitimamente pode e deve ser colocada, embora pessoalmente considere que o Cafofo de 2024, para legislativas nacionais, nada tem a ver com o Cafofo de 2019 para as eleições regionais. São disputas diferentes, motivações diferentes, eleitorados que decidem de formas diferentes, propósitos distintos, votações diferentes, enfim, uma panóplia de factores que podem impedir que o PS-Madeira seja capaz de "engolir" eleitorado à esquerda como fez em 2019.

E será basicamente em função do que se vier a passar nestas duas distintas frentes de combate eleitoral, que dependerá a configuração dos mandatos da Madeira em São Bento - para uma Legislatura que duvido seja mantida tranquilamente durante os seus 4 anos de previsibilidade - e se PSD e PS vão ou não conseguir manter os actuais 3 mandatos que cada um deles tem ou se, como julgo inevitável, vão acontecer mudanças neste domínio. Mais adiante, apoiado pelos quadros eleitorais que elaborei, será mais facilmente perceptível porque motivo Chega e JPP sonham alto com São Bento - algo que seria inédito, ao nível do deputado que o Bloco elegeu na Madeira em 2015 com uma votação semelhante à obtida por aqueles dois partidos mas nas regionais deste ano.

Com base nos resultados das regionais deste ano, elaborei este quadro - método de Hondt - que ajuda a perceber a esperança do Chega e do JPP em elegerem pelo menos um deputado a São Bento, precisando para tal de pelo menos manterem a base eleitoral conquistada nas regionais de Setembro passado:

Recordo a evolução eleitoral do Bloco de Esquerda:

Regionais

2015 - 4.850 votos, 3,8%, 2 deputados

2019 - 2.489 votos, 1,7%, sem deputados

2023 - 3.036 votos, 2,2%, 1 deputado

Legislativas

2015 - 13,342 votos, 10,7%, 1 deputado

2019 - 6.806 votos, 5,2%

2022 - 4.109 votos, 3,2%

Quanto à JPP temos:

Regionais

2015 - 13.114 votos, 10,3%, 5 deputados

2019 - 7.830 votos, 5,5%, 3 deputados

2023 - 14.933 votos, 11%, 5 deputados

Legislativas

2015 - 8.671 votos, 8,9%

2019 - 7.125 votos, 5,5%

2022 - 8.721 votos, 6,9%


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