segunda-feira, dezembro 04, 2023

Sondagem: PS alarga distância para o PSD e Chega não pára de crescer

A crise política e a ausência de um líder não fizeram mossa ao PS. De acordo com uma sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF, os socialistas até reforçam o primeiro lugar (32,9%) com seis pontos de vantagem sobre o PSD (26,7%), que também cresce, confirmando a ideia de que, quando há eleições no horizonte, o Bloco Central ganha força. Mas há um partido imune ao apelo do voto útil: o Chega volta a subir (16,2%) e já vale mais do dobro do Bloco de Esquerda (6,9%). Seguem-se a Iniciativa Liberal (5%), a CDU (3,2%), o PAN (2,9%), o Livre (2%) e o CDS (1,5%). O resultado do PS é um paradoxo: consegue a melhor percentagem do ano (de um total de cinco sondagens) poucas semanas depois de uma investigação judicial que provocou um terramoto político que levou à demissão do Governo, ao anúncio da dissolução da Assembleia da República e à marcação de eleições para 10 de março. E quando ainda decorre a luta interna para encontrar um novo líder. Em vez de afastar eleitores, a crise parece ter funcionado como uma espécie de toque a rebate. Os próximos meses dirão se o fenómeno é fugaz ou duradouro.

É importante recordar que uma sondagem não é uma previsão sobre o futuro. É um retrato do que já passou. No caso desta sondagem, o trabalho de campo decorreu entre 18 e 23 de novembro. O que significa que, depois do choque inicial da Operação Influencer, os eleitores já sabiam que o juiz de instrução criminal tinha recusado as suspeitas de corrupção e libertado todos os suspeitos. Como também já tinham ouvido António Costa acusar o presidente da República de provocar uma “crise irresponsável” (Marcelo está em mínimos históricos na avaliação dos portugueses).

Uma vitória de Pirro

Sejam as razões que forem, a verdade é que a fotografia mostra os socialistas mais fortes (mesmo sem líder), quando se compara com a sondagem de outubro (subiram quatro pontos); mas bastante mais frágeis do que nas legislativas de 2022 (têm agora menos nove pontos).

Se estes resultados se replicassem nas urnas, estaríamos perante uma vitória de Pirro, porque a maioria parlamentar estaria à Direita (os diferentes partidos desse bloco somam 49 pontos). Um cenário inverso ao de 2015, em que a coligação PSD/CDS, então liderada por Passos Coelho, venceu as eleições, mas a maioria parlamentar estava à Esquerda.

Luís Montenegro já disse (e repetiu) que só será primeiro-ministro se vencer as eleições, ainda que recusando amarrar o partido a essa decisão “pessoal”. Esta sondagem não lhe aponta, de facto, as melhores perspetivas: mesmo que o PSD tenha crescido quase dois pontos relativamente a outubro (curiosamente os mesmos dois que os liberais perderam), continua quase três pontos abaixo das últimas legislativas.

Um retrato datado

Vale a pena fazer de novo a ressalva de que se trata de um retrato político do passado. E no caso de Luís Montenegro isso pode ser muito relevante, uma vez que o trabalho de campo decorreu antes do congresso do fim de semana passado, e, portanto, antes de promessas como a “pensão mínima” de 820 euros ou a baixa do IRS até ao oitavo escalão, ou seja, para toda a classe média. Propostas que marcaram a agenda político-mediática dos últimos dias.

Mas há mais indicadores nesta sondagem que consolidam a sensação de incerteza quanto a uma solução de governo. Em particular uma pergunta sobre o tempo em que os eleitores decidem a quem entregar o seu voto: cerca de um quarto (23%) afirma que só tomará uma decisão definitiva “mais em cima da eleição”. Avaliando o outro lado da moeda, há, no entanto, um segmento do eleitorado que se destaca por decidir “muito antes da eleição”: o do Chega.

Nas últimas legislativas, o chamado Bloco Central (PS e PSD) somou 69 pontos percentuais. De então para cá e em sucessivas sondagens, foi perdendo fulgor. Na sondagem de outubro passado já valia menos 16 pontos percentuais. Mas bastou a certeza de que haverá eleições, para a tendência se inverter. É a força do chamado voto útil, que é sempre uma ameaça para os partidos à Esquerda do PS, ou para os que estão à Direita do PSD. A exceção que confirma a regra é o Chega (16,2%).

A força do Chega

A força centrípeta do Bloco Central não parece suficiente para afetar o partido de André Ventura, que é o único dos “pequenos” partidos que sobe face à sondagem de outubro (antes da crise) e, mais significativo ainda, é o partido que mais cresce relativamente às legislativas de 2022: seriam mais nove pontos percentuais e um grupo parlamentar que rondaria as três dezenas de deputados.

Este resultado, se se confirmasse nas urnas, faria do Chega um partido incontornável para um Governo à Direita que aspire a uma maioria parlamentar. Até porque os dois parceiros mais prováveis do PSD de Luís Montenegro não têm nesta altura as melhores perspetivas: a Iniciativa Liberal de Rui Rocha parece já estar a sofrer, na sondagem, os efeitos do voto útil e poderia aspirar, na melhor das hipóteses, a repetir o resultado das últimas legislativas (5%); enquanto o CDS de Nuno Melo não encontra a fórmula para evitar a irrelevância e ficaria com o mesmo resultado de janeiro de 2022 (1,5%) e, provavelmente, fora do Parlamento. A melhor garantia de sobrevivência dos centristas parece ser uma aliança pré-eleitoral com o PSD.

Pormenores

26% - A percentagem dos que assumem nesta sondagem que se vão abster é bastante inferior à das últimas legislativas: 49%. Mas é preciso ter em conta que o nível de abstenção nas eleições se ficou em dever, em grande parte, aos recenseados no estrangeiro: só votaram 174 mil (11%) de mais de milhão e meio de pessoas.

44% - Se os mais velhos são fundamentais para vencer umas eleições, então o PS tem nesta altura uma vantagem clara sobre o PSD: mais 15 pontos percentuais. O Chega está em terceiro neste segmento da amostra, mas verifica-se que quanto mais velhos os eleitores, menor é o apoio ao partido de Ventura.

19% - Já não é um fenómeno passageiro: é a quinta sondagem consecutiva que o Chega fica em terceiro lugar na região de Lisboa (o maior círculo eleitoral do país). Mesmo tendo em conta que a margem de erro nos segmentos é bastante maior, são já duas vagas (outubro e novembro) em que fica próximo dos 20 pontos.

Mais velhos com o PS

Ainda relativamente à abstenção, esta sondagem (como as anteriores) mostra que, quanto mais velhos os eleitores, maior é a participação: 40% dos que têm 18 a 34 anos vão abster-se; no caso dos que têm 65 ou mais anos seriam apenas 12%, o que faz deles um segmento crucial para quem tenha a ambição de vencer.

Diferenças de género

A exemplo da sondagem de outubro, o PS é o partido mais equilibrado no que diz respeito ao género (o resultado é praticamente igual entre homens e mulheres). O PSD continua a ter pendor feminino (mais cinco pontos que entre eles), enquanto o Chega é claramente mais masculino (mais oito pontos que entre elas)

BE rouba Porto à IL

A Iniciativa Liberal perde preponderância na Área Metropolitana do Porto, com o BE (13,5%) a recuperar o terceiro lugar. Ainda assim, é nas áreas metropolitanas que os liberais têm os seus melhores resultados. A CDU está melhor a Sul e em Lisboa; o PAN a Sul; o Livre em Lisboa; e o CDS a Norte.

AVALIAÇÃO

Chega a influenciar Governo é negativo... mas não muito

Com a perspetiva de uma maioria de Direita no Parlamento, e independentemente de o PSD ser ou não capaz de chegar em primeiro, um dos temas da campanha já em curso será a da influência e eventual participação do Chega numa solução de Governo. Uma possibilidade que a maioria dos portugueses (52%) considera negativa, segundo a sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF. Mas é importante notar que para 28% até é positiva e que para outros 17% é indiferente.

Mesmo que uma boa parte dos que votam no PS e no PSD partilhem a ideia de que a influência do Chega seria negativa, o detalhe dos números revela um grau de preocupação diferente: entre os socialistas são 66%, entre os sociais-democratas apenas 44%. E há 38% de eleitores de Luís Montenegro que entendem que isso até seria positivo. Se somarmos os 18% para quem essa questão é indiferente, chega-se a uma maioria de 56% de sociais-democratas para quem a influência ou participação do Chega num Governo não é incómoda.

Tendo em conta a forma como avaliam esta questão os eleitores dos dois principais partidos, percebem-se melhor os resultados sobre quem serão os principais adversários nesta campanha. No caso de ser Pedro Nuno Santos o próximo líder do PS (e é ele o favorito a vencer a luta interna), os portugueses adivinham que apontará mais a André Ventura (44%) do que a Montenegro (40%). No caso do líder do PSD, a mira estará sobretudo direcionada para o rival socialista (47%), nem tanto para o líder do Chega (38%).

Analisando os diferentes segmentos da amostra, percebe-se que a influência ou eventual participação do partido de Ventura num futuro Governo à Direta é melhor acolhida entre os que vivem na região Norte e entre os eleitores do grupo etário mais jovem (em ambos os casos, 36% acham positivo, 53% não o consideram negativo); e mais temida entre os que vivem na Área Metropolitana do Porto (62%) e os portugueses com 65 ou mais anos (66%) (DN-Lisboa, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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