Conforme se aproxima o segundo aniversário da invasão da Ucrânia pela Rússia, a paralisia do conflito tem aberto hostilidades na retaguarda: diante da perspetiva da anulação das eleições presidenciais marcadas para março de 2024, vários candidatos à sucessão de Volodymyr Zelensky já começaram a movimentar-se para forçar o presidente a convocar eleições. Nas últimas semanas têm surgido vários pretendentes ao assento presidencial da Ucrânia – o mais óbvio foi Oleksii Arestovich, antigo conselheiro militar de Zelensky e responsável pelo canal do YouTube mais seguido na Ucrânia, que garantiu, ao jornal espanhol ‘El Mundo’, que o atual presidente ucraniano atingiu “o seu mais alto nível de incompetência” e que deveria realizar eleições para ser afastado.
O próximo candidato é o autarca de Kiev e ex-campeão mundial de pesos-pesados de boxe, Vitali Klitschko, que admitiu recentemente que não fala com Zelensky. “Se parar o gravador, conto o que penso dele”, comentou, que viveu momentos de tensão com o presidente russo depois de este o ter acusado de não manter em boas condições a rede de abrigos da capital ucraniana.
Nesta disputa interna, a mais recente adição é Valery Zaluzhny, comandante das Forças Armadas Ucranianas e uma das pessoas mais populares do país desde o início da guerra. Segundo a publicação ‘Ukrainska Pravda’, a agência de notícias ucraniana, “Zelensky comunica com alguns comandantes das Forças Armadas Ucranianas, mas evita o chefe do Estado-Maior General Valery Zaluzhny”. As declarações do comandante à revista ‘Time’, nas quais salientou que a guerra tinha “estagnado”, incomodou Zelensky. O último personagem da disputa é um velho conhecido de Zelensky: o seu ex-rival Petro Poroshenko, ex-presidente de 2014 a 2019, um dos grandes oligarcas ucranianos e dono da maior empresa de doces do país, a Roshen.
Mas é possível realizarem-se eleições presidenciais num contexto de guerra? Para começar, teria de ser anulada a lei marcial, o que teria consequência no recrutamento de civis para o exército e na norma que proíbe a saída do país de homens em idade militar. O segundo problema é o dos territórios ocupados. A Rússia permanece em 18% da Ucrânia, o que impede que os eleitores sejam consultados nessas áreas. Além disso, seis milhões de ucranianos continuam refugiados no resto da Europa. Além disso, os cerca de mil quilómetros de frente de batalha seria um caso difícil de resolver – o transporte das urnas de votos representa um enorme problema de segurança, numa área infestada por minas, com escolas bombardeadas e onde estão destacados centenas de milhares de soldados (Executive Digest, texto do jornalista Francisco Laranjeira)
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