Recomendo vivamente que não se deixem influenciar por ambientes forçados ou quase ficcionais. Felizmente sei do que falo, sem como tudo isso é feito. Nos últimos anos de actividade política mais intensa, sobretudo depois da campanha das regionais de 2011 (foi ela que marcou muita coisa, a começar por uma certa mudança de atitude do eleitorado que deixou de ser tolerante como antes), eu percebi, melhor do que antes, que as encenações são o maior perigo para as lideranças partidárias, sobretudo para as lideranças mais fracas ou aquelas que se fragilizam porque se sentem mais ameaçadas por acontecimentos futuros que não controlam. A minha sugestão é esse: não se iludam nem se deixem influenciar - acho que todos estão conscientes disso - porque uma coisa é a realidade dentro de portas, muitas vezes bem preparada e cujos protagonistas nada têm a perder se se envolverem, outra coisa é, depois, a realidade concreta, lá fora, quando é preciso fazer escolhas e tomar opções. Aqui é que as coisas se complicam porque os resultados normalmente acabam por nada ter a ver com as encenações, As autárquicas de 2017 foram, nesse aspecto, bem dolorosas, porque acabamos por constatar que a diferença entre a tal realidade concreta e o imaginário sempre volátil, assente em suposições desfasadas, foi demasiado chocante e penosamente derrotadora.
Sem a persistência no terreno, sem a paciência para falar com as pessoas, ouvi-las, percebe-las, lutar por elas, com elas, sem que estatutos sociais - uma merda da sociedade dos nossos dias - influenciem seja o que for, incluindo o relacionamento pessoal na política, tudo o que for feito vai direitinho e aceleradamente para o caixote do lixo. O que é preciso, cada vez mais preciso, é a humildade dos sábios, o seu realismo e pragmatismo, sem mentiras, sem hipocrisia, sem demagogia, sem a merda das redes sociais da trampa quando se transformam em arenas de julgamento até do carácter de pessoas que nem conhecem, sem o acomodamento patético de quem acha que a política se faz hoje com o facebook e outras redes sociais mais usadas, manipulando grupos de espertalhões "paridores" de comentários anónimos, todos articulados, obedecendo a uma mesma cartilha de procedimentos e adjectivações, sem os sofás do acomodamento, sem o convencimento, sem a mania tonta de que temos sempre a razão, etc.
Eu sei, conheço bem esse fenómeno, que em caso de vitória não faltam aqueles que se colocam na primeira fila a reclamar méritos que ninguém lhes reconhece. Os mesmos, as tais ratazanas, que em caso de derrota são também as primeiras a sair do esgoto e a querer responsabilizar terceiros pelo fracasso, pelo desaire, pela incapacidade de antecipar desfechos previsíveis (o que eu poderia dizer sobre isso...), regra geral porque ambicionam ocupar o lugar do outro, etc, etc.
Temos que saber quais são os atributos essenciais ao sucesso. Portanto, nada de guerras internas, nada de divisões patéticas, nada de intrigas estúpidas, nada de amuos infantis, nada de pedantismo idiota, nada de tolerância para os oportunismos promovidos, intolerância anda maior para os incompetentes que se julgam iluminados caídos dos céus, ofendendo a inteligência e o saber e experiência das pessoas. Há sempre a possibilidade de paralelamente suprir essas falhas e essas faltas e encontrar uma linha de rumo que atenue os efeitos dessa incompetência promovida. Com a qual temos que viver porque as escolhas são da responsabilidade de que as faz. Portanto, não se iludam com facilitismos de festanças que valem o que valem (LFM)