O PCP resolveu avançar com uma moção de censura - sem governo empossado, sem parlamento constituído e sem reuniões agendadas - contra a direita, depois de ter levado com mais uma derrota nas urnas, tudo isto apenas por oportunismo saloio e tentar ganhar espaço mediático, já que apoios e votos não consegue de forma nenhuma, nem nas urnas nem fora delas, sobretudo mantendo o mesmo discurso de sempre, desajustado, distante de uma realidade social que nada tem a ver com os tempos da clandestinidade ou os primeiros anos do pós-25 de Abril. Se há eleitores desiludidos com o sistema político o PCP tem a sua quota parte de responsabilidades nisso. Paulo Raimundo, faça os malabarismos e contorcionismos que fizer, nunca poderá esconder a realidade de ter sido um derrotado destas eleições de 10 de Março. Os problemas são outros, novos, mais difíceis, exigem a mesma luta, mas o PCP tem dificuldade em sair do seu universo dos sindicatos associados ao funcionalismo público para ganhar novos espaços de influências. Acresce ainda que o PCP foi empurrado, por força da sua perda eleitoral, para uma disputa à esquerda com partidos que "comeram" o eleitorado do PCP, casos do Bloco e do Livre mais recentemente.
Vamos a factos: o PCP passou de 441.852 votos, 7,9% e 16 deputados em 2011, para 445.980 votos, 8,3% e 17 deputados em 2015, depois para 332.473 votos, 6,6% e 12 deputados em 2019, descendo ainda mais, devido ao péssimo negócio da geringonça, para 238.962 votos e 6 deputados em 2022 e finalmente para 4 deputados, 202.325 votos e 3,3% em 2024, sem contar com os votos da emigração que são sempre pouco significativos para os comunistas.
Ou seja, temos uma direita radical que o PCP combate tenazmente com mais 5 vezes mais a votação dos comunistas que elege 12 vezes mais lugares que os deputados conseguidos pelo PCP. E mais nos dois grandes distritos do país - Porto e Lisboa - o PCP foi 6º no Porto, ultrapassado pelo Livre, e elegendo apenas um deputado, cenário que foi ainda pior no distrito de Lisboa onde o PCP foi apenas o 7º partido, também atrás do Bloco e do Livre, e elegendo apenas 2 deputados.
No antigo "Portugal vermelho", Beja, Évora e Setúbal, o PCP foi o 4º partido sem deputados eleitos e foi também o 4º partido em Setúbal elegendo aqui 1 deputado (tivera 2 mandatos em 2022).
Para além das perdas eleitorais, o PCP tem dois problemas: um, mais urgente, encontrar o seu espaço político próprio no actual contesto social e político português. Em segundo lugar, mais difícil, reencontrar uma nova liderança que seja tão carismática e convincente - para o universo eleitoral que o PCP foi perdendo ao longo dos anos - como foi Álvaro Cunhal, sem dúvida uma figura ímpar para os comunistas portugueses, desde os tempos da clandestinidade.
Acresce que a ambiguidade, por exemplo em relação à guerra na Ucrânia, tem custado votos e apoios ao PCP que eu continuo a achar que é um partido necessário sobretudo enquanto partido fomentador do protesto social mas que não pode cair nestes erros primários próprios de um partido derrotado, que quer esconder a derrota a todo o custo, o que explica que tenha avançando com uma moção de censura, apenas por motivações ideológicas, contra um governo que não existe e um programa de governo que ninguém conhece, num parlamento que nem reuniu e ainda por cima num tempo em que nem os resultados eleitorais finais foram divulgados O desespero é evidente a par da ânsia de ser colocar em bicos-de-pés quando saiu ainda mais "anão" do que já era, depois destas legislativas de Março, por culpa própria. Ou o PCP virou um daqueles adivinhos que oferecem serviços por anúncios de jornais, mas que na realidade não adivinham nem resolvem coisa nenhuma?! Haja bom senso e alguma tranquilidade de espírito (LFM)