quarta-feira, março 20, 2024

Perda de votos provoca as primeiras fricções dentro do PS

Líder socialista madeirense, que é membro do Governo, contestado internamente por ter culpado “desgaste da governação nacional” pela perda de votos e de um deputado na região. Começam a vir à superfície as primeiras discussões internas no PS motivadas pelo mau resultado do partido nas eleições legislativas de domingo passado. Faltando ainda apurar a distribuição dos quatro eleitos pela emigração (dois pelo Círculo da Europa e outros dois pelo Círculo de Fora da Europa), já é claro que o partido perdeu cerca de meio milhão de votos e de 40 deputados.

O tiro de partida foi dado na Madeira - círculo onde o PS passou de três eleitos (em seis, sendo os outros três do PSD) para dois, tendo o deputado perdido passado para o Chega. O PS passou de 31,47% para 19,84%, perdendo cerca de 11 mil votos (de 40 mil desceu para 29,7 mil). O líder socialista regional, Paulo Cafôfo, colocou-se debaixo de fogo ao ter justificado a perda de votos do PS na ilha somente com o “desgaste da governação nacional”. Prosseguindo o mesmo raciocínio, assegurou que, se as eleições fossem apenas regionais - e o PS exige-as antecipadamente, devido à demissão do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque  -, “os resultados seriam claramente outros”, segundo Cafôfo.

Nas redes sociais surgiram vários comentários de figuras do PS-Madeira contestando os argumentos do líder regional. Carlos Pereira, deputado madeirense eleito pelo Círculo de Lisboa, revelou-se “chocado” com o resultado do PS na região e considerou que Cafôfo “não pensou bem no que disse”, sendo as suas declarações enquadráveis num “clima de tensão e de stress”.

No Facebook, Miguel Silva Gouveia, dirigente socialista vereador na Câmara do Funchal, escreveu que “a atitude digna seria reconhecer a derrota eleitoral, reconhecer que a estratégia de tentativa de capitalizar politicamente os processos judiciais falhou redondamente, reconhecer que foi um erro construir um projeto assente na imagem de uma única pessoa, reconhecer a incapacidade em unir o partido e reconhecer que não estão reunidas as condições para que o PS se afirme como uma alternativa de Governo para a Madeira”, sendo tudo isto “assuntos que devem merecer profunda reflexão nos próximos dias”.

Paulo Cafôfo não gostou do que ouviu e leu, e ontem reagiu dizendo que continua “muito concentrado em mudar a região, enquanto há outros militantes que estão preocupados unicamente em mudar a direção do partido”.

“Eu não vou perder tempo, quando quero é mudar a região. Não vou fazer o jogo do PSD, porque estar a falar demasiado de questões internas, quando as pessoas não têm coragem de se apresentar a eleições e podiam tê-lo feito, quando não têm a coragem de aparecer na campanha eleitoral e nos eventos promovidos pelo partido, é um jogo que só beneficia o adversário [o PSD]”, disse aos jornalistas, ontem de manhã no Funchal, depois da primeira reunião da Comissão Política Regional do PS realizada após as legislativas nacionais.

"Autonomia 24"

Entretanto, formou-se dentro  do PS-Madeira um movimento de reflexão denominado Autonomia 24, fundado por, entre outros, o deputado à Assembleia da República Carlos Pereira. Esta nova corrente de opinião parece agregar descontentes com a liderança de Paulo Cafôfo no PS-Madeira. O PS pede eleições regionais antecipadas. A partir do próximo dia 24, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltará a ter o poder de as marcar (DN-Lisboa, texto do jornalista João Pedro Henriques)

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