A uma semana das legislativas, há 240 mil indecisos e um milhão que só decide “em cima da eleição”. Chega solidifica terceiro lugar, comunistas voltam à tona. Quando falta uma semana para a ida às urnas, e no dia em que algumas dezenas de milhares de portugueses votam antecipadamente, continua tudo em aberto relativamente ao vencedor e aos cenários de governabilidade. De acordo com a sondagem da Aximage, a vantagem ainda é do PS (33,1%), mas a AD (29,6%) encurtou a distância, ao ponto de ter de se afirmar, quando se tem em conta a margem de erro, que há um empate técnico. Há dois outros sinais significativos nesta última projeção antes das legislativas: a recuperação dos comunistas (4%) e a quebra dos liberais (3,9%). O Chega mantém um sólido terceiro lugar (16,7%), seguindo-se um BE ligeiramente reforçado (6,6%), e por fim PAN (2%) e Livre (1,7%) em perda.
A projeção, recorde-se, fala para o passado, não pode ser entendida como uma previsão rigorosa das escolhas dos eleitores a 10 de março. Neste caso, é o retrato do sentimento político dos portugueses entre 23 e 27 de fevereiro, quando já tinham terminado os debates televisivos e começava em força a campanha nas ruas. E o que o estudo nos diz, quando se tem em conta a margem mínima e máxima, é que o PS ficaria entre os 29,7% e os 36,5%, enquanto para a AD se aponta para 26,2% a 33%. Mas há outros dados que reforçam a incerteza quanto ao resultado.
Direita à frente
Desde logo, os 4,4% de indecisos: ou seja, cerca de 240 mil eleitores (se projetarmos esta percentagem para os pouco mais de cinco milhões que votaram em 2022). Depois, os 20% que garantem que só decidem em definitivo “mais em cima da eleição” (no mínimo, um milhão de eleitores). O suficiente para se perceber que os três pontos percentuais, ou cerca de 160 mil votos, que separam PS e AD são quase insignificantes (de novo projetando as percentagens atuais no universo dos que votaram nas últimas legislativas em território nacional).
Se o vencedor estaria sempre por encontrar, o cenário de governabilidade é ainda mais nebuloso. A soma da Direita (50 pontos) continua a ser superior à da Esquerda (45 pontos), mas quando se retira o Chega da equação (dando como definitivo o “não é não” de Luís Montenegro), o cenário é diferente: AD e liberais valem 36 pontos, enquanto socialistas, bloquistas, comunistas e Livre somam 45. É pouco provável, portanto, que algum destes blocos consiga uma maioria parlamentar, mesmo que possam contar com o PAN.
PS estagnou
Outra conclusão que se retira desta projeção de resultados é que o chamado Bloco Central está menos atrativo. Quando se comparam as intenções de voto atuais com as últimas legislativas, Pedro Nuno Santos está oito pontos abaixo de António Costa, e até Luís Montenegro está ainda um ponto abaixo da soma de PSD e CDS em 2022, e com menos nove pontos do que a coligação entre os dois partidos, com Pedro Passos Coelho, em 2015.
Quando a comparação se faz com a sondagem de fevereiro, detetam-se outro tipo de tendências nos dois favoritos: o PS estagnou, mas a AD ganhou novo impulso (cresceu dois pontos). E se se tiver em conta os resultados nos diferentes segmentos da amostra, percebe-se que foi devido às mulheres que Montenegro se aproximou mais um degrau do seu rival socialista. Outro dado relevante, mas para o PS, é a vantagem muito significativa sobre a AD nos dois escalões mais velhos, e em particular entre os pensionistas (65 anos ou mais), em que a diferença é de 12 pontos. O líder social-democrata tarda em reconciliar-se com os mais velhos (sendo que este estudo já não mede o impacto da participação de Passos Coelho na campanha).
Liberais em queda
Com um cenário de governabilidade nebuloso e a probabilidade de não haver maiorias nem à esquerda, nem entre os partidos do centro-direita, ganha relevo a notável resistência do Chega (16,7%) no terceiro lugar, que lhe valerá uma bancada com três ou quatro dezenas de deputados. O partido de André Ventura mais do que duplica o seu resultado de há dois anos, vale mais do que a soma dos quatro seguintes da tabela (BE, CDU, IL e PAN) e volta a ser o primeiro entre os mais jovens (18 a 34 anos).
Analisando a prestação dos restantes partidos, o BE poderá ter um resultado (6,6%) acima do desastre de 2022, mas nem é essa a principal novidade desta sondagem, antes a recuperação da CDU (4%). Não por comparação com as últimas eleições, mas com as últimas sondagens, podendo presumir-se que a campanha não está a correr mal a Paulo Raimundo. Os comunistas, que em fevereiro ficaram pela primeira vez em último lugar, ultrapassaram três concorrentes, incluindo a Iniciativa Liberal (3,9%) que parece estar a ser vítima de voto útil à Direita. O cenário também não é muito favorável para PAN (2%) e Livre (1,7%), que arriscam manter, quando muito, o deputado único.
Pedro Nuno melhor que Montenegro
A grande maioria dos inquiridos (71%) da sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF viu o frente a frente entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro nas televisões, fosse em direto, fosse através de resumos posteriores. E entre os que viram são mais os que atribuem a melhor prestação a Pedro Nuno Santos (46%) do que os que escolhem Luís Montenegro (38%). É verdade que, para a maioria (76%), o que viram não influenciou o seu sentido de voto, mas houve ainda assim 24% para quem o debate fez a diferença. No que diz respeito ao vencedor do frente a frente nas televisões, os que mais apreciaram o líder socialista vivem em Lisboa e têm 65 ou mais anos; enquanto o líder social-democrata se destacou entre os que vivem no Porto e os que têm 18 a 34 anos. Os que mais admitem que o debate influenciou a sua intenção de voto são os que vivem no Porto e no Norte, as mulheres e os mais jovens.
FICHA TÉCNICA
Sondagem de opinião realizada pela Aximage para DN/JN/TSF. Universo: Indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 809 entrevistas efetivas: 686 entrevistas online e 123 entrevistas telefónicas; 380 homens e 429 mulheres; 175 entre os 18 e os 34 anos, 210 entre os 35 e os 49 anos, 215 entre os 50 e os 64 anos e 209 para os 65 e mais anos; Norte 285, Centro 178, Sul e Ilhas 118, A. M. Lisboa 228. Técnica: aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para pessoas com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 23 e 27 de fevereiro de 2024. Taxa de resposta: 74,1%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,4%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio (DN-Lisboa, texto do jornalista Rafael Barbosa)
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