
As eleições regionais
de 23 de Março apresentam vários desafios aos diferentes partidos. Desafios que
diferem entre si, na exacta proporção da dimensão social e dos objectivos
eleitorais dos partidos. Uma coisa são partidos do chamado arco da governação (ou
próximo), outra coisa são partidos que apenas lutam pela eventual eleição de um
seu representante no parlamento regional e cuja vitória é, desde logo, a de
terem sequer apresentado um a lista de candidatos. Realidades incomparáveis
como é evidente. Obviamente que os processos judiciais que estiveram na origem
da crise política regional podem ser colocados em cima da mesa, mas a verdade é
que o tema não conheceu nenhuma evolução agravadora da realidade já de todos
conhecida. Aliás, na altura em que escrevo este texto, não deixa de ser
estranho - salvo se tudo aconteceu sem que tivéssemos sabido - que os
secretários regionais e o Vice-Presidente da ALRAM (secretário-geral do PSD) a
quem foi levantada a imunidade parlamentar, ainda não tenham sido chamados a depor
perante as autoridades judiciais competentes e que coordenam o processo de
investigação que ficou conhecido em Maio do ano passado.
Dado novo foi o
arquivamento do processo visando o titular do Turismo, por decisão do
Ministério Público que não terá visualizado matéria de facto para dar andamento
à denúncia anónima, num caso que não envolve directamente corrupção nem tem
ligação aos demais. Mas a notícia da sua existência acelerou as movimentações
partidárias do "impoluto" Chega que culminaram com a moção de
censura. Um arquivamento decidido pelo MP “por inexistência de crime” e
“insuficiência de indícios” mas que enfureceu, visível e perceptivelmente,
alguns sectores políticos da oposição e alguns "justiceiros da
trampa" que vazam nas redes sociais as suas frustrações, quiçá por temerem
eventual igual desfecho igual nalguns dos outros casos...
Os desafios dos partidos
Diferentes são de facto as "guerras" que
envolverão os partidos nas regionais de 23 de Março, sendo possível, traçado no
caso de cada um deles, objectivos e enumerar algumas dificuldades:
- PSD - apostado em vencer as regionais e em
chegar aos 20 a 21 deputados. Reconhecidamente é um partido fortemente
pressionado por suspeitas surgidas de casos judiciais que precisam rapidamente
de ser clarificados para que a tranquilidade seja devolvida. Duvido que o
eleitorado fiel do PSD-M confunda a árvore com a floresta mesmo que esteja
agastado com certas situações. Até porque estar no poder é melhor que na
oposição e, pior ainda, ser atirado por culpa própria e divisões internas para
uma penosa travessia no deserto;
- PS - sem mudanças de protagonistas e com a mesma
atitude de ir a reboque da agenda suscitada pelo espaço mediático o PS-M sabe
que a pressão que o JPP exercerá pode penalizá-lo e que eventuais projectos
políticos à sua esquerda podem também prejudicá-lo nas urnas. Beneficiando do
facto dos "seus" processos judiciais estarem em banho-maria, o PS-M
vai ficar a saber se as percepções penalizadoras do PS nacional constante
de sondagens, também o atingirão;
- CDS - sem grandes mudanças de pessoas na lista,
o proposito é manter um grupo parlamentar e ter uma posição parlamentar que lhe
garanta a continuidade da presidência da Assembleia. Um discurso populista e
assente em promessas, umas atrás das outras, parece ser a tática a usar de novo;
- PCP e Bloco - o regresso ao parlamento é
propósito comum, mas existem factores internos e externos - caso do discurso e
da falta de renovação no PCP e do potencial impacto associado à polémica
interna surgida no Bloco em Lisboa - que podem condicionar os objectivos
eleitorais. A que se junta uma nova e atenta Frente eleitoral...
- Chega - Claramente quer pelo menos manter
um grupo parlamentar, mas há a percepção de que podem ter sido cometidos erros
políticos no processo da moção de censura, sobretudo erros temporais e
políticos, a que se junta a constatação de que quem manda de facto no
Chega-Madeira é o Presidente em Lisboa o que pode não agradar aos eleitores
madeirenses, incluindo os mais conservadores. Acresce que a agressividade
constante do discurso pode estar a saturar e a levantar dúvidas entre eleitores
do partido que não se identificam com extremismos e outros exageros;
- Iniciativa Liberal - tem o propósito de
manter pelo menos o representante. Não creio que existam condições para aspirar
a mais do que isso e mesmo assim a saída de Nuno Morna, que tem sido a figura
pública do partido, saída essa em condições ainda não devidamente explicadas,
pode fragilizar o partido e, em última instância, penalizar a intenção de
eleição de pelo menos um deputado. Uma excessiva e prescindível colagem a uma
solução parlamentar de esquerda pode tornar a IL numa
"desnecessidade" eleitoral;
- Força Madeira - a coligação de Raquel
Coelho - sem dúvida a figura com maior visibilidade mediática e experiência
política - para além de ter sido uma boa aposta, na lógica dos 3 partidos e
caso eles mantenham as suas melhores votações, pode aspirar, se beneficiar de mais-valias-externas,
nomeadamente fugas do eleitorado do PCP e do Bloco, e pelos motivos atrás
referidos, a eleger 1 deputado que é o seu grande objectivo. Não deixa de ser
uma empreitada difícil de as eleições apostarem no apelo ao voto útil que em
2019 mostrou do que é capaz de fazer, à esquerda;
- JPP - entusiasmada pela votação de Maio de
2023 – mas sem saber se é realmente sua ou se resultou de mais-valias surgidas
num determinado momento, contexto e por motivos concretos (que passam por
“fugas” no universo eleitoral do PSD), o JPP quer sobretudo ter um papel
importante numa eventual solução de esquerda no futuro parlamento e
"ajustar” contas com o PS. A subida da parada expressa nos objectivos
eleitorais, são “depressivos” para o partido e pressionam essencialmente o PS,
já que ambos disputam uma mesma faixa eleitoral. Mas o JPP tem de estar atento
à sua esquerda onde PCP e Bloco, apesar das dificuldades porque passam, tentam
o regresso ao parlamento, aos quais se junta a Frente eleitoral acima referida.
Estamos a falar de eleitorado disputado sobretudo à esquerda, pelo JPP, pelo PS
e pelos partidos à esquerda de ambos;
- PAN - Acho que luta pela sobrevivência
parlamentar num contexto difícil a que se juntam algumas posições dúbias que
não ajudam em nada a que seja olhado pelos eleitores como uma necessidade
eleitoral e política num contexto que será fortemente bipolarizado e pela
pressão de partidos à esquerda do PAN. Pode vir a ser penalizado pela coligação
de Raquel Coelho sobretudo pelo eleitorado à esquerda. Vai precisar de
trabalhar muito e de ser firme nas ideias e coerente politicamente falando. Não
apenas “mais um” numa esquerda fragmentada;
- Restantes partidos - não prevejo sucesso eleitoral
por parte de nenhum deles, além de quererem dar um sinal de sobrevivência, que
não é compatível com votações insignificantes ainda por cima num quadro
político e eleitoral fortemente bipolarizado, em que farão apelos ao não
“desperdício” de votos nos partidos mais pequenos, antecipação que não favorece
projectos pequenos e ainda por cima isolados e “distantes” das pessoas.
Partidos que habitualmente só perto de eleições dão sinal de vida, muitos deles
sem actividade política, sem sede, sem dirigentes – apenas candidatos – sem
congressos regionais que os legitimem reforçadamente, etc (continua, textos publicados no Tribuna da Madeira de 14 e 21.2.25)