sábado, fevereiro 08, 2025

Opinião: Não perco tempo

Não, hoje não vou perder tempo, por enquanto, com deambulações em torno de uma “crise” política e institucional regional, fabricada no exterior, em Lisboa, e que colocou a careca de muitos pretensos autonomistas, bem à vista de todos. Lutamos desde 1976 para termos o nosso espaço próprio de afirmação, para sermos senhores do nosso presente e do nosso futuro, e eis-nos, indiferentes, cúmplices até, a tolerar retrocessos, na política e nos partidos, expressos em casos de ingerência vergonhosa de políticos continentais nas questões regionais, ainda por cima por causa de ajustes de contas políticos e vinganças pessoais que nada têm a ver com a Região. A Madeira foi vítima disso - independentemente de outros factores mal geridos... – os Açores já o tinham sido antes e o país idem. Estamos num tempo do vale tudo em que os eleitores é que precisam dizer o que querem, se a estabilidade, se o espectáculo e a palhaçada, promovendo incompetentes e “sérios” até que um dia se instalem no poder...

Nós não somos perfeitos, nunca fomos perfeitos. Alguns acham que sim. Puro engano, pura mentira. Como seres humanos, cometemos erros, somos muitas vezes injustos na avaliação que fazemos dos outros quando erram, na forma como os "condenamos" sem sequer ouvirmos os argumentos em sua defesa. Mas já reagimos com violência, quando somos o epicentro dos acontecimentos ou os alvos dos ataques e da devassa pública, esquecendo que muitos dos que cometem erros - pelos quais terão obviamente de pagar, nos locais próprios e depois de julgados e condenados - têm famílias que necessitam ser respeitadas e preservadas, mantidas longe dos holofotes da hipocrisia social generalizada, do "justicialismo" fomentado na praça pública. Temos quase sempre com os outros, as atitudes desprezíveis que não queremos que nos sejam aplicadas. Uma inconstância contraditória que tem muito a ver com erros cometidos por alguns dos nossos, politicamente falando. Mas se em política existe o conceito de família, então também na política, sobretudo nos partidos, as famílias não se desagregam perante a mínima contrariedade, nem entram em convulsões ou em conflitos públicos só porque algum dos seus falhou, quando seguiu caminhos desviantes ou teve comportamentos que nenhum de nós subscreve.

O PSD-Madeira é um partido que existe desde 1974, com erros e virtudes, com  potencialidades e fragilidades, com mais-valias e defeitos, etc. Por ele passaram muitos. Conheci tantos, uns por convicção, outros por oportunismo, outros ainda que nem sabem como vieram lá parar. Estou lá desde o início, desde que o caminho começou a ser percorrido em 1974. Nunca fui, nunca serei acusador de ninguém, porque não quero ser nem me julgo melhor do que ninguém. Cada um é como é. Quem é acusado tem que assumir o ónus da sua defesa. Quem é culpado que tenha oportunidade de ser julgado, que seja penalizado apenas pela sua culpa e responsabilizado pelos seus erros, respondendo perante a única entidade terrena com competências para isso, a Justiça e os seus Tribunais, ela própria mergulhada num tempo de contradições, de ineficácias, de comportamentos dúbios, muitos deles também indignos, sobretudo quando é ela, alegadamente, a alimentar a "justiça popular", trazendo-a para o exterior da sua redoma, numa sociedade onde a liberdade e os direitos individuais dos cidadãos deviam ser respeitados e acatados. A violação do segredo de justiça, incluindo a divulgação de informações processuais, alimentam a ditadura selvagem e nojenta das redes sociais.

Uma justiça que deixa escapar para a arena pública segredos processuais, muitos ainda em fase preliminar, fomentando deste modo a "condenação pública" de pessoas sem direito à presunção de inocência, pessoas que podem muitas vezes estar inocentes, uma justiça que ao fim de mais de 10 anos não tinha acusado e julgado um político - Sócrates - que originou uma profunda mudança na relação entre a política, as denúncias anónimas e a justiça, é uma justiça doente, a precisar ela própria de regenerar-se. Mas isso ela não admite! (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira de 07.02.2025)

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