A conclusão resultou de uma pesquisa realizada pela equipa do MediaLab, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL), em parceria com a Agência Lusa. Dois anúncios - um visando o PS, outro o PSD - mostram uma inversão de paradigma num país onde, até agora, não se tinham detetado indícios claros de interferência externa direta em eleições. Foram identificados, pela primeira vez, “indícios de interferência externa nas eleições em Portugal", revelou uma pesquisa realizada por investigadores do MediaLab do ISCTE, liderada por Gustavo Cardoso e José Moreno, em parceria com a Agência Lusa. Em causa um resultado que derivou de uma investigação sobre as eleições nas redes sociais e os processos de desinformação no período pré-eleitoral para as legislativas de 10 de março, que se centrou em dois exemplos em concreto: um anúncio que acusava o PS de corrupção, e um outro que recordava os cortes feitos pelo Executivo do PSD durante o período da “troika”.
O primeiro destes vídeos remetia para um canal do YouTube, “Bolsonaristas em Portugal”. Começou a circular “online” a 22 de fevereiro, acabando por ser distribuído em vários “sites” portugueses, nomeadamente páginas “online” de jornais”. Porém, entretanto, deixou de estar disponível para visualização. Tratava-se de um vídeo que acusava dirigentes socialistas de corrupção, no qual estavam inseridas fotografias de António Costa e José Sócrates, acompanhadas de títulos descontextualizados de jornais nacionais. Segundo recordam os investigadores, esta é uma “estratégia habitual na produção de conteúdos desinformativos”.
Com recurso a ferramentas da Google, esta equipa aponta para a Nekoplay LLC - empresa com aparente sede em Delaware, nos Estados Unidos - como estando envolvida na disseminação deste anúncio. De acordo com os investigadores, trata-se de uma entidade que surge, também ela, associada a conteúdos políticos e de desinformação noutros países com atos eleitorais este ano – como Roménia, Panamá e Singapura. Perante estes dados, a investigação concluiu que tudo aponta para “um ato de influência externa em período eleitoral”, visto que “não há qualquer ligação aparente a alguma força política portuguesa”.
O segundo dos casos tem por base um vídeo, da autoria do canal do YouTube “Jovens por Portugal” (entretanto suspenso), que pretende criar danos na reputação do PSD e, por consequência, da coligação AD (Aliança Democrática), que concorre nestas eleições. Alcançou cerca de 135 mil visualizações, antes de ser removido das plataformas “online”.
Nas palavras dos investigadores, trata-se de um vídeo com “uma produção cuidada” que lembra “os cortes do tempo da 'troika' e os atribui ao PSD”. Para além do YouTube, este conteúdo circulou ainda noutras redes sociais, como o X/Twitter e o Reddit.
Nas palavras de Gustavo Cardoso e José Moreno, coordenadores desta equipa de investigadores, é importante não esquecer que este tipo de práticas de desinformação, “em particular as de influência estrangeira, procuram, acima de tudo, criar dúvidas na população, mais do que fazer acreditar em qualquer coisa" (Poligrafo, texto da jornalista Ema Gil Pires)
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