“Confirmou-se o pior cenário, com uma redução anunciada de 30
trabalhadores o que, por razões óbvias, torna inviável a continuação do projeto
editorial iniciado há 35 anos”, referem os membros eleitos do conselho de
redacção da TSF através de um comunicado. O Conselho de Redação da TSF afirmou
nesta sexta-feira que a demissão das direções do grupo "é
elucidativa" sobre a ameaça ao futuro da componente editorial e rejeitou
"em absoluto" a forma como a diretora de informação foi tratada pelo
presidente executivo (CEO). "Não podem também os membros eleitos do CR
[Conselho de Redação] deixar de sublinhar que, após a demissão da direção da
TSF, também as direções do Jornal da Notícias, de O Jogo e do Dinheiro Vivo
seguiram idêntica opção", afirma o órgão, em comunicado a que a Lusa teve
acesso.
"A ameaça ao futuro da componente editorial é tão evidente que a resposta de todas estas direções é elucidativa. Saudamos daqui os nossos camaradas destas publicações que, tal como nós, sabem que a defesa da liberdade e da democracia passa também pela defesa do jornalismo", adianta o CR, que rejeita ainda "em absoluto a forma como a diretora de informação Rosália Amorim foi tratada em declarações públicas pelo CEO [presidente executivo, José Paulo Fafe] da GMG [Global Media Group]".
"Um modo indigno de um administrador se pronunciar sobre uma diretora que ele próprio nomeou e fez questão de apresentar, em reunião de editores em 2 de outubro, como uma 'escolha pessoal'", acrescentam. A demissão do diretor do Dinheiro Vivo, Bruno Contreiras Mateus, na quinta-feira, aumentou para 11 o número de demissões em cargos de direção no grupo, juntamente com as cinco do JN, duas no jornal desportivo O Jogo e três, na terça-feira, na TSF. No dia 6 de dezembro, em comunicado interno, o GMG avançou que iria negociar "com caráter de urgência" rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação para evitar "a mais do que previsível falência do grupo".
No comunicado, o CR refere que as demissões em bloco da diretora de
informação, Rosália Amorim, do diretor-geral, Rui Gomes, e do subdiretor, Artur
Cassiano "prendem-se com a oficialização do anunciado plano de
reestruturação" que a administração pretende aplicar, "levando ao
despedimento de 30 trabalhadores só na TSF".
"Como é sabido, confirmou-se o pior cenário, com uma redução anunciada de 30 trabalhadores o que, por razões óbvias, torna inviável a continuação do projeto editorial iniciado há 35 anos e que, ao longo destas mais de três décadas, serviu de escola a dezenas de profissionais que se encontram hoje em tantos outros órgãos de comunicação social em Portugal", referem os membros do CR, apontando que aquilo que a administração tinha garantido à direção - que ninguém sairia, entrando até 10 novos jornalistas formados já na própria TSF - foi transformado numa razia". Ora, a direção da rádio, "consciente do que estava em causa, não quis participar nesta decapitação e demitiu-se, demarcando-se de uma decisão que não lhe permitiria concretizar a nova grelha que estava a desenhar para a TSF".
O CR recorda "a promessa feita, em setembro, pelo Conselho de
Administração da GMG de que: 'No caso concreto da TSF, o investimento terá como
foco o seu reforço em todas as áreas com vista à sua modernização, crescimento
e honrando um percurso de uma marca de que todos nos orgulhamos', inserida num
"ambicioso projeto de relançamento e reforço de um grupo de media nos
últimos anos, em Portugal".
Acontece que em "apenas três meses, o 'reforço em todas as áreas'
da TSF passa a um despedimento de 30 trabalhadores, quase metade dos
profissionais que atualmente fazem esta rádio. E, até ver, investimento
zero", aponta o CR.
Aliás, "este percurso de ziguezagues e incongruências nem é
novidade, bastando recordar o caso de três jornalistas que foram notificados há
algumas semanas sobre a não renovação de contrato, decisão que haveria depois
de ser revertida, gerando nesse período mais uma situação de instabilidade numa
redação que, a partir de dada altura, passou a temer qual o episódio que viria
a seguir", prossegue o CR.
As "constantes declarações públicas do CEO da GMG sobre a situação
do grupo, recorrentemente definida como estando à beira do precipício, são mais
um obstáculo ao incentivo para o investimento publicitário, uma componente
vital do lado das receitas", alerta o órgão. Os membros eleitos do CR
"lembram os exemplos dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e do Euro 2024 e o
eventual retorno publicitário que estes dois eventos poderiam
representar".
"Independentemente das ações que os trabalhadores vão desenvolver,
não podem os membros eleitos do CR deixar de referir que os próximos tempos vão
ser, certamente, os mais críticos da história da TSF", refere o CR.
Ao longo dos últimos anos, "têm sido insistentes os alertas dos membros de sucessivos Conselhos de Redação da TSF sobre a escassez de meios humanos e técnicos, com a situação a degradar-se substancialmente, consequência da perda de profissionais, entre eles, muitos daqueles que representavam a 'memória' da TSF, e com a redação cada vez mais debilitada, estando, nesta altura, já abaixo dos mínimos exigíveis". O despedimento previsto "implica a entrada numa via sem retorno" e "tentar mais tarde reverter o caminho será sempre uma utopia", conclui (Expresso)
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