Foi um breve período de nojo. Sete meses após
deixar a Iniciativa Liberal (IL), o ex-líder da ala dos liberais clássicos,
Nuno Simões de Melo, aderiu ao Chega e está a ajudar a escrever o programa
eleitoral do partido para as legislativas, apurou o Expresso. Mas há mais
transferências. O ex-cabeça de lista da IL por Setúbal, Diogo Prates, também se
juntou na última semana ao partido de André Ventura. Os ex-liberais pertencem
às duas vagas de saídas da IL, sob a liderança de Rui Rocha, anunciadas a 25 de
abril e 25 de novembro, respetivamente. Ambos eram da ala mais conservadora do
partido e apoiaram Carla Castro na disputa interna.
Ao Expresso, fonte oficial da Direção Nacional do Chega confirma que o coronel
na reserva, que saiu da IL em abril por divergências sobre a questão da identidade
de género nas escolas e o rumo do partido, já é militante do partido de André
Ventura: “Também podemos confirmar que Simões de Melo está a contribuir para o
programa eleitoral das próximas legislativas”, acrescenta a mesma fonte, sem
especificar a área. O Expresso sabe, contudo, que o ex-deputado municipal da IL
em Mafra está a contribuir sobretudo para as áreas da Defesa e Segurança.
“Tenho alguma disponibilidade para ajudar no programa e continuarei a querer
ser útil para o partido”, diz ao Expresso.
Em abril, quando deixou a IL, Simões de Melo
admitia que poderia aderir a outro partido no futuro, mas dificilmente o Chega,
por “não ser estatista”. Contudo, já tecia elogios ao partido de Ventura, ao
notar que defende pelo menos o Estado para as questões de soberania, enquanto a
“IL pouco ou nada fala de diplomacia, defesa ou segurança interna”. Agora, diz
ao Expresso que continua a assumir-se como um “liberal”, mas “sendo impossível
encaixar-se a 100 num partido”, elege o Chega por sentir-se mais próximo do
partido nas questões de soberania: “Não houve namoro nenhum, fui lendo algumas
coisas, nomeadamente o manifesto fundador do Chega, e encontrei pontos em
comum”, explica.
O que facilitou a adesão foi também o facto de Simões de Melo ter sido segundo
comandante numa missão no Kosovo, quando o atual vice-presidente do Chega,
António Tânger Correa, era embaixador na Sérvia: “Éramos visitados pelo
embaixador em dias festivos e desde aí passei a sentir alguma amizade, além do
respeito institucional”, assume.
Militante número 49.329, Simões de Melo foi convidado logo para participar como
orador, em Ansião, nas comemorações do 25 de novembro do município, ao lado de
Tânger Correia e João Tilly, membro do Conselho Nacional do partido. E acredita
que mais liberais se poderão juntar ao Chega. “Da nossa ala conservadora há
pessoas que poderão filiar-se no Chega, não sei se nesta fase. Mas alguns
poderão votar no partido também como protesto”, defende.
Ao Expresso, Diogo Prates, médico e ex-cabeça de lista da IL por Setúbal nas
legislativas de 2019, também se mostra disponível para ajudar o Chega.
“Enquanto médico e ex-candidato da IL estarei pronto para o que o partido
precisar se entender que sou uma mais-valia. Fiquei surpreendido com a
qualidade de quadros no partido e posso garantir que, nesta altura, estamos
mais bem preparados do que a IL face às recentes saídas. Já não somos só um
partido de nicho e protesto”, conclui (Expresso, texto dos jornalistas LILIANA
COELHO e TIAGO SOARES)
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