quarta-feira, dezembro 27, 2023

Dissidentes da IL estão a colaborar com Chega

Foi um breve período de nojo. Sete meses após deixar a Iniciativa Liberal (IL), o ex-líder da ala dos liberais clássicos, Nuno Simões de Melo, aderiu ao Chega e está a ajudar a escrever o programa eleitoral do partido para as legislativas, apurou o Expresso. Mas há mais transferências. O ex-cabeça de lista da IL por Setúbal, Diogo Prates, também se juntou na última semana ao partido de André Ventura. Os ex-liberais pertencem às duas vagas de saídas da IL, sob a liderança de Rui Rocha, anunciadas a 25 de abril e 25 de novembro, respetivamente. Ambos eram da ala mais conservadora do partido e apoiaram Carla Castro na disputa interna.
Ao Expresso, fonte oficial da Direção Nacional do Chega confirma que o coronel na reserva, que saiu da IL em abril por divergências sobre a questão da identidade de género nas escolas e o rumo do partido, já é militante do partido de André Ventura: “Também podemos confirmar que Simões de Melo está a contribuir para o programa eleitoral das próximas legislativas”, acrescenta a mesma fonte, sem especificar a área. O Expresso sabe, contudo, que o ex-deputado municipal da IL em Mafra está a contribuir sobretudo para as áreas da Defesa e Segurança. “Tenho alguma disponibilidade para ajudar no programa e continuarei a querer ser útil para o partido”, diz ao Expresso.

Em abril, quando deixou a IL, Simões de Melo admitia que poderia aderir a outro partido no futuro, mas dificilmente o Chega, por “não ser estatista”. Contudo, já tecia elogios ao partido de Ventura, ao notar que defende pelo menos o Estado para as questões de soberania, enquanto a “IL pouco ou nada fala de diplomacia, defesa ou segurança interna”. Agora, diz ao Expresso que continua a assumir-se como um “liberal”, mas “sendo impossível encaixar-se a 100 num partido”, elege o Chega por sentir-se mais próximo do partido nas questões de soberania: “Não houve namoro nenhum, fui lendo algumas coisas, nomeadamente o manifesto fundador do Chega, e encontrei pontos em comum”, explica.
O que facilitou a adesão foi também o facto de Simões de Melo ter sido segundo comandante numa missão no Kosovo, quando o atual vice-presidente do Chega, António Tânger Correa, era embaixador na Sérvia: “Éramos visitados pelo embaixador em dias festivos e desde aí passei a sentir alguma amizade, além do respeito institucional”, assume.
Militante número 49.329, Simões de Melo foi convidado logo para participar como orador, em Ansião, nas comemorações do 25 de novembro do município, ao lado de Tânger Correia e João Tilly, membro do Conselho Nacional do partido. E acredita que mais liberais se poderão juntar ao Chega. “Da nossa ala conservadora há pessoas que poderão filiar-se no Chega, não sei se nesta fase. Mas alguns poderão votar no partido também como protesto”, defende.
Ao Expresso, Diogo Prates, médico e ex-cabeça de lista da IL por Setúbal nas legislativas de 2019, também se mostra disponível para ajudar o Chega. “Enquanto médico e ex-candidato da IL estarei pronto para o que o partido precisar se entender que sou uma mais-valia. Fiquei surpreendido com a qualidade de quadros no partido e posso garantir que, nesta altura, estamos mais bem preparados do que a IL face às recentes saídas. Já não somos só um partido de nicho e protesto”, conclui (Expresso, texto dos jornalistas LILIANA COELHO e TIAGO SOARES)

Sem comentários: