sexta-feira, dezembro 08, 2023

Nota: O erro do CDS-Madeira e...o erro do PSD-Madeira

Já se percebeu que, depois do que aconteceu nas legislativas nacionais de 2022, o CDS, incluindo na Madeira, tem medo de ir sozinho a eleições. Mas também acho que esse medo das urnas, de enfrentar a vontade e o voto dos cidadãos, apresentando-se com as suas ideias e tal como são, sem truques e com uma identidade própria, se apoderou também do PSD. E ponto final. 

O CDS refugia-se, tal como Nuno Melo - que entrou de peito cheio quando foi eleito líder mas que foi perdendo o gás todo, com o tempo mas sobretudo quando percebeu que o CDS nas sondagens nacionais não ultrapassa os 2% (mas os deputados são eleitos por círculos distritais, regiões autónomas e emigração, não num círculo nacional único) - na teoria de que PSD e CDS juntos são mais fortes, sem ter bases nem resultados que fundamentem essa conversa da treta destinada a levar o PSD na conversa, PSD ele próprio inseguro e sem convicções eleitorais como no passado.

Lembremos o recente quadro eleitoral do PSD na Madeira em legislativas nacionais, sem deixar de destacar que em 2015 o Bloco de Esquerda, com uma excelente votação de 13.342 votos, 10,7%, elegeu 1 deputado, algo nunca antes ocorrido:

  • 2011 - 68.649 votos, 49,4%, 4 deputados
  • 2015 - 47.228 votos, 37,8%, 3 deputados
  • 2019 - 48.231 votos, 37,2%, 3 deputados
  • 2022 - 50.624 votos, 39.8%, 3 deputados (coligado com o CDS)

Vamos lembrar o recente quadro eleitoral do CDS na Madeira em legislativas nacionais:

  • 2011 - 19.101 votos, 13,7% 1 deputado
  • 2015 - 7.536 votos, 6%, sem deputados
  • 2019 - 7.852 votos, 6,1%, sem deputados
  • 2022 - concorreu em coligação com o  PSD

No caso da Madeira a submissão do PSD-Madeira é arriscada, politicamente desaconselhada e abre caminho, a manter-se a tendência dos eleitores madeirenses nas regionais deste ano, a um desfecho que pode significar fragilização e o eventual princípio do fim para os sociais democratas. Imaginemos, especulativamente, que se repete a tendência das regionais. Nesse caso PSD e PS perderiam um deputado em detrimento do Chega e da JPP.

Por isso, acresce uma nova dúvida. Se na esquerda, cabe ao PS - agora com Cafofo admito que isso até possa acontecer - capitalizar um eventual apelo ao voto útil e retirar votos votos ao JPP e à esquerda não populista, como aconteceu nas regionais de 2019, já no caso do PSD as coisas complicam-se porque o CDS bate no peito para dar uma prova de vida, mas na hora da verdade não vai a jogo e foge das urnas como o diabo da cruz. Aproveitando inteligentemente o facto do PSD-M ultimamente estar na mesma linha... Mas o CDS-M faz mal. Imaginem que o PS-M, ao contrário do que ocorreria com a projecção das regionais, numa campanha assente no voto útil "entalava" a JPP e demais esquerda e mantinha os mesmos 3 deputados pelo método de Hondt. Já o PSD com a sua coligação com o CDS não corre o risco de permitir um crescimento do Chega e a eleição do correspondente deputado, relegando a coligação para 2 mandatos? O PAN obviamente que não consegue eleger nenhum deputado na Madeira, mas esse desfecho nunca sequer se colocou em cima da mesa. A Iniciativa Liberal, considerando os resultados das regionais de 2023, precisa de crescer muito mais para admitir entrar na "guerra" da eleição de um deputado nacional pela RAM.

O erro do CDS-M

Por isso, tal como acontece a nível nacional - mas para as idiotices do PSD nacional estou-me nas tintas - o CDS-Madeira comete um erro político e eleitoral de "desaparecer", abandonando o seu espaço eleitoral natural, entregando-o a outros partidos da direita, mais ou menos extremada. Paradoxalmente, estas habilidades eleitorais, que apenas escondem o pavor que certos partidos têm das urnas e do enfrentar sozinhos a vontade dos eleitores, penalizam a área eleitoral supostamente adstrita à coligação (?), erro - ou acomodamento? - também estimulado pela teimosia do PSD-Madeira - ou haverá outros motivos mais estranhos para  a insistência na negociata eleitoral? -  que deveria pensar em vários factores e não apenas em contabilidades eleitorais de mercearia que os números reais depois mostram saírem furadas.

É sabido, apesar de PSD e CDS não o admitirem por mero oportunismo político, que há uma parte muito importante do eleitorado do PSD-Madeira, o chamado eleitorado flutuante, que recusa votar numa coligação que atira o PSD-Madeira ainda mais para a direita. Tal como no CDS-Madeira, e eles sabem isso, há influentes sectores do partido que sempre recusaram sempre, e continuam a recusar, votar numa coligação com o PSD-Madeira, porque acham que os social-democratas foram sempre o "inimigo" político e eleitoral dos centristas na Madeira, sobretudo devido ao radicalismo e ao distanciamento fomentado e mantido durante as décadas de "jardinismo". Aliás a realidade mostra que o CDS na Madeira, e no seu percurso eleitoral, até já protagonizou um a coligação autárquica com o PS-Madeira que se revelou um descalabro!

O problema é que enquanto os eleitores flutuantes do PSD podem oscilar para a esquerda, em voto útil, o eleitorado que sempre votou CDS fica sem alternativa à direita. E, perante este quadro, das duas uma: os eleitores PSD e do CDS que recusam votar na coligação, ou não votam (abstenção), ou votam útil no Chega com o propósito de "castigarem" PSD e CDS pelas negociatas eleitorais ou votam na Iniciativa Liberal ou mesmo em partidos como o PAN ou a JPP.

Com algum maquiavelismo à mistura - sempre útil quando se antecipam cenários, uns plausíveis, outros puramente especulativos - diria que a esse eleitorado do PSD-Madeira que, repito, se recusa votar numa coligação de direita que apenas visa eleger deputados para Lisboa, mas que também não quer votar no Chega e alimentar um "papão" perigoso, resta o voto útil no próprio na Iniciativa Liberal, no PAN ou mesmo na JPP!

Recordo a evolução eleitoral dos seguintes partidos, nas legislativas nacionais de 2019 e 2022 na Madeira:

JPP

2019 - 7.125 votos, 5,5%

2022 - 8.721 votos, 6,9%

PAN

2019 - 2.361 votos, 1,8%

2022 - 2.084 votos, 1,6%

Chega

2019 - 911 votos, 0,7%

2022 - 7.727 votos, 6,1%

Iniciativa Liberal

2019 - 922 votos, 0,7%

2022 - 4.241 votos, 3,4%

Como ninguém consegue ver esta realidade, como ninguém quer entender que os partidos do centro-direita apenas têm como certos 35 a 40% dos votos obtidos nas urnas na RAM (os restantes são ganhos incertos que dependem da natureza do acto eleitoral que continua a marcar alguma diferença, gostem ou não que se diga isso), a opção é desvalorizar o que aconteceu nas regionais deste ano e insistir no erro. A 10 de Março logo veremos (LFM)

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