Acordo pré-eleitoral vai sendo dado como provável, mas longe de consensual. Decisão tem de ser tomada até ao fim do ano, pois calendário aperta para o CDS. Mesmo sem contactos formais ou acordos fechados, a hipótese de uma coligação pré-eleitoral entre PSD e CDS vai ganhando força, é assumida como quase certa no PSD, mas está longe de ser consensual. Várias figuras do universo social-democrata têm dúvidas sobre a utilidade de um acordo com os centristas, partindo de uma pergunta base. “O que é que o CDS vale hoje em dia?”, resume uma dessas figuras, fora da direção.
“É como ressuscitar um morto”, carrega outro social-democrata. “O CDS tem ótimos quadros, mas não tem militantes nem votos.” E às vezes nem listas, conta a mesma fonte com responsabilidades a nível local, lembrando que em alguns acordos de coligação autárquicos PSD e CDS dividiam as listas em 80% para o primeiro e 20% para o segundo. “Às vezes pediam ajuda, porque nem a quota deles [CDS] conseguiam preencher.”
CONTAS DE SUBTRAIR
Depois de dois anos fora do Parlamento, a dúvida sobre quem e quantos no CDS estariam dispostos a ajudar e a ser úteis é ainda maior. Um deputado laranja ouvido pelo Expresso acredita que a direção do PSD “esteja a fazer contas com as eleições passadas”, em 2022, em que os democratas-cristãos tiveram quase 90 mil votos, acima do Livre e do PAN. Pela dispersão de votos, e pelo método de Hondt, o CDS acabou por não eleger nenhum deputado, mas numa aritmética simples esses votos, se em coligação com o PSD, teriam dado “mais três ou quatro deputados”. Assim, foram desperdiçados.
Há, no entanto, vários argumentos que fazem caminho no PSD por esta altura e que recusam que se faça essa conta. Por um lado, o dos que acham que o CDS teria hoje bem menos de 90 mil votos. “Passaria para 20 mil ou 30 mil”, acredita o deputado já citado, lembrando, por exemplo, que em 2022 o Chega tinha pouco mais de 7% e agora todas as sondagens apontam para o dobro, tal como a Iniciativa Liberal deve ficar acima dos 4,9% de há dois anos. Tudo cenários prováveis e a roubar espaço ao CDS.
“O que é que o CDS vale hoje?”, “é como ressuscitar um morto”, ouve o Expresso por estes dias no PSD. Porém, acordo pré-eleitoral é dado como quase certo. Por outro lado, há um risco assumido até por alguns elementos próximos da direção do partido: o de que juntar PSD e CDS assuste algum eleitorado. Com Montenegro a tentar caçar o mais possível ao centro e apostado em ir buscar independentes até ao centro-esquerda, recuperar uma sigla cuja memória mais recente é a da troika, acerca da qual a direção do PSD tem feito os possíveis para se afastar, pode ser contraproducente.
Na semana passada, o ex-vice-presidente do PSD José Matos Correia escreveu no Expresso sobre essa ameaça, defendendo que os sociais-democratas devem ir sozinhos a eleições. “Não é nada líquido que, no atual contexto social e político, aqueles que estão disponíveis para votar no PSD o fizessem se este surgisse integrado numa coligação à direita. Porque o desejo de apoiar o PSD poderia decair face à rejeição relativamente aos seus parceiros de lista.”
“SEM ANSIEDADE”
O que vai na cabeça do líder e do seu núcleo duro é, por ora, mantido em segredo. E isso serve para vários dossiês, numa campanha que se adivinha longa e em que é preciso ir gerindo a informação. Ainda assim, o calendário já seguiu para as estruturas.
As distritais devem enviar as listas de candidatos a deputados até à primeira semana de janeiro, reunindo-se depois com a direção, uma a uma. Na segunda semana do ano, direção e Conselho Nacional do partido fecham os nomes à Assembleia da República, que Montenegro quer que incluam candidatos “independentes”, e decidem a “eventual participação em coligações”, como se lê no documento a que o Expresso teve acesso. Um calendário que para um partido com pouca estrutura, como é hoje o CDS, pode revelar-se apertado.
“Sem ansiedade”, reage uma fonte distrital quando confrontada com a ideia de as listas poderem ter várias vagas preenchidas pelo líder seja com elementos do CDS, seja com independentes. Depois de uma “guerra aberta” com Rui Rio, as distritais do PSD sentem que “com o Luís é possível trabalhar”. Além disso, a “fação de oposição” a Montenegro é herdeira do rioísmo e “não tem apoio das estruturas”. Adivinha-se, por isso, um período sem oposição para o líder.
O PSD tem hoje 72 deputados e está a contar “chegar perto dos 90, e não é por 10 ou 15 [independentes e do CDS] que há problemas”, defende o mesmo dirigente local social-democrata, que, mesmo tendo uma lista de nomes para fazer, até vê vantagens em ir a votos com o CDS. “Isso salienta a indisponibilidade da IL e põe-nos como os únicos verdadeiramente preocupados em tirar o PS do poder. (Expresso, texto do jornalista JOÃO DIOGO CORREIA)
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