sexta-feira, dezembro 08, 2023

Sondagem Expresso: Nem maiorias absolutas nem negociações entre PS e PSD

A primeira pergunta sobre maiorias da sondagem ICS-ISCTE feita para o Expresso e a SIC indica como estas perderam adesão entre os portugueses: hoje, 59% dos inquiridos respondem que seria “melhor que o partido vencedor não tivesse maioria absoluta”. É um valor 12 pontos superior ao registado antes das legislativas antecipadas de 2021 (que acabaram por resultar na maioria de António Costa) e também maior do que o registado antes das legislativas que acabaram sem acordos escritos à esquerda, em 2019. Mais complexos são os cenários para uma negociação pós-eleitoral. Desde logo porque, vença o PSD ou o PS, a maioria das respostas obtidas é indefinida: “Não sei”, respondem mais de 30% dos inquiridos. Mas há uma indicação clara que resulta desta sondagem: quer à esquerda, quer à direita, a ideia de uma negociação entre os dois maiores partidos perdeu claramente adesão face há dois anos. Vejamos por partes.

COM QUEM DEVERIA O PS NEGOCIAR? MAIS CHEGA QUE PS?

Quando a pergunta se refere a um cenário hipotético de uma vitória do PSD, apenas 19% dos inquiridos indicam o PS como parceiro preferencial (quando eram 37% há dois anos). E quando se questiona sobre um cenário de vitória do PS, os inquiridos que preferiam uma negociação com o PSD caíram de 33% para 21% no mesmo período.

Ao olharmos para as preferências dos eleitores do PSD, o caso ganha contornos ainda mais surpreendentes: se era previsível que a Iniciativa Liberal surgisse como parceira preferencial para 45% dos sociais-democratas (a IL ganhou deputados e hoje apresenta-se como parceiro mais realista), se é sem surpresa que o CDS se mantém no topo de preferências para 37% (porventura por razões históricas, dado que não tem representação parlamentar hoje), o certo é que o Chega já ultrapassa o PS como possível aliado para uma maioria de Governo — mesmo que ainda muito longe dos dois partidos preferidos. Os cenários para negociação pós-eleitoral são complexos. Desde logo porque, vença o PSD ou o PS, a maioria das respostas é indefinida: “Não sei”

Eis os dados: os simpatizantes do PSD que indicam o PS passam de 31% para 12% e as respostas que indicam o Chega como parceiro potencial passam de 7% em 2021 para 19% hoje. A subida é relevante, sobretudo quando Luís Montenegro se juntou aos que recusam liminarmente essa parceria. Mas é ainda bastante baixa se considerarmos que o PSD pode ter grande dificuldade em formar maioria sem o apoio do partido de André Ventura: menos de um em cada cinco apoiantes do PSD defendem esse diálogo.

De todo o modo, se olharmos para o total das respostas face a este cenário (e não só de simpatizantes do PSD), o número de respostas que indicam o Chega também aumenta de 8% para 19% — exatamente o mesmo número de respostas que indicaram o PS e apenas a dois pontos dos que preferiram a IL.

E se a vitória pertencer ao PS, o que preferiam os simpatizantes socialistas? Em crescendo e destacado, aparece o Bloco de Esquerda, agora liderado por Mariana Mortágua: sobe de 33% para 38% três anos depois do fim da ‘geringonça’. De seguida, apesar da queda de 38% para 26%, os simpatizantes socialistas indicam o PSD e só depois aparece o PCP, que também declina nas preferências, de 22% há dois anos para 18% agora. Já o PAN passa de 5% para 7% e o Livre para 4%.

Se a principal mudança em relação a 2021 é a diminuição de menções ao PSD, “mesmo assim estes resultados mostram que há mais simpatizantes do PS dispostos a que o seu partido negoceie com o PSD (26%) do que simpatizantes do PSD dispostos a que o seu partido negoceie com o PS (12%)”, conclui o relatório produzido pelo ICS-ISCTE.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 18 e 27 de novembro de 2023. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa (Iscte- IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (5 Regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 89 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 3163 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 803 entrevistas válidas (taxa de resposta de 25%, taxa de cooperação de 34%). O trabalho de campo foi realizado por 40 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 803 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas DAVID DINIS e SOFIA MIGUEL ROSA)

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