Um dos maiores especialistas mundiais em engenharia aeroespacial que trabalha no Instituto Superior Técnico, Sohel Murshed, avisa para o risco de fuga de cérebros de Portugal devido ao custo de vida e à falta de oportunidades profissionais. O investigador Sohel Murshed, um dos maiores especialistas mundiais em engenharia aeroespacial que trabalha no Instituto Superior Técnico, alertou este domingo para o risco de fuga de cérebros de Portugal devido ao custo de vida e à falta de oportunidades profissionais.
"Estão sempre a perguntar-me lá fora sobre os estudantes que tenho porque os querem vir buscar. Alguma vez nem digo a verdade toda, porque os quero manter, mas é muito, muito difícil", lamentou o investigador. Em causa está, segundo Sohel Murshed, o custo de vida em Portugal -- "Lisboa é insuportável, nenhum dos estudantes consegue ter uma vida aqui" -, mas também a falta de oportunidades. “Portugal continua a perder os seus melhores quadros”, alerta um dos maiores especialistas mundiais em engenharia aeroespacial.
"Os alunos em Portugal são muito talentosos, comparáveis com os melhores estudantes do mundo", mas "para continuar investigação em Portugal, é necessário estar associado ao ensino e não há muitas vagas", alertou. Falta envolver o setor privado na investigação mas também mais apoio público à investigação, como carreira estável. "As pessoas não podem andar de bolsa em bolsa de pós-doutoramento. Isso não é vida e o Governo tem de estar atento a este problema", avisou um dos principais peritos mundiais em nanofluidos. Caso contrário, sustentou, "Portugal gasta dinheiro a formar os seus melhores mas quem os vai aproveitar são os outros países".
"Portugal tem condições únicas para criar centros de excelência, não apenas na minha área. Os estudantes são bons, têm hábitos de trabalho, e o país é atrativo para quem vem de fora", mas "é necessária uma política integrada" que transforme a investigação num "modelo económico" como sucede noutros países, salientou.
Com doutoramento em Engenharia Mecânica e Aeroespacial em Singapura e com percurso pelos Estados Unidos, Sohel Murshed optou por Portugal principalmente por causa do clima. Depois de concluir um trabalho em Orlando, Florida, "tinha convites dos Ohio (EUA), Paris e Lisboa. Queria explorar a Europa, mas Paris era demasiado frio", recordou.
Desde 2010 com base em Lisboa, tem trabalhado como convidado noutras instituições de ensino internacionais, já adquiriu a nacionalidade portuguesa e não pensa em sair. "Eu gosto de Portugal. Podia sair para qualquer outro sítio, mas os meus filhos são portugueses e o trabalho é compensador", salientou. "Mas isso, infelizmente, não se passa o mesmo com muitos dos meus alunos", disse Sohel Murshed (Lusa)

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