A
popularidade do atual presidente ao longo de sucessivos barómetros, incluindo o
que publicámos no fim de semana (60% de avaliações positivas) fazia prever uma
vitória folgada. E a explicação é sempre a mesma: Marcelo tem no bolso os
eleitores socialistas. No caso desta sondagem, dois terços (66%) anunciam que
lhe entregarão o voto em janeiro de 2021. A eurodeputada socialista só consegue
captar, nesta altura, pouco mais de um quinto (22%) dos que votam no PS.
Imitar
Eanes e Soares
Se o
atual inquilino de Belém mantiver o fôlego, tem ao seu alcance um resultado ao
nível de Ramalho Eanes (61%), nas primeiras presidenciais do período
democrático, em 1976. Os 70% de Mário Soares, em 1991, parecem mais difíceis. A
comparação faz sentido, mesmo com tantas décadas de intervalo. Tal como agora,
o chamado bloco central (PS + PSD) confluiu para o mesmo candidato. No caso de
Eanes, o apoio foi explícito. No de Soares, o PSD liderado por Cavaco deu apoio
tácito. Marcelo, por sua vez, pode contar com apoio tácito do PS de Costa.
Apesar de usufruir de um apoio transversal, há segmentos que se destacam. As áreas metropolitanas, em particular a de Lisboa, são o terreno mais fértil para Marcelo, bem como os eleitores no fundo da escala de rendimentos e as mulheres (mais 13 pontos percentuais que os homens). Finalmente, atinge o pico entre a faixa etária mais jovem (18/34 anos), para perder gás à medida que os eleitores envelhecem.
Ana
Gomes "bloquista"
Com o
PS oficialmente neutral, Ana Gomes contará com a sua combatividade. E com a
possibilidade de reivindicar votos à Esquerda, que a análise aos diferentes
segmentos partidários demonstra estar ao seu alcance. Há até dois casos em que
a antiga eurodeputada fica à frente de Marcelo: entre os eleitores da CDU e do
PAN. Outro dado crucial é que atrai mais eleitores do BE do que Marisa Matias -
o que ajuda a explicar a má projeção da eurodeputada bloquista (4,6%).
Marisa
Matias está a três pontos de André Ventura, que é, depois de Marcelo, o
candidato mais eficaz a reter os votos do partido de origem: cerca de 75% dos
eleitores do Chega votarão no seu líder. A má notícia para o candidato da
Direita radical é a sua elevada taxa de rejeição (ver texto ao lado), que lhe
limita o potencial de crescimento. Estando tão dependente dos mais fiéis, não
surpreende que Ventura se destaque, como o Chega, pelo eleitorado quase
exclusivamente masculino: teria 14,2% se votassem apenas homens.
Comunistas
e liberais
Com
uma votação residual estão o candidato comunista João Ferreira (1,6%) e o
liberal Tiago Mayan (1,5%). O primeiro não convence sequer os eleitores da CDU
(pouco mais de um terço está nesta altura disposto a entregar-lhe o voto), o
segundo só chega a metade dos que votam no Iniciativa Liberal. Tino de Rans
(Vitorino Silva) não passa, por enquanto, de ruído estatístico.
Marisa,
Ana Gomes e Marcelo com margem para crescer
Com a
notável exceção de Marcelo Rebelo de Sousa, o ponto de partida dos restantes
candidatos para as próximas eleições presidenciais não é brilhante. Mas ainda há
três meses para conquistar eleitores. E há pelo menos três candidatos que têm
um "mercado" amplo, como revela a taxa de voto potencial, ou seja, a
percentagem de portugueses que não dá, mas admite dar o seu apoio a um
determinado candidato.
Neste
campeonato destaca-se Marisa Matias, uma vez que 32% dos eleitores que escolhem
outro candidato indicam que "poderiam votar" na bloquista. Também Ana
Gomes junta à sua projeção eleitoral a simpatia adicional de 30% dos
inquiridos. Curiosamente, nesta disputa virtual a bloquista atrai mais
socialistas (54%) do que a antiga eurodeputada do PS (32%). Esta, em
contrapartida, revela ser uma personalidade atrativa para muitos eleitores do
PSD (40%).
Como
não podia deixar de ser, também Marcelo está na disputa do voto potencial
(30%). Se o conseguisse somar ao que já tem (não vai acontecer), poderia
aspirar a uma votação para lá dos 80 pontos percentuais. É sobretudo entre os
eleitores do Chega, do PAN e do Iniciativa Liberal que o atual presidente tem
maior margem de crescimento.
Rejeição
a André Ventura
O
outro lado do espelho do voto potencial é a taxa de rejeição, ou seja, a
percentagem de eleitores que "nunca" votaria num determinado
candidato. Nessa matéria (e deixando de lado o protocandidato Tino de Rans),
destaca-se André Ventura, com 63%. São os eleitores mais velhos (65 ou mais
anos) os que mais rejeitam (74%) o líder do Chega. Pior só entre os que votam
CDU ou BE (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)
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