segunda-feira, novembro 16, 2020

Portugal viveu quatro crises em W desde 1865

 


Em 160 anos, a economia portuguesa viveu quatro grandes crises com recaídas. A última foi entre 2009 e 2013. A sopa de letras tem dominado a discussão atual sobre o tipo de retoma económica que a economia portuguesa poderá ter. Começámos por um cenário mais otimista, que apontava para uma recuperação clássica em V, já no segundo semestre de 2020 e ao longo de 2021. Mas agora parece bastante improvável que tal aconteça e é de uma recuperação em W que se começa a falar: primeiro uma nova recaída e só mais tarde a recuperação. Algo que, aliás, a economia portuguesa já viveu no passado. Embora não seja o mais frequente.

Nos últimos 160 anos, desde que há uma série anual ininterrupta do Produto Interno Bruto (PIB) calculada pelo histo­riador económico Nuno Valério, houve 15 crises, e a esmagadora maioria (10 casos) teve retomas em V. Os mais recentes em V ocorreram depois das crises de 1975, 1984, 1993 e 2003 (ver gráfico). Na avaliação da recuperação seguiu-se o critério de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart (do livro “This Time Is Different”): a retoma conclui-se quando o PIB regressa ao nível anterior ao da crise.

Houve quatro casos em que houve recaí­das, a tal retoma em W, desde 1865: 1889-1894, 1911-1914, 1918-1921 e 2009-2013. Neste último caso, só em 2015 é que o PIB regressou ao nível anterior ao da crise e registou quebras em 2009 (no âmbito da recessão mundial) e entre 2011 e 2013 (durante a crise da dívida pública). O símbolo da Nike (V com recuperação lenta) poderá ser aplicado à retoma entre 1946 e 1950, depois da recessão que houve de 1942 a 1945, durante a II Guerra Mundial.

Em virtude do carácter específico da crise gerada pela covid-19, o paralelo histórico é limitado. Uma crise similar, em que uma pandemia foi a causa da recessão, ocorreu há mais de um século, nos anos em que a pneumónica (incorretamente batizada de ‘gripe espanhola’) e o período final da I Guerra Mundial provocaram uma contração brutal de 27% em 1918 e uma recaí­da em recessão, ainda mais aguda, em 1921, com o PIB a cair 29%, segundo a série de Valério publicada em 2011 (Expresso, texto do jornalista JORGE NASCIMENTO RODRIGUES)

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