Não podemos condenar ninguém.
As pessoas reagem com cautela, cada vez mais defensivamente, precavendo-se de
ameaças potenciais para a sua saúde. Isso
é um direito sagrado que assiste a qualquer cidadão, a liberdade de contenção contrastando
com o direito à libertinagem perigosa. Cada um escolhe o que quer para si e
para os seus amigos e familiares. A realidade pandémica deixou (e deixa) marcas
que vão demorar muito tempo a recuperar. Mas também há uma certeza que me
parece evidente e que não se aplica apenas ao turismo, à restauração ou aos serviços
periféricos nesta actividade: nada vai ficar na mesma depois do que aconteceu,
nada. E quem não perceber isso - falo de quem tem responsabilidades de decisão
e investidores privados - quem achar que tudo se resolve "tapando
buracos", estará a cometer um erro clamoroso que vai sair caro no futuro.
Há muita mudança a ser feita, há muita coisa que tem que mudar, haverão
escolhas diferentes a fazer, haverá uma selecção que tem que obedecer a
critérios mais rigorosos, há a certeza de que não pode haver mais uma certa vulgarização
aventureirista nalgumas áreas de actividade como aconteceu até hoje.
Diz quem sabe que todas as pandemias
deixam lições que não podem ser ignoradas, nem desvalorizadas.
Os nossos idosos – isso ficou
bem evidente - precisam de ter condições de protecção para os últimos tempos
das suas vidas, algo que até hoje, e sem generalizar a minha opinião, não
tiveram. Não podemos permitir que se autorizem "caixotes" para
depositarem os idosos “descartáveis”, como se de lixo se tratasse. Esse crime
não pode ser mais tolerado pelos cidadãos em geral, e os cuidados devidos aos
nossos idosos não podem ficar reféns de uma qualquer negociata propiciada a
qualquer bandalho sem escrúpulos que se rege pelo primado do lucro fácil e
rápido.
O sistema público de saúde tem
que ser retirado de discussões políticas patéticas, tem que ser alvo de
investimento adequado, tem que ter condições, todas as condições, para
responder com celeridade, eficácia e qualidade ao que as pessoas esperam dele. Não
basta realçar e agradecer a competência e empenho dos profissionais da saúde. O
sistema tem que mudar e libertar-se de algumas teias tentaculares e
atrofiadoras. As patifarias que os governantes tem vindo a permitir ou a
alimentar ao longo dos últimos anos, no que à saúde diz respeito, cortando
investimentos, desviando verbas, recusando contratar recursos humanos,
flagelando as pessoas com demoras inaceitáveis, com listas de espera intoleráveis,
com custos acrescidos, etc, tudo isso tem que acabar, de uma vez por todas.
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