domingo, novembro 22, 2020

Nota: nada pode ficar na mesma no pós-pandemia


Infelizmente, não raras vezes, quem passeia pela estrada Monumental deparar-se frequentemente com este cenário em horas normais de final do dia, uma estrada vazia, outrora movimentada, sobretudo com forasteiros, alguns hotéis de 4 e 5 estrelas fechados, restaurantes fechados ou a fazerem um esforço enorme para estarem abertos e com poucos clientes, um centro comercial que no ano passado por esta altura estaria a abarrotar de gente, contrastando com a realidade presente, etc.

Não podemos condenar ninguém. As pessoas reagem com cautela, cada vez mais defensivamente, precavendo-se de ameaças potenciais para a sua saúde.  Isso é um direito sagrado que assiste a qualquer cidadão, a liberdade de contenção contrastando com o direito à libertinagem perigosa. Cada um escolhe o que quer para si e para os seus amigos e familiares. A realidade pandémica deixou (e deixa) marcas que vão demorar muito tempo a recuperar. Mas também há uma certeza que me parece evidente e que não se aplica apenas ao turismo, à restauração ou aos serviços periféricos nesta actividade: nada vai ficar na mesma depois do que aconteceu, nada. E quem não perceber isso - falo de quem tem responsabilidades de decisão e investidores privados - quem achar que tudo se resolve "tapando buracos", estará a cometer um erro clamoroso que vai sair caro no futuro. Há muita mudança a ser feita, há muita coisa que tem que mudar, haverão escolhas diferentes a fazer, haverá uma selecção que tem que obedecer a critérios mais rigorosos, há a certeza de que não pode haver mais uma certa vulgarização aventureirista nalgumas áreas de actividade como aconteceu até hoje.


Ninguém estava à espera desta pandemia, acho que poucos imaginariam que isso apareceria deixando um rasto de destruição social e económica tão grave, um rasto de doença e de morte tão acentuado. E por isso ninguém estava preparado para resistir e responder. Um erro colectivo que não pode voltar a acontecer, desde logo a começar pelos nossos comportamentos sociais, pelas cautelas que teremos que passar a ter, por comportamentos que porventura colidem com aquilo que era a nossa "praxis" individual e colectiva. Já percebemos as nossas vulnerabilidades, as nossas fragilidades colectivas, perante a admissão científica de que estas ameaças pandémicas até podem repetir-se.

Diz quem sabe que todas as pandemias deixam lições que não podem ser ignoradas, nem desvalorizadas.

Os nossos idosos – isso ficou bem evidente - precisam de ter condições de protecção para os últimos tempos das suas vidas, algo que até hoje, e sem generalizar a minha opinião, não tiveram. Não podemos permitir que se autorizem "caixotes" para depositarem os idosos “descartáveis”, como se de lixo se tratasse. Esse crime não pode ser mais tolerado pelos cidadãos em geral, e os cuidados devidos aos nossos idosos não podem ficar reféns de uma qualquer negociata propiciada a qualquer bandalho sem escrúpulos que se rege pelo primado do lucro fácil e rápido.

O sistema público de saúde tem que ser retirado de discussões políticas patéticas, tem que ser alvo de investimento adequado, tem que ter condições, todas as condições, para responder com celeridade, eficácia e qualidade ao que as pessoas esperam dele. Não basta realçar e agradecer a competência e empenho dos profissionais da saúde. O sistema tem que mudar e libertar-se de algumas teias tentaculares e atrofiadoras. As patifarias que os governantes tem vindo a permitir ou a alimentar ao longo dos últimos anos, no que à saúde diz respeito, cortando investimentos, desviando verbas, recusando contratar recursos humanos, flagelando as pessoas com demoras inaceitáveis, com listas de espera intoleráveis, com custos acrescidos, etc, tudo isso tem que acabar, de uma vez por todas.


Estes dois exemplos, e apenas enumerei dois exemplos, precisam ser  imediatamente interiorizados pelas pessoas. Sem margem de tolerância para o adiamento ou a persistência dos erros. Falo nomeadamente de todos os que votam, os que nas urnas elegem ou destronam partidos e políticos. E que não podem ter contemplações perante a bandalheira. É indiscutível que a pandemia deixou lições a todos, jovens e idosos, em todas as áreas da sociedade. Eu nunca tinha passado por isto, acho que nunca imaginei que fosse confrontado com isto. E acredito que a esmagadora maioria das pessoas também. A verdade é que a pandemia deixou à vista de todos as nossas fragilidades colectivas e as insuficiências e limitações de uma sociedade que vai à Lua, manda sondas a Marte ou a Vénus, mas não estava preparada para responder ao covid19 e se proteger adequadamente (LFM)

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