sábado, novembro 21, 2020

Despedimentos coletivos chegam às grandes empresas

 


Em outubro, 63 empresas avançaram para despedimento coletivo, envolvendo um total de 995 trabalhadores. Os dados divulgados pela ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, na última reunião com os parceiros sociais sinalizam uma redução no número de empresas a despedir por esta via face a setembro, mas representam um aumento de 44% no universo de trabalhadores abrangidos, num mês que marca o fim das limitações ao despedimento impostas às empresas abrangidas pelo lay-off simplificado. Advogados admitem que a ligeira retoma da economia sentida em julho e agosto adiou o aumento massivo de despedimentos coletivos que se antecipava para outubro. Mas enfatizam: não há razões para respirar de alívio. Há dezenas de processos de despedimento e reestruturações em preparação nos escritórios de advogados, e, ao contrário do que aconteceu até aqui, são agora as grandes empresas a emagrecer as suas estruturas.

Entre março e outubro deste ano mais de 6200 trabalhadores foram abrangidos por despedimento coletivo, revelam os indicadores do Ministério do Trabalho e da Direção-Geral do Emprego e Relações de Trabalho. O número é o mais elevado desde 2014, último ano da troika no país. Mas, chegados a outubro, os advogados até antecipavam um cenário pior, uma vez que cessavam as limitações ao despedimento impostas pelo lay-off simplificado. “O boom de despedimentos foi mais contido do que se esperava”, explica Américo Oliveira Fragoso, coordenador de laboral da Vieira de Almeida. “A recuperação algo inesperada e temporária da economia sentida nos meses de julho e agosto acabou por dar uma esperança de retoma rápida a alguns empresários, que adiaram a decisão de despedir”, acrescenta.

Quer isso dizer que os apoios do Governo estão a conseguir travar a onda de despedimentos? Advogados e empresários consideram que não, até porque os apoios após lay-off abrangeram apenas 56 mil empresas, face às mais de 115 mil apoiadas por aquele incentivo. Mas admitem que há distintas realidades no que toca a apoios.

PEQUENOS AGUARDAM APOIOS

“Até aqui, os despedimentos coletivos foram dinamizados por empresas de micro e pequena dimensão. Esses empresários, que continuam a ter o despedimento coletivo em cima da mesa, adiaram a decisão e aguardam para perceber como será regulamentado o apoio à retoma e como funcionará em 2021”, explica Pedro da Quitéria Faria, especialista em laboral da Antas da Cunha.

O caso das grandes empresas é diferente. “Muitas estão no fim da linha e os apoios atuais não resolvem a sua situação”, diz, admitindo: “Tenho casos de empresas que optaram por devolver os apoios para avançar de imediato para despedimento coletivo.” Outras deixaram terminar as limitações impostas pelo lay-off e anunciaram despedimentos, como é o caso da Sumol+Compal e Global Media, e os processos conhecidos de várias empresas ligadas ao sector da aviação ou serviços associados.

Os números dos despedimentos coletivos de outubro não permitem ainda desagregar os processos iniciados e trabalhadores abrangidos por dimensão da empresa. Mas nos escritórios de advocacia admite-se que, depois de um primeiro pico em abril — com as empresas a reduzir equipas antes mesmo de requerer os apoios —, está em marcha uma “segunda vaga” de despedimentos coletivos. Juntas, as sociedades Vieira de Almeida, PLMJ e Antas da Cunha têm dezenas de processos de despedimento coletivo de empresas de grande dimensão em curso, envolvendo centenas de postos de trabalho. “Já não são despedimentos tão cirúrgicos como na primeira fase, envolvem um número muito maior de trabalhadores, e, se nada mudar em termos económicos ou de apoios, no início do próximo ano vamos ser confrontados com uma dura realidade”, explica Nuno Ferreira Morgado, da PLMJ. Banca, sector farmacêutico, hotelaria, serviços, comércio de contacto com o público e transportes lideram os processos.

António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal, admite que “a situação é de fim de linha para muitas empresas”e antecipa um agravamento do número de despedimentos coletivos no último trimestre do ano. “O balão de oxigénio que foi esta ligeira retoma da economia no verão não trouxe às empresas mais encomendas nem mais procura, e esse cenário não se irá alterar a médio prazo”, explica. Acrescenta que “as empresas estão no limite e não têm como não tomar medidas e reduzir as suas estruturas, adequando-as à quebra de receitas que estão a enfrentar”. As medidas do Governo, diz, “embora corretas no seu desenho, foram sempre insuficientes e tardias” para a realidade das empresas (Expresso)

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