Número
de novas infeções diárias continua muito elevado. Pressão nos hospitais ainda
vai acentuar-se. As projeções estimavam que o número máximo de infeções devido
ao novo coronavírus ocorresse no final deste mês e a análise dos especialistas
da Faculdade de Ciência das Universidade de Lisboa (FCUL) confirma que o pico
desta segunda onda em Portugal foi ultrapassado esta semana. Falta ainda saber
com que velocidade se inicia a descida, uma vez que ter seis mil novos casos
diários continua a representar um enorme risco.
“Será
que agora se forma um planalto ou conseguimos manter a pressão e fazer o Rt
[número médio de pessoas que cada infetado contagia] passar para menos de 1 de
forma sustentada? É altamente importante que isto aconteça porque não é
sustentável permanecer com um nível tão alto de incidência durante muitos
dias”, avisa Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia na FCUL, e um dos
autores das projeções apresentadas ao Governo na última reunião no Infarmed. “A
mobilidade, fruto das restrições em vigor, reduziu-se muito lentamente em
Portugal, abaixo do que aconteceu em países como a Irlanda. Se agora a descida
de casos diários acontecer a uma taxa média de -2%, levamos 34 dias para passar
dos atuais 6 mil para 3 mil casos. Se a descida for de -7%, teremos no fim de
dezembro pouco mais de mil infeções por dia. Isto ilustra a dificuldade em
chegar ao Natal com uma baixa taxa de incidência. É possível mas depende muito
de todos nós.”
11
concelhos no Norte ainda têm mais de 1920 novos casos por 100 mil habitantes, o
dobro do nível de risco extremo
Apesar
de ter sido ultrapassado o pico de infeções, a pressão nos hospitais ainda vai
aumentar. As projeções da FCUL apontam para o máximo de internamentos “na
transição de novembro para dezembro”. Quanto à mortalidade, as perspetivas
“melhoraram” e o pico deverá chegar até à primeira semana de dezembro, “com uma
média diária de 80 mortes”, diz Carmo Gomes. “Esperamos atingir cerca de 6400
mortes covid acumuladas até ao fim do ano. É muito importante ter em mente que,
se não fossem as medidas de contenção da epidemia, a fatura de óbitos covid
seria imensamente mais elevada.” Portugal já passou as 4 mil mortes e mais de
metade ocorreram nos últimos três meses.
O QUE
ACONTECEU AO NORTE?
O
Norte do país, a região mais afetada nesta segunda onda, também atingiu
recentemente o pico de infeções. Embora isso se traduza já em sinais positivos
de abrandamento de novos casos em muitos concelhos, a região continua a ter uma
situação de enorme gravidade. Quase todos os 47 concelhos do país com risco
extremamente elevado de infeção (acima de 960 novos casos por 100 mil
habitantes) são nesta região. E entre eles, segundo os dados da ARS Norte, há
11 com mais de 1920 novos casos por 100 mil habitantes, o dobro do que já é
considerado um risco extremo. “Concelhos com este nível de incidência afetam os
que estão ao lado. Mesmo com as medidas em vigor, um concelho com incidência
baixa acaba por subir quando está ao lado de um que tenha um nível muito alto”,
explica Óscar Felgueiras, matemático e professor da Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto.
Esse
‘contágio geográfico’ conta a história recente do Norte do país: os três
concelhos do Vale de Sousa Norte (Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras), que
chegaram a ter uma média de 3500 novos casos por 100 mil habitantes,
funcionaram como “foco disseminador” do vírus, que se alastrou com muita
intensidade aos municípios vizinhos. Primeiro a Paredes ou Penafiel e depois a
outros locais do distrito do Porto, como Póvoa de Varzim e Vila de Conde, ambos
em situações preocupantes neste momento, além de locais no distrito de Braga,
como Guimarães.
“Os
concelhos de elevada incidência tendem a gerar à sua volta uma mancha mais
carregada”, aponta o matemático, considerando “essencial” não levantar restrições
onde há menos casos. “Os locais com incidência baixa estão em maior risco de
subir do que os que estão no topo. Esses já estão a descer devagar, mas podem
levar mais de um mês para terem menos de 960 novos casos. As medidas estão a
ter efeito, mas qualquer relaxamento pode travar o ritmo de descida.”
A
maioria dos concelhos onde os novos casos mais do que duplicaram em duas
semanas está agora no Centro e Alentejo, onde o cuidado deverá ser redobrado
para evitar uma escalada da epidemia. Só assim será possível que a seguir ao
pico registado esta semana venha a descida desejada no número de novas infeções
diárias (Expresso, texto da jornalista RAQUEL ALBUQUERQUE e INFOGRAFIA CARLOS
ESTEVES)
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