TAP vai reduzir a frota para
85 aviões e sofrer um corte de custos superior a 20%. Haverá saídas para além
da rescisão de contratos. Menos aviões, menos custos, uma redução do número de
trabalhadores, uma TAP capaz de pagar dívidas a partir de 2025, acordos de
empresa revistos e, eventualmente, venda de ativos. O futuro da TAP joga-se
dentro de momentos em Bruxelas, quando o plano de viabilização desenhado pelo
conselho de administração da companhia, liderado por Miguel Frasquilho, com o
apoio da consultora BCG e do Deustshe Bank, for entregue à Direção-Geral da
Concorrência Europeia (DG Comp), a 10 de dezembro.
A estrutura base do plano já
está definida, embora ainda possa sofrer ajustes. É um plano duro e exigente. A
TAP é a única companhia europeia que não está a ser ajudada ao abrigo das
medidas de exceção por causa da covid-19, por isso vai ter de provar que é
sustentável ou fecha. Vai ser proposto, sabe o Expresso, uma redução do número
de aviões para cerca de 85 em 2021, face aos 108 que tinha quando a pandemia
obrigou praticamente todas a aeronaves a ficarem em terra. A esta redução no
número de aviões juntam-se os 15 cuja data de entrega foi renegociada com os
fabricantes e já adiada para mais tarde, quando houver retoma.
REVISÃO DE ACORDOS E CORTES
TRANSVERSAIS
O plano prevê também um corte
de custos com os trabalhadores de 20%, no mínimo. Em 2019, os custos com
pessoal rondavam os €700 milhões. Os cortes vão ser transversais a todos, sem
exceção: pessoal de terra, tripulantes e pilotos. Serão despedidos menos
trabalhadores, se houver uma redução de massa salarial (ainda que temporária),
ou mais, se os cortes forem mais ligeiros. Uma coisa é certa, a TAP pediu ao
Governo autorização para mexer nos acordos de empresa e vai haver mudanças
nesta matéria — como, não se sabe, já que o Código do Trabalho permite a
suspensão da regulação coletiva em caso de crise, mas com o acordo dos
sindicatos. O objetivo da transportadora é ir tão longe quanto possível,
salvando o maior número de empregos.
Um dos acordos que será
revisto é muito provavelmente aquele que foi assinado em 2018 entre o então
presidente da companhia, Antonoaldo Neves, e os pilotos da TAP e que prevê que
cada um deles seja compensado caso os pilotos da Portugália voem por ano um
número de horas acima de 8% dos pilotos da casa-mãe. É o polémico Regulamento
de Recurso à Contratação Externa, que os pilotos da Portugália querem ver
revisto. A TAP pediu também autorização ao Governo para haver um pacote de
pré-reformas voluntárias.
A reunião dos sindicatos com a
administração da TAP poderá decorrer ainda esta semana, e promete ser tensa. A
partir de 2 de dezembro, há encontros com o ministro das Infraestruturas. Não
são as desejadas negociações, pedidas pelos sindicatos, mas haverá espaço para
discutir alguns temas e limar arestas. De qualquer forma, dentro da
administração da TAP há a convicção de que o corte do número de trabalhadores
irá para lá dos mais de dois mil contratados a prazo. Não estarão apenas estes
em risco. A SITAVA, sindicato do pessoal de terra, disse esta semana que já
saíram da TAP, desde março, mais de três mil trabalhadores.
Há ainda muitas questões em
aberto e é provável que, no âmbito das negociações com a poderosa DG Comp,
salte para cima da mesa a possibilidade de a companhia ter de vender ativos e
desfazer-se de operações. Está preparada para isso. A empresa de manutenção que
tem no Brasil, e que no passado tantos milhões deu de prejuízo, é uma das
operações que poderá vir a ser reequacionada e vendida. Outro dos temas que
poderá vir a ser discutido também é a fusão entre a TAP e a Portugália, que
chegou a ser admitida no passado. A Portugália tem custos de trabalho mais
baixos a nível dos pilotos e tripulantes e pode, por isso, vir a fazer parte da
equação. Um dos temas bicudos é o que irá acontecer aos empréstimos que o
Estado fez e vai ainda fazer à TAP. Serão ou não transformados em capital,
esfumando-se? É uma questão altamente relevante, sobre a qual o Governo ainda
não quer falar. Entretanto, o sindicato dos tripulantes veio esta semana
estimar que a TAP poderá precisar de até €4 mil milhões para se reestruturar.
Até agora já entraram nos cofres da companhia mil milhões dos cerca de €1,2 mil
milhões autorizados por Bruxelas (Expresso, texto da jornalista ANABELA CAMPOS)
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