sexta-feira, novembro 27, 2020

TAP vai ‘perder’ 20 aviões e ficar TAPzinha

 


TAP vai reduzir a frota para 85 aviões e sofrer um corte de custos superior a 20%. Haverá saídas para além da rescisão de contratos. Menos aviões, menos custos, uma redução do número de trabalhadores, uma TAP capaz de pagar dívidas a partir de 2025, acordos de empresa revistos e, eventualmente, venda de ativos. O futuro da TAP joga-se dentro de momentos em Bruxelas, quando o plano de viabilização desenhado pelo conselho de administração da companhia, liderado por Miguel Frasquilho, com o apoio da consultora BCG e do Deustshe Bank, for entregue à Direção-Geral da Concorrência Europeia (DG Comp), a 10 de dezembro.

A estrutura base do plano já está definida, embora ainda possa sofrer ajustes. É um plano duro e exigente. A TAP é a única companhia europeia que não está a ser ajudada ao abrigo das medidas de exceção por causa da covid-19, por isso vai ter de provar que é sustentável ou fecha. Vai ser proposto, sabe o Expresso, uma redução do número de aviões para cerca de 85 em 2021, face aos 108 que tinha quando a pandemia obrigou praticamente todas a aeronaves a ficarem em terra. A esta redução no número de ­aviões juntam-se os 15 cuja data de entrega foi renegociada com os fabricantes e já adiada para mais tarde, quando houver retoma.

REVISÃO DE ACORDOS E CORTES TRANSVERSAIS

O plano prevê também um corte de custos com os trabalhadores de 20%, no mínimo. Em 2019, os custos com pessoal rondavam os €700 milhões. Os cortes vão ser transversais a todos, sem exceção: pessoal de terra, tripulantes e pilotos. Serão despedidos menos trabalhadores, se houver uma redução de massa salarial (ainda que temporária), ou mais, se os cortes forem mais ligeiros. Uma coisa é certa, a TAP pediu ao Governo autorização para mexer nos acordos de empresa e vai haver mudanças nesta matéria — como, não se sabe, já que o Código do Trabalho permite a suspensão da regulação coletiva em caso de crise, mas com o acordo dos sindicatos. O objetivo da transportadora é ir tão longe quanto possível, salvando o maior número de empregos.

Um dos acordos que será revisto é muito provavelmente aquele que foi assinado em 2018 entre o então presidente da companhia, Antonoaldo Neves, e os pilotos da TAP e que prevê que cada um deles seja compensado caso os pilotos da Portugália voem por ano um número de horas acima de 8% dos pilotos da casa-mãe. É o polémico Regulamento de Recurso à Contratação Externa, que os pilotos da Portugália querem ver revisto. A TAP pediu também autorização ao Governo para haver um pacote de pré-reformas voluntárias.

A reunião dos sindicatos com a administração da TAP poderá decorrer ainda esta semana, e promete ser tensa. A partir de 2 de dezembro, há encontros com o ministro das Infraestruturas. Não são as desejadas negociações, pedidas pelos sindicatos, mas haverá espaço para discutir alguns temas e limar arestas. De qualquer forma, dentro da administração da TAP há a convicção de que o corte do número de trabalhadores irá para lá dos mais de dois mil contratados a prazo. Não estarão apenas estes em risco. A SITAVA, sindicato do pessoal de terra, disse esta semana que já saíram da TAP, desde março, mais de três mil trabalhadores.

Há ainda muitas questões em aberto e é provável que, no âmbito das negociações com a poderosa DG Comp, salte para cima da mesa a possibilidade de a companhia ter de vender ativos e desfazer-se de operações. Está preparada para isso. A empresa de manutenção que tem no Brasil, e que no passado tantos milhões deu de prejuízo, é uma das operações que poderá vir a ser reequacionada e vendida. Outro dos temas que poderá vir a ser discutido também é a fusão entre a TAP e a Portugália, que chegou a ser admitida no passado. A Portugália tem custos de trabalho mais baixos a nível dos pilotos e tripulantes e pode, por isso, vir a fazer parte da equação. Um dos temas bicudos é o que irá acontecer aos empréstimos que o Estado fez e vai ainda fazer à TAP. Serão ou não transformados em capital, esfumando-se? É uma questão altamente relevante, sobre a qual o Governo ainda não quer falar. Entretanto, o sindicato dos tripulantes veio esta semana estimar que a TAP poderá precisar de até €4 mil milhões para se reestruturar. Até agora já entraram nos cofres da companhia mil milhões dos cerca de €1,2 mil milhões autorizados por Bruxelas (Expresso, texto da jornalista ANABELA CAMPOS)

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