sexta-feira, novembro 27, 2020

Polónia e Hungria nunca estiveram tão perto de roubar o lugar a Portugal

 


Os países do sul da Europa afundam-se no ranking do PIB per capita em 2020. Espanha cai quatro lugares, para 18º. Portugal arrisca perder o 19º. Os dois países que estão a bloquear a chegada da nova vaga de fundos europeus — Polónia e Hungria — são precisamente aqueles que podem roubar o 19º lugar a Portugal no ranking de desenvolvimento europeu, medido pelo PIB per capita em paridades de poder de compra da União Europeia (UE 27).

Menos penalizados pela gripe pandémica, polacos e húngaros nunca estiveram tão perto de ultrapassar os portugueses nesta “competição” pelo bem-estar material, que considera a riqueza gerada por habitante e os preços dos bens e serviços nos 27 países.

Pelos cálculos do Expresso — e tendo por base as mais recentes previsões de outono da Comissão Europeia —, a economia portuguesa poderá afastar-se 1,6 pontos percentuais da média europeia, de 78,6% em 2019 para 77% em 2020.

Portugal será o sexto Estado-membro que mais divergirá da Europa entre os 27 e o pior entre os países menos desenvolvidos. Todos os rivais abaixo de Portugal ou divergem menos ou aproveitam a pandemia para convergirem ainda mais (ver tabela).

Sobretudo os polacos, que enfrentam uma recessão três vezes menos acentuada que os portugueses. Em 2020, deverão saltar de 22º para 20º neste ranking, ao convergirem mais de três pontos num só ano, de 73,2% para 76,3%.

Só uma retoma mais vigorosa da economia portuguesa em 2021 poderá adiar esta ultrapassagem no PIB per capita


A confirmarem-se as previsões, os polacos celebrarão o ano novo a meros 0,7 pontos do objetivo de ultrapassarem o nível de vida português. Note-se que há um ano a distância era superior a cinco pontos e já chegou a ser superior a 30 pontos, quando a Polónia aderiu à UE, em 2004. Nesta década e meia, a Hungria também conseguiu estreitar a diferença para Portugal de mais de 20 pontos para menos de dois (ver texto abaixo).

Só uma retoma mais vigorosa da economia portuguesa em 2021 poderá adiar uma ultrapassagem que se adivinha há vários anos. Mas estas projeções do PIB per capita são extremamente voláteis. Basta lembrar que na passada primavera Bruxelas ainda acreditava que Portugal sofreria uma recessão inferior à média europeia e até aproveitaria a pandemia para convergir com a UE 27 em 2020.

Em 2016, Portugal ainda era a 17ª economia europeia mais desenvolvida, embora já atrás dos rivais de Leste Malta, República Checa, Chipre e Eslovénia. Mas desde 2017 caiu para 19º, após a ultrapassagem da Lituânia e da Estónia. Se não está em 20º é porque a Grécia colapsou, desde a crise das dívidas soberanas, de 14º em 2009 para 25º em 2019.

EUROPA DO SUL A DIVERGIR

A Grécia é o terceiro país menos desenvolvido da UE 27. E até podia ser o segundo mais pobre, não fosse o seu rival direto — a Croácia — a terceira economia mais fustigada pela pandemia, depois de Espanha e de Itália.

Espanha será o país a divergir mais da UE 27 em 2020, cinco pontos num só ano. Afundará, assim, quatro lugares no ranking de desenvolvimento da UE, de 14º para 18º, ficando imediatamente à frente de Portugal após a ultrapassagem de Chipre, Eslovénia, Lituânia e Estónia.

França e Itália também perderão bastante nível de vida face ao padrão europeu em 2020. Os franceses ainda deverão segurar a posição de 10ª economia mais desenvolvida da UE 27 e suster o PIB per capita acima da média europeia. Mas abaixo desta fasquia já caíram os italianos, que deverão perder o 12º lugar para os checos.

Em sentido inverso, Irlanda, Suécia e Lituânia encabeçam o lote das 16 economias que progredirão face à média europeia em 2020, ao enfrentarem recessões comparativamente menos graves. Em particular a Irlanda, que viu a dependência do turismo contrabalançada pelo bom desempenho das exportações das multinacionais lá instaladas, sobretudo nos sectores farmacêutico e dos serviços às empresas (Expresso, texto da jornalista JOANA NUNES MATEUS)

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