sábado, dezembro 16, 2023

Sustentabilidade e transparência dos media preocupam os líderes de informação dos canais nacionais

Se as receitas que as empresas de media geram não forem suficientes para fazer bom jornalismo, como é que o vamos fazer? O exercício da atividade tornou-se muito mais difícil e isso é uma coisa que me inquieta . As palavras de Nuno Santos, diretor-geral da CNN Portugal e de Informação da TVI, surgem num momento crítico para a indústria dos media. Em 2022 foi apresentada pela Comissão Europeia uma proposta de Lei sobre a Liberdade dos Meios de Comunicação Social, com um conjunto de regras para proteger o pluralismo e a independência dos media. O European Media Freedman Act está em fase de negociações e prevê-se que seja aprovado no início de 2024, entrando em vigor seis meses depois em toda a UE.

Independência editorial, aumento da transparência, proteção de conteúdos e fortalecimento da cooperação são os objetivos do documento. As novas regras são consideradas positivas pelos players do setor e vão permitir dar passos importantes, desde que se resolva o problema base do setor: a sua sustentabilidade. Para debater esta temática, a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC) promoveu um encontro entre António José Teixeira, diretor de informação da RTP, Nuno Santos, diretor-geral da CNN Portugal e de Informação da TVI e Ricardo Costa, diretor de Informação da SIC, numa conversa moderada por Rogério Carapuça, Presidente da APDC.

A 8ª sessão do Digital Union, uma iniciativa da APDC e da VdA, analisou os temas europeus do digital e o seu impacto em Portugal, nomeadamente a garantia de independência dos órgãos de comunicação social, a defesa da democracia, a transparência e o papel dos algoritmos e do impacto das grandes plataformas digitais globais.

Na sessão foi referido ser imperativo assegurar uma regulação europeia e nacional independente e com capacidade de resposta. Sobre o tema da tecnologia, não é vista como uma concorrente, mas sim como uma ferramenta incontornável e cada vez mais importante, até face à escassez de recursos humanos que impacta cada vez mais o setor.

O diretor de informação da RTP considerou que tudo o que se puder fazer para trazer mais transparência, autonomia e independência editorial são fatores positivos, que beneficiam a saúde do setor e das empresas. O respeito pelas regras do jogo depende disso. Mas tudo tem a ver com a sustentabilidade dos projetos em que estamos. Isso é bem visível quando olhamos para o mercado .

Sobre a transparência na propriedade dos meios de comunicação social, António José Teixeira refere: Temos de saber que enquadramento tem a produção de informação pelas empresas do mercado. A ideia de que podemos ter atores cuja razão de ser não conhecemos - seja nos capitais, acionistas ou projetos editoriais -, prejudica a saúde dos demais. Era bom sabermos mais sobre alguns projetos, quem são, ao que vêm, que contas têm, como é que sobrevivem , conclui.

Nuno Santos admite que o foco não deve estar no enquadramento legislativo existente ou que possa vir a existir: Um dos desafios é o de termos de lidar com temas que não dominamos, as questões novas . Embora considere positiva na nova regulação europeia, destaca que o maior problema no mercado nacional é o da receita, que impede o trabalho jornalístico . Para Ricardo Costa destaca o papel das grandes plataformas e o que elas passaram a representar, tais como o Instagram: Pomos um post e ele vai chegar ao número de pessoas que o algoritmo do Instagram entende que deve ver aquilo .

É preciso perceber a lógica das plataformas. As plataformas não jogam na ilegalidade, jogam numa coisa ainda mais complicada, porque estão à frente da lei. Andar depressa e partir coisas é o lema da maior parte das empresas tecnológicas , reforça. Negar a tecnologia é absurdo e para o jornalismo também. O jornalismo foi sempre alterado, melhorado e condicionado pelas alterações tecnológicas ao longo da história. A questão está em saber manter um jornalismo útil e diferenciado, não é negando a tecnologia", remata (Lider)

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