PS primeiro, PSD um pouco abaixo, indecisos logo a seguir. Na primeira sondagem pós-crise política feita pelo ICS-ISCTE para o Expresso e a SIC, as cruzes nos boletins de voto entregues presencialmente a 803 inquiridos mostram um elevado número de eleitores que adiam para mais tarde a sua decisão sobre em que partido votar nas legislativas antecipadas de 10 de março de 2024. Nos resultados em bruto, ainda sem qualquer distribuição de indecisos, estes são os números: 22% para os socialistas, 18% para os sociais-democratas e 17% de indecisos — bem acima dos 11% de inquiridos que agora declararam votar no Chega.
Como votaria se as eleições legislativas fossem hoje (com os dois cenários de liderança no PS)?
A forte preponderância deste grupo de eleitores obriga a encarar esta sondagem como uma simples fotografia na casa de partida para as eleições. Dito de outra forma, indicia que os resultados podem ser tão ou mais imprevisíveis do que antes das legislativas de 2022, quando (dizem os estudos pós-eleitorais) um em cada quatro eleitores terá decidido o seu voto nos últimos dias da campanha. Talvez mais agora: é que na sondagem que o Expresso e a SIC publicaram a três meses das legislativas de 2022 eram menos os que se declaravam indecisos naquela altura — apenas 14%, um número que se manteria estável em dezembro e que se reduziria para 11,5% a uma semana do ato eleitoral. A base este ano é, assim, mais alta.
Olhando para os dados entregues ao Expresso pelo ICS-ISCTE, percebe-se como estes 17% podem ter um peso decisivo nas escolhas finais: entre eles, três em cada quatro votaram na eleição de 2022 (75,4%), posicionam-se, em média, quase rigorosamente ao centro (4,9 numa escala de 0 a 10, em que a esquerda é o zero) e só 22% assumem simpatia por um partido específico.
DISPONÍVEIS PARA MUDAR
Trata-se, portanto, de um eleitor-tipo bastante volátil, que consoante os candidatos, propostas e desenrolar da campanha que se seguir pode decidir votar à esquerda ou à direita (contrastando com os que assumem já uma intenção de voto concreta, grupo onde 70% assumem ter simpatia por um partido). A média de idades dos indecisos está nos 49,4 anos, 62% mulheres e 25% têm um curso superior completo.
Já o número de eleitores que assume não querer votar nas legislativas aparece mais baixo neste inquérito do que em dezembro de 2021, um indicador (não definitivo) de alguma mobilização eleitoral. São agora 12%, que comparam com 16% de há dois anos. O perfil destes eleitores é ligeiramente diferente: só 6,8% acabaram por votar nas últimas eleições, são menos os que se posicionam na escala esquerda-direita e ainda menos os que finalizaram um curso superior.
Os brancos e nulos, esses, sobem mais ligeiramente, de 3% há dois anos para 5% agora, sendo tipicamente de desiludidos: apesar do voto nulo ou branco, 70% dizem simpatizar com um partido específico.
O resultado das próximas legislativas é ainda mais imprevisível face à velocidade dos acontecimentos e face às inúmeras variáveis em aberto. Dois elementos ilustram isso mesmo: as entrevistas para esta sondagem foram feitas, na sua maioria, antes do congresso do PSD, que se realizou há duas semanas em Almada — um momento mediático que Luís Montenegro tentou rentabilizar como rampa de lançamento para a campanha do partido; já do lado do PS, as entrevistas ocorreram ainda antes da apresentação das moções de estratégia dos candidatos e mais longe ainda das eleições diretas que se realizam no próximo fim de semana.
Há mais variáveis pela frente que podem mudar o posicionamento dos eleitores. Não se sabe ainda, por exemplo, se o PSD se junta ao CDS numa coligação pré-eleitoral; os partidos ainda não têm programas eleitorais; os debates televisivos estão a dois meses de distância, e até se o caso judicial que abriu esta crise política — a Operação Influencer — pode vir a ter desenvolvimentos com impacto nos resultados (sejam eles negativos ou positivos para o partido hoje no Governo, o PS).
Todos estes fatores podem ter influência direta na decisão de voto destes 17% de eleitores indecisos. Ou mesmo provocar mudança de voto de inquiridos que tenham já a intenção de voto definida. “A ideia que estrutura a convicção de os eleitores mudarem pouco de intenção de voto é antiga e vem do tempo em que a adesão partidária era idêntica à do clube de futebol. Ora, tudo isso terminou: a indiferença em relação aos partidos é hoje muito grande e, frequentemente, a opção é mais baseada em pessoas. E por isso a volatilidade é enorme”, como explica António Salvador, da Intercampus, no livro recentemente lançado sobre sondagens pelo antigo consultor de António Costa Luís Paixão Martins (Expresso, texto dos jornalistas DAVID DINIS e SOFIA MIGUEL ROSA)
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