Politicamente somos um país de hipocrisias, hipócritas e conveniências e manipulações, mais ou menos descaradas que funcionam ao sabor de interesses corporativistas ou da doença crónica de que tudo o que cheira a processos eleitorais nos partidos cheira a comportamentos mafiosos, a falta de lisura e a respeito pelas regras essenciais de um processo eleitorais assente no escrutínio por voto secreto.
Lembram-se, todos sabem, que em dia de eleições de âmbito nacional, fica tudo "parado", incluindo as televisões, as notícias, os sites oficiais de resultados, etc, para que o encerramento das urnas no Continente e na Madeira, pelas 19 horas, não afecte - por via da divulgação de resultados - as preferências dos eleitores dos Açores que ainda têm mais uma hora para votar, dado que devido à diferença horária as urnas ali fecham uma hora depois que no Funchal e Continente.
Sucede - apesar desta prática compreensivelmente aceite e não contestada por ninguém - que o PS assumiu, estranhamente, uma postura "sui generis" no quadro da disputa interna e a eleição do sucessor de António Costa. Não sei se por determinação da Comissão Organizadora do Congresso, se por disposição estatutária, se por um qualquer regulamento eleitoral, os socialistas dividiram a eleição do líder por dois dias, 15 e 16 de Dezembro, havendo distritais em que as secções de voto socialistas até fecharam a horas diferentes.
Ora não é que depois do processo eleitoral no primeiro dia, sexta-feira, 15 de Dezembro, somos confrontados ao início da noite com a divulgação dos resultados em todas as distritais que convocaram os seus militantes para esse dia, esquecendo o PS que no dia seguinte, sábado, 16 de Dezembro, havia mais não sei quantas distritais a votar, incluindo a da Madeira, e que obviamente, qualquer divulgação antecipada de resultados parciais registados noutras distritais/federações pode influenciar as opções dos eleitores das distritais que só votam no dia seguinte. Entretanto, nesse mesmo dia, assistimos a debates nas televisões sobre os sinais dados pelos resultados parciais apurados nesse 1º dia, e notícias em todos os jornais nacionais, impressos ou digitais. A maior Federação, a do Porto, nem tinha ainda votado, tal como outra importante, a de Braga!
Em situações normais este processo, acho eu, até podia ser impugnado e dificilmente não deixariam de mandar repetir. Este comportamento estranho contraria, desde logo, a liberdade de escolha dos militantes e o seu direito à privacidade, como contraria igualmente as disposições existentes, se quiserem a "práxis" eleitoral que perdura desde 1976. Ao não respeitar a diferença de data e horária nas federações, ao invés fomentando a divulgação antecipada de resultados parciais das directas no PS, podemos especular se não estamos perante a eventualidade de tudo isto revelar manipulação deliberada, distorção propositada do desfecho eleitoral, incompetência, o ignorância ou pura e simplesmente estupidez a roçar o anedótico.
A verdade é que as coisas aconteceram tal como aqui relatado. No sábado dia 16 as distritais (ou federações, nem sei como designá-las) já sabiam tudo o que tinha acontecido na véspera em termos de resultados, apenas porque houve um "cérebro" qualquer, quiçá um pacóvio, que deveria respeitar o acto e facto de se tratar de um processo eleitoral, que não é uma bandalheira qualquer. Os militantes são chamados a votar por voto secreto, não de braço-no-ar, para a escolha do novo líder do partido. Não precisa, acho eu, dispensam, penso eu, estas patifarias saloias que podem esconder intenções deliberadas e que suspeito previamente pensadas e executadas. Venha o diabo clarificar tudo isto... Por mim tanto se me dá quem for eleito e como. O que conta será o veredicto nas urnas em Março e esse não se compadece com qualquer há divulgação antecipada de coisa nenhuma, muito menos para condicionar a liberdade de escolha dos eleitores (LFM)
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